Maria inicia sua oração com um louvor intenso, que brota do mais íntimo, onde se integram as emoções e as convicções (v.46-47). Qual a razão desta incontida alegria? Deus olhou para sua condição social: jovem, mulher, da desconhecida Nazaré, na Galiléia (v.48). Maria reconhece com gratidão que Deus fez nela maravilhas (v. 49). E aí reside o segredo da humildade: não em autodesvalorização, mas sim em uma percepção real do que somos, agradecendo a Deus por tanta graça recebida. A pessoa humilde, como Maria, não ignora suas qualidades; e sim as coloca à disposição dos outros.
A oração de Maria começa na interioridade, na alma, no espírito, no coração, e dali se expande. Sai de si mesma, louvando a Deus pela misericórdia que se prolonga “de geração em geração”, na história de seu povo, no atual momento e no futuro (v.50). Ecoa nela a fé bíblica que o amor de Deus é “para sempre”, pois podemos prova-lo tanto na criação como nos fatos (Sl 136).
A seguir, baseada no cântico de Ana e antecipando as Bem-aventuranças e os alertas de Jesus (Lc 6,20-26), Maria proclama que Deus faz uma grande mudança na realidade social. A boa nova de Jesus tem repercussão estrutural. Exige uma mudança na distribuição dos bens produzidos e do exercício do poder (v.51-53). Embora utilizando a imagem da inversão, não propõe simplesmente uma mudança de posição, e sim novas relações.
Por fim, Maria recorda que este tempo novo do Messias, que se inaugura com ela, é a realização da promessa a Abraão (v.54-55). Este homem, símbolo da fé do povo de Israel, confiou radicalmente em Deus, deixou sua segurança para trás e saiu em busca de nova terra.
Portanto, o cântico de Maria resume os diversos elementos da oração cristã: louvor, ação de graças, recordação, súplica, reconhecimento da ação de Deus no coração de cada pessoa e na sociedade. Situada no presente, faz memória e abre-se de forma esperançada para o futuro. Maria, ensina teu povo a rezar!
Fonte: Afonso Murad, Folheto O Domingo, 28/05/17
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