Quando eu era criança, cantava: “Ó Maria, concebida sem pecado original/ Quero amar-vos toda a vida,
com ternura filial”. Mas eu não entendia bem o que era este tal pecado, que
não me parecia nada original. Afinal, se Adão e Eva fizeram uma coisa errada no
passado, o que temos a ver com isso? Depois compreendi que essa música fala de
algo atual, que marca a humanidade. Cada um de nós, e toda a comunidade humana,
experimentamos o mistério do mal. Quantas vezes a gente quer fazer o bem, ser
inteiro nas decisões, perdoar, exercitar a generosidade, lutar para melhorar o
mundo... Mas as nossas realizações ficam abaixo dos bons desejos. Vivemos uma
divisão interior, uma fragilidade, uma tendência ao mais fácil e imediato.
O dogma da Imaculada afirma que Maria, sendo humana como
nós, recebe de Deus uma graça especial, para ser forte diante das tentações do
mal, assumir com inteireza suas decisões e ser proativa. E assim ela fez, como
nos mostra o evangelho: ouviu a palavra, guardou no coração e frutificou. A
graça de Deus, quando atua no ser humano, é sempre uma estrada de duas mãos. De
um lado, o Senhor nos oferece sua presença irradiante, que purifica, perdoa,
fascina, integra e convoca para a missão. De outro lado, a gente responde, ao
viver na fé, na esperança e no amor solidário. Portanto, o dogma da Imaculada
não fala somente de um privilégio de Maria, mas sim da vitória da graça de Deus
nela. E isso tem enorme valor para toda a humanidade. Mostra que o mais
original no ser humano não é o pecado, a mediocridade, as sombras, mas sim o
dom de Deus, a criatividade, a luz.
Desde o início Deus nos chama para a comunhão com ele. Assim
já experimentaram os profetas: “Antes de saíres do ventre de tua mãe, eu te
conhecia, e te consagrei (Jr 1,5)”; “O senhor me chamou desde o ventre materno
(Is 49,1)”. Maria, mais do que ninguém, viveu esta inteireza da resposta a Deus:
“Um coração que era sim para a vida/ Um coração que era sim para o irmão. Um
coração que era sim para Deus, Reino de Deus renovando este chão!”.
Como é bom celebrar a festa da Imaculada no tempo do
Advento. Assim, recordamos que Maria foi preparada por Deus para a missão de
mãe, educadora e discípula de Jesus. E que ela também se preparou, cultivando o
amor e interpretando os Sinais divinos na história do seu povo. Com José, viveu
o tempo de espera da gravidez e a alegria do nascimento.
Que Maria imaculada nos prepare para o natal. Que a nossa
casa e o nosso coração sejam como o presépio que acolhe o Deus-menino. Belém é
aqui e agora. Junto com a multidão de homens e mulheres de toda a Terra nos
alegramos porque o Senhor visitou definitivamente este mundo, com uma luz que
não conhece o ocaso. Assumiu, com sua encarnação, a nossa bela e frágil
história humana. Santificou todos os seres. Por isso, cantamos: “Glória a Deus
nas alturas, e paz para a humanidade e cuidado com a Terra!” Amém!