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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Aparição marianas recentes

Dom Rafael Maria da Silva, beneditino

Recentemente a Igreja se viu no dever de tomar uma posição sobre o caso das supostas mariofanias em Medjugorje que desde 1981 vem ocorrendo a seis videntes na Bósnia-Herzegovina. Foi formada uma Comissão de teólogos para aprofundarem tal fenômeno a 18 de Dezembro de 2009. A necessidade de formar uma Comissão Teológica entra nos parâmetros de documentos emanados pela Santa Sé a este respeito. Muitos são os frutos decorrentes de Medjugorie, mas também muitas polêmicas surgiram, levando a séria confusão e, porque não dizer, escândalos envolvendo eclesiásticos locais e internacional, assim como surgiram posições contra e a favor da suposta aparição.
Três recentes mariofanias foram aprovadas pela Igreja. Isto quer dizer que se pode encontrar nestes fenômenos a ação do Espírito de Deus a favor de sua Igreja, porque condizentes com a Palavra de Deus, a Tradição da Igreja e a voz do Magistério. As aparições reconhecidas são: Laus nos Alpes francês, Kibeho em Ruanda na África e em Champion nos USA.

As aparições da Virgem em Laus a venerável Benedita Recurel ocorreram em 1644 e duraram cerca de 54 anos até a morte da vidente em 1718. Caso excepcional (!) e quem sabe iluminante para os que criticam as supostas aparições de Medjugorje que acontecem a cerca de trinta anos. Em Laus, as aparições foram uma formação cristã pessoal para vidente e comunitária para os fiéis. A vidente demonstrou ao longo dos cinquenta anos de experiencia com a Virgem Mãe de Deus um crescimento na fé, na esperança e na caridade, fruto de uma ação contínua do Espírito Santo. Estas aparições foram estudadas por duas vezes e na última é que foi reconhecida oficialmente pelo episcopado local em 24 de Maio de 2008.
Em Kibeho, as aparições ocorreram a seis jovens videntes africanos em 1981 e terminaram em 1996. Destes seis jovens, o episcopado ruandês achou por bem reconhecer somente três deles por considerarem autênticos no comportamento de fidelidade à Igreja e das mensagens. Os outros três estão ainda a ser aprofundados. Os elementos proféticos, característica de quase todas as mariofanias estão presentes nas aparições de Kibeho. Aqui a Virgem Maria anuncia o caminho da conversão e da oração para evitar o genocídio que infelizmente ocorreu em 1994 onde cerca de 3. 070.000 pessoas morreram por causa de rivalidades tribais. Ainda, a Virgem Maria, se designando como «Mãe do Verbo», revigora uma antiga devoção local, o «Rosário das Sete Dores de Maria»… Se pode dizer que as aparições da Virgem em Kibeho possuem elementos de inculturação local ao qual a diferencia das aparições europeias, isto é modo de se expressar, seus gestos e a modalidade dos êxtases. Um detalhe curioso é a cor com que a Virgem, Mãe do Verbo aparece em Kibeho, não é de cor negra como a cor própria dos africanos, mas uma cor «negra» diferente, segundo os videntes, um negro transfigurado na ressurreição do Senhor.

Os bispos africanos de Ruanda se viram no dever de estudarem com todos os elementos necessários para poder dar uma resposta sábia e coerente ao povo local e mundial sobre os fenômenos ali acontecidos. Estas aparições foram aprovadas pelo episcopado ruandês em  2001.
Com Decreto de 8 de Dezembro de 2010 o bispo de Green Bay, Mons. David Ricken aprovou três aparições da Virgem Maria ocorridas em 1859 a Adele Brise, uma jovem imigrante belga, solicitando-a ao trabalho na conversão dos pecadores.
Para a América Latina no século XX duas aparições marianas foram aprovadas pelos bispos locais: Finca Betânia (Venezuela) aprovada em 28 de Novembro de 1987 e a San Nicolas (Argentina) a aprovação parcial em 28 de Outubro de 1988 com a construção do santuário, publicação das mensagens e liberdade do culto.
(Fragmento de um texto do autor).

domingo, 26 de junho de 2011

O Vaticano e Aparições recentes

Reportagem Andrea Tornielli, publicada no síte Vatican Insider, 13-06-2011. Tradução de Moisés Sbardelotto.


No dia 25 de junho, completam-se os 30 anos das aparições marianas em Medjugorje. Do que se trata? As aparições de Medjugorje começaram em 1981, quando alguns jovens do pequeno país da Bósnia-Herzegovina disseram ter visto Nossa Senhora. Alguns deles, 30 anos depois, afirmam ainda ter uma aparição diária. A característica totalmente nova dessas aparições está no fato de que a visão não está ligada a um lugar, mas ocorre em todos os lugares em que os videntes se encontram.

As aparições de Medjugorje são aprovadas pela Igreja? Não, o julgamento desses aparições ainda está pendente. O papa, dado o porte internacional do fenômeno e a discordância de pareceres entre o bispo local e outros bispos do país, nomeou uma comissão internacional, confiando-lhe a liderança ao cardeal Camillo Ruini, para avaliar os testemunhos e manifestar um julgamento. Esse também é um fato totalmente excepcional: o reconhecimento de uma aparição cabe ao julgamento do bispo local.

Quantas são as aparições marianas e quais são as principais entre as que são reconhecidas oficialmente pela Igreja Católica? Nos 20 séculos de história cristã, contam-se cerca de duas mil indicações relativas a aparições marianas que tiveram uma certa relevância histórica. As que são reconhecidas pela Igreja nos últimos dois séculos são apenas uma dezena. As mais importantes entre as reconhecidas são: Guadalupe, no México (1531); Rue du Bac, em Paris (1830); La Salette, na França (1846); Lourdes, na França (1858); Fátima, em Portugal (1917); Banneux, na Bélgica (1933); Amsterdã, na Holanda (1945); Akita, no Japão (1973); Kibeho, em Ruanda (1981).

Qual é a atitude da Igreja diante desses fenômenos? Muito prudente, ou melhor, muito prudente mesmo. Antes de se pronunciar, a autoridade eclesiástica procede com pés de chumbo. O bispo do lugar, se considera que há pressupostos, geralmente institui uma comissão teológica, que interroga os videntes e avalia os testemunhos, avaliando também eventuais mensagens ligadas à aparição.

Quais são os critérios utilizados pela Igreja para apurar a autenticidade de uma aparição? A credibilidade dos videntes: jamais devem se contradizer, seus relatos devem ser coerentes, devem ser reconhecidos saudáveis do ponto de vista mental. Em segundo lugar, a ortodoxia das eventuais mensagens, que devem estar de acordo com a mensagem evangélica e também com o magistério da Igreja. Finalmente, os frutos, ou seja, as conversões e as eventuais graças ligadas ao lugar da aparição.

Que julgamento o bispo pode dar no fim do processo? Estão previstas três fórmulas para três diferentes tipos de julgamento. Se a autoridade eclesiástica chega a verificar que se tratou de uma fraude ou até da fantasia de algum visionário, o julgamento é "constat de non supernaturalitate", isto é, consta a não sobrenaturalidade. Se, ao contrário, o julgamento é interlocutório e não foi possível apurar a veracidade, mas nem desmenti-la, se adota a fórmula "non constat de supernaturalitate", isto é, não consta a sobrenaturalidade, mas isso não exclui que possa ser verificada em um segundo momento. Esse último julgamento foi utilizado para Medjugorje.

Qual foi a aparição mariana que durou mais tempo? A poucas dezenas de quilômetros da fronteira com o Piemonte, nos Alpes Marítimos de Dauphiné, em Laus, entre 1664 e 1718, Nossa Senhora apareceu por 54 anos a uma pobre pastora analfabeta, Benoite Rencurel. As aparições de Laus foram reconhecidas oficialmente no dia 13 de junho de 2008 pelo bispo de Gap et d'Embrun, Dom Jean-Michel di Falco-Leandri.

Um fiel católico deve acreditar nas aparições marianas reconhecidas oficialmente pela Igreja? Não, o fiel católico não é obrigado a acreditar nas aparições marianas, embora reconhecidas oficialmente. A Igreja considera concluída a revelação pública com a morte dos apóstolos e, portanto, todas as aparições, todas as mensagens posteriores, mesmo que tenham um valor universal, são consideradas revelações "privadas", as quais o fiel não é obrigado a acreditar, porque não acrescentam nada à mensagem evangélica e ao magistério da Igreja.

Por que, de acordo com os teólogos católicos, Nossa Senhora se revelaria em tantas aparições? O significado é o da ajuda, do apoio, às vezes da advertência, sempre acompanhado pelo convite à oração e à conversão: em Fátima, Nossa Senhora apareceu às vésperas da Revolução de Outubro e falou sobre a Rússia. Em Kibeho, em Ruanda, com dez anos de antecedência, ela apresentou aos videntes a visão de lagos e rios de cor vermelho como sangue, cenários que se verificariam por ocasião dos tremendos confrontos entre as etnias hutu e tutsi.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Aparições: um alerta!

Faz alguns anos, escrevi um livro intitulado “Visões e Aparições. Deus continua falando?”, publicado pela Editora Vozes. Nesta obra, apresento o fenômeno sob vários ângulos: psicológico (e parapsicológico), sócio-cultural, teológico e pastoral. Para escrever o livro, empreendi um longo e penoso trabalho de escuta atenta e humilde. Li o que encontrei sobre a análise teológica do evento e os critérios eclesiais de discernimento. Tive acesso a livros e manuscritos com mensagens de videntes do Brasil e do exterior. Mediante pedidos, vi filmagens de várias pretensas aparições. Visitei alguns videntes e conversei com pessoas que eram defensores incondicionais do fenômeno. Conversei com teólogos e místicos.
A conclusão a que cheguei é que as chamadas “Aparições” movem-se no campo da atualização da revelação e das múltiplas formas de expressão da experiência mística. Por isso mesmo, são denominadas na teologia clássica católica como “revelações privadas”, mesmo que aconteçam para uma multidão de milhares de pessoas. E como tal, merecem respeito e consideração.
A vidência, como outros fenômenos místicos paranormais, pode ser um serviço à comunidade eclesial e ao mundo, enquanto interpretação e atualização da mensagem de Jesus, a revelação plena do Pai para os cristãos. Mas não tem força de obrigação para ninguém. Por isso, nenhum cristão católico é obrigado a crer em aparições, mesmo aquelas reconhecidas pela Igreja, como Guadalupe, Fátima e Lurdes. O parecer oficial da autoridade eclesial é claro: o fenômeno e sua mensagem é “digno de fé humana”, ou seja: não se trata de uma verdade que obrigue os fiéis. Mas, se alguém quer acolher a mensagem dos videntes e reverenciar Maria com o nome que eles lhe deram, pode fazê-lo com serenidade.

Fazia tempo que não me dedicava mais a pesquisar sobre o assunto. No ano passado, fui procurado por uma repórter do revista VEJA, que fazia uma cobertura sobre o assunto. Neste ano, foi a vez da ISTO É. Então, voltei a ler sobre o tema, com um pouco mais de distanciamento. Comecei também a pesquisar na Internet, pois muitos videntes divulgam as mensagens na WEB. E trabalhei com meus alunos sobre isso na aula de mariologia.
Um dos problemas mais complicados para o discernimento atual sobre as aparições diz respeito à sua continuidade no tempo. Até o fenômeno de Fátima, os videntes tinham uma experiência sensível, traduzida em mensagens, que se encerrava após um curto período. No caso dos videntes portugueses, as “revelações” aconteceram de maio a outubro do mesmo ano e depois acabaram. Assim, foi possível analisar a mensagem e dar um parecer oficial. Ora, nos casos atuais, as pretensas aparições não terminam. Maria “fala” a cada semana, com hora marcada, para videntes de várias partes do mundo. Ora, isso levanta algumas perguntas sérias: não seria uma banalização do sagrado? Como emitir um parecer eclesial sobre um fenômeno que ainda está acontecendo? Que qualidade espiritual tem um conjunto de visões e mensagens, que ano após ano, repete sempre a mesma cantilena: “rezem o terço, participem dos sacramentos, façam penitência...”? A história recente da humanidade traz novas questões: ecologia, diálogo ou intolerância religiosa, cultura da imagem, crise econômica em algumas partes do mundo, acentos na experiência religiosa, questões de gênero, mas as mensagens mudam muito pouco. Será que Maria não tem nada a dizer sobre isso? As mensagens dos videntes atuais são mais fracas naquilo que deveria ser seu diferencial qualitativo: uma atualização significativa da revelação de Deus, em Cristo, para os dias de hoje.

O que é mais grave é que alguns movimentos aparicionistas vendem a ilusão de que suas mensagens são as únicas corretas e perfeitas, pois são comunicação direta do céu, sem se contaminar com as ideologias humanas. Eu mostrei no livro, com várias evidências, como as mensagens dos videntes sofrem uma série de influências e estão submetidas a vários condicionamentos. Não levar isso em conta é correr o sério risco de divinizar manifestações humanas de pouca consistência espiritual.
Se a Bíblia, Palavra de Deus em linguagem humana, não pode ser lida de forma literal, mas necessita de uma interpretação, com muito mais razão se exige isso das mensagens de videntes.

No mês de junho acessei várias páginas da internet de movimentos aparicionistas. A impressão que tive é que há uma degeneração espiritual em muitos deles. Ou seja, perde-se o núcleo da experiência religiosa cristã, que é o seguimento de Jesus, e acontece um acento unilateral em práticas devocionais, mescladas com uma mentalidade apocalíptica baseada no medo. Num dos sites que visitei, havia uma recomendação do vidente (que ele atribui a Maria) para confeccionar um “lencinho de Nossa Senhora”, que seria a arma mais poderosa para preparar os católicos diante da eminência do fim do mundo. Em outro site, encontrei um título animador: “como rezar”. Respirei aliviado. Imaginei que seriam algumas dicas sobre a leitura com a bíblia, sobre a revisão de vida, ou alguma orientação concreta para orar no cotidiano, com suas alegrias e tristezas, decepções e conquistas. Ao abrir o tema, outra decepção: era simplesmente uma colagem com as orações tradicionais católicas (Pai Nosso, Ave Maria, Credo), seguidas de outras orações vocais de conteúdo duvidoso. E tudo atribuído a Maria. Que estranho: Maria ensinaria somente a rezar com fórmulas? Todo o movimento de rezar com o coração, de maneira espontânea, não tem valor? E a oração com a bíblia seria desconhecida por ela?

Registro aqui este alerta, eivado de perplexidade e indignação. Nem tudo o que acontece no âmbito do extraordinário é o melhor caminho para viver o Evangelho de Jesus. Espero que os movimentos aparicionistas cresçam em lucidez. Não basta uma religiosidade intensa. Ela necessita equilíbrio, diálogo e centramento em Jesus e o seu Reino, com suas mediações históricas limitadas e imperfeitas. Ignorar isso é não levar em conta o mistério da encarnação, questão central para a fé cristã.