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terça-feira, 2 de maio de 2017

Maria: discípula, mãe e irmã (Segundo Agostinho)

Peço-vos que repareis no que diz o Senhor ao estender a mão para os seus discípulos: Estes são minha mãe e meus irmãos e Quem fizer a vontade de meu Pai, que Me enviou, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Porventura não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que acreditou pela fé e concebeu pela fé, que foi escolhida para que d’Ela nascesse a salvação entre os homens e que foi criada por Cristo antes de Cristo ter sido criado n’Ela? Maria cumpriu, e cumpriu perfeitamente, a vontade do Pai; e, por isso, Maria tem mais mérito por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo; mais ditosa é Maria por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo. Portanto, Maria era bem aventurada, porque, antes de dar à luz o Mestre, trouxe O no seio.

Vê se não é como digo. Passava o Senhor, acompanhado da multidão e fazendo milagres divinos. E uma mulher exclamou: Bem aventurado o ventre que Te trouxe. Ditoso o ventre que Te trouxe. E o Senhor, para que se não buscasse a felicidade na natureza material da carne, que respondeu? Mais felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática. Por isso também Maria era feliz porque ouviu a palavra de Deus e a pôs em prática; guardou mais a verdade de Cristo na sua mente do que o corpo de Cristo no seu seio. Cristo é verdade; Cristo é carne. Cristo é verdade no espírito de Maria, Cristo é carne no seio de Maria; é mais o que está no espírito do que o que se traz no seio.

Maria é santa, Maria é bem aventurada. Mas é mais importante a Igreja do que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é uma parte da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas apesar disso membro do corpo total. Se é membro do corpo, é certamente mais o corpo do que o membro. A cabeça é o Senhor, e Cristo total é a cabeça e o corpo. Que mais direi? Temos no corpo da Igreja uma cabeça divina, temos a Deus por cabeça.

Reparai, portanto em vós mesmos, irmãos caríssimos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede como o sois, quando Ele diz: Eis minha mãe e meus irmãos. Como sereis mãe de Cristo? Todo aquele que ouve e pratica a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Quando diz «irmãos» e «irmãs», fala evidentemente da mesma e única herança. É uma só, na verdade, a herança. Por isso, a misericórdia de Cristo, que sendo único não quis ficar só, fez de nós herdeiros do Pai e herdeiros consigo.

Fonte: Sermões de Santo Agostinho,  Sermo 25, 7-8: PL (Patrística Latina) 46, 937-938)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Maria em Santo Agostinho

Dom Vital, bispo de Marabá

Dia 08 de dezembro celebramos a festa da Imaculada Conceição. O Vaticano II tomou muito de Santo Agostinho (354-430) a respeito de Maria Imaculada, bem como a concepção de Igreja, esposa de Cristo, chamada a viver a situação de Maria no mundo de hoje. A seguir vejamos alguns dados vindos dos discursos agostinianos sobre Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja.

1.Maria fez a vontade do Pai

Agostinho fala da grandeza de Maria como aquela que fez a Vontade do Pai. Em dois discursos(25,7-8; 72A, 7-8) falou o bispo de Hipona a respeito da importância de Maria na vida do Senhor e na Igreja. Interpretando o evangelista e apóstolo Mateus(cf. Mt 12, 49-50) na qual alguém fez notar a Jesus que sua mãe e seus irmãos estavam de fora perguntou Jesus quem seriam tais pessoas e apontando aos discípulos afirmou que sua mãe e seus irmãos são aqueles que fazem a vontade do seu Pai que está nos céus, sendo dessa forma irmão, irmã e mãe em Jesus Cristo. Para Agostinho a Virgem Maria fez a Vontade do Pai, na qual foi concebida, escolhida pelo Pai porque dela a salvação nascesse para nós entre os seres humanos e foi criada por Cristo antes que Cristo viesse criado nela. Maria fez a vontade do Pai ao dizer sim ao seu plano de salvação de modo que o seu Filho pudesse vir a este mundo para salvá-lo de seus pecados. 

2. A sua santidade

Maria é percebida como santa porque cumpriu inteiramente a Vontade do Pai, de modo que conta mais a sua situação de discípula de Cristo que ser sua mãe. Maria viveu o discipulado no Senhor, manifestando uma sua vida de santidade. Ela é bem aventurada porque antes de dar o Mestre na carne, o levou no seio. Maria foi feliz porque antes de dar à luz ao Senhor, o trouxe na mente. E para dar uma maior demonstração, Agostinho tem presentes a atuação de Jesus Cristo que sendo acompanhado pelas multidões e realizando milagres divinos percebeu uma mulher ao exclamar-lhe: bem-aventurado foi o seio que trouxe Jesus ao mundo e também o seu ventre(cf. Lc 11,27). O Senhor Jesus diz a ela e para todos os seus discípulos, discípulas que muito mais felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam em seu coração(cf. Lc 11,28). 

3. Ouvir e guardar a Palavra

Para Santo Agostinho, Maria é feliz, bem-aventurada, porque não só ouviu a Palavra de Deus mas a guardou no seu interior. Ela viveu a verdade de Deus no coração mais que a carne no seio. Para ela, é Cristo a verdade no seu coração porque se tornou pessoa humana no seu seio. Maria foi uma mulher que guardava tudo em seu coração, meditando as maravilhas do Senhor realizadas através dela, sua serva. 

4. O ser de Maria: Imaculada Conceição 

A Virgem Maria precedeu a Igreja como sua figura. Na obra Primeira Catequese aos não Cristãos (XXII,40) afirmou Agostinho que Jesus nasceu de uma Virgem chamada Maria que viveu esta realidade não só na concepção, mas no parto e até a morte iluminando dessa forma a vida da Igreja. 
Maria foi concebida sem o pecado original por graça de Deus. A Igreja deve seguir os passos de Maria ainda que neste mundo haja as deficiências, as limitações, os pecados junto com a graça do Senhor. No entanto é maior a graça que o pecado. Um dia viveremos livres do pecado de modo que também nós seremos por graça do Senhor, imaculados. Assim é Maria mãe de Cristo pelo fato de dar à luz os membros de Cristo, que somos todos nós. Maria é porção da Igreja, membro excelente, membro do corpo total. A cabeça é o Senhor, diz Agostinho. Por sermos membros de Cristo, a Igreja nos acolheu pelo batismo como seus membros de modo que fomos levados à luz da verdade, que é Jesus Cristo. Esta mãe santa, digna de honra, semelhante a Maria, dá a luz e é virgem, porque o dom vem de Deus. 

5. Maria é a advogada de Eva

Os Padres da Igreja tiveram bem presentes a queda do primeiro Adão e a graça do segundo Adão, Jesus Cristo, doutrina bem desenvolvida no Apóstolo Paulo. Da mesma forma, dirão os Padres em relação à primeira e a segunda mulher. Agostinho seguiu os padres anteriores, sobretudo Justino, Tertuliano, Orígenes em relação à Eva e a Maria. Se por meio de uma mulher(Eva) a morte caíra sobre nós, por meio de outra mulher(Maria) a vida ressurgiu em nós. em modo que o diabo fosse vencido em relação à uma e outra natureza, masculina e feminina com a presença do Senhor Jesus, vencedor da morte e do pecado pela cruz e sua ressurreição. 

Conclusão 

Santo Agostinho expressou bem o mistério da Imaculada Conceição da Virgem Maria, Mãe de Deus, sem o pecado por graça do Senhor. Maria leva nossos pedidos ao seu Filho Jesus Cristo. Agostinho estimula às pessoas para que vivam como Maria, mulher meditativa, orante e disposta a servir as pessoas, sobretudo os pobres. Ela viveu a graça de Deus na simplicidade e no amor. Ela nos ensina a superar o mistério do mal e do pecado, em nossas vidas tanto na família, como na comunidade e na sociedade uma busca de conversão contínua ao Senhor Jesus, aos outros e conosco mesmos. Maria ajuda-nos a servir as pessoas na pessoa de Jesus Cristo fazendo sempre a vontade de Deus Uno e Trino.