segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Imaculada Conceição: o bom começo

Quando eu era criança, cantava: “Ó Maria, concebida sem pecado original/ Quero amar-vos toda a vida, com ternura filial”. Mas eu não entendia bem o que era este tal pecado, que não me parecia nada original. Afinal, se Adão e Eva fizeram uma coisa errada no passado, o que temos a ver com isso? Depois compreendi que essa música fala de algo atual, que marca a humanidade. Cada um de nós, e toda a comunidade humana, experimentamos o mistério do mal. Quantas vezes a gente quer fazer o bem, ser inteiro nas decisões, perdoar, exercitar a generosidade, lutar para melhorar o mundo... Mas as nossas realizações ficam abaixo dos bons desejos. Vivemos uma divisão interior, uma fragilidade, uma tendência ao mais fácil e imediato.

O dogma da Imaculada afirma que Maria, sendo humana como nós, recebe de Deus uma graça especial, para ser forte diante das tentações do mal, assumir com inteireza suas decisões e ser proativa. E assim ela fez, como nos mostra o evangelho: ouviu a palavra, guardou no coração e frutificou. A graça de Deus, quando atua no ser humano, é sempre uma estrada de duas mãos. De um lado, o Senhor nos oferece sua presença irradiante, que purifica, perdoa, fascina, integra e convoca para a missão. De outro lado, a gente responde, ao viver na fé, na esperança e no amor solidário. Portanto, o dogma da Imaculada não fala somente de um privilégio de Maria, mas sim da vitória da graça de Deus nela. E isso tem enorme valor para toda a humanidade. Mostra que o mais original no ser humano não é o pecado, a mediocridade, as sombras, mas sim o dom de Deus, a criatividade, a luz.

Desde o início Deus nos chama para a comunhão com ele. Assim já experimentaram os profetas: “Antes de saíres do ventre de tua mãe, eu te conhecia, e te consagrei (Jr 1,5)”; “O senhor me chamou desde o ventre materno (Is 49,1)”. Maria, mais do que ninguém, viveu esta inteireza da resposta a Deus: “Um coração que era sim para a vida/ Um coração que era sim para o irmão. Um coração que era sim para Deus, Reino de Deus renovando este chão!”.
Como é bom celebrar a festa da Imaculada no tempo do Advento. Assim, recordamos que Maria foi preparada por Deus para a missão de mãe, educadora e discípula de Jesus. E que ela também se preparou, cultivando o amor e interpretando os Sinais divinos na história do seu povo. Com José, viveu o tempo de espera da gravidez e a alegria do nascimento.


Que Maria imaculada nos prepare para o natal. Que a nossa casa e o nosso coração sejam como o presépio que acolhe o Deus-menino. Belém é aqui e agora. Junto com a multidão de homens e mulheres de toda a Terra nos alegramos porque o Senhor visitou definitivamente este mundo, com uma luz que não conhece o ocaso. Assumiu, com sua encarnação, a nossa bela e frágil história humana. Santificou todos os seres. Por isso, cantamos: “Glória a Deus nas alturas, e paz para a humanidade e cuidado com a Terra!” Amém!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Maria em Santo Agostinho

Dom Vital, bispo de Marabá

Dia 08 de dezembro celebramos a festa da Imaculada Conceição. O Vaticano II tomou muito de Santo Agostinho (354-430) a respeito de Maria Imaculada, bem como a concepção de Igreja, esposa de Cristo, chamada a viver a situação de Maria no mundo de hoje. A seguir vejamos alguns dados vindos dos discursos agostinianos sobre Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja.

1.Maria fez a vontade do Pai

Agostinho fala da grandeza de Maria como aquela que fez a Vontade do Pai. Em dois discursos(25,7-8; 72A, 7-8) falou o bispo de Hipona a respeito da importância de Maria na vida do Senhor e na Igreja. Interpretando o evangelista e apóstolo Mateus(cf. Mt 12, 49-50) na qual alguém fez notar a Jesus que sua mãe e seus irmãos estavam de fora perguntou Jesus quem seriam tais pessoas e apontando aos discípulos afirmou que sua mãe e seus irmãos são aqueles que fazem a vontade do seu Pai que está nos céus, sendo dessa forma irmão, irmã e mãe em Jesus Cristo. Para Agostinho a Virgem Maria fez a Vontade do Pai, na qual foi concebida, escolhida pelo Pai porque dela a salvação nascesse para nós entre os seres humanos e foi criada por Cristo antes que Cristo viesse criado nela. Maria fez a vontade do Pai ao dizer sim ao seu plano de salvação de modo que o seu Filho pudesse vir a este mundo para salvá-lo de seus pecados. 

2. A sua santidade

Maria é percebida como santa porque cumpriu inteiramente a Vontade do Pai, de modo que conta mais a sua situação de discípula de Cristo que ser sua mãe. Maria viveu o discipulado no Senhor, manifestando uma sua vida de santidade. Ela é bem aventurada porque antes de dar o Mestre na carne, o levou no seio. Maria foi feliz porque antes de dar à luz ao Senhor, o trouxe na mente. E para dar uma maior demonstração, Agostinho tem presentes a atuação de Jesus Cristo que sendo acompanhado pelas multidões e realizando milagres divinos percebeu uma mulher ao exclamar-lhe: bem-aventurado foi o seio que trouxe Jesus ao mundo e também o seu ventre(cf. Lc 11,27). O Senhor Jesus diz a ela e para todos os seus discípulos, discípulas que muito mais felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam em seu coração(cf. Lc 11,28). 

3. Ouvir e guardar a Palavra

Para Santo Agostinho, Maria é feliz, bem-aventurada, porque não só ouviu a Palavra de Deus mas a guardou no seu interior. Ela viveu a verdade de Deus no coração mais que a carne no seio. Para ela, é Cristo a verdade no seu coração porque se tornou pessoa humana no seu seio. Maria foi uma mulher que guardava tudo em seu coração, meditando as maravilhas do Senhor realizadas através dela, sua serva. 

4. O ser de Maria: Imaculada Conceição 

A Virgem Maria precedeu a Igreja como sua figura. Na obra Primeira Catequese aos não Cristãos (XXII,40) afirmou Agostinho que Jesus nasceu de uma Virgem chamada Maria que viveu esta realidade não só na concepção, mas no parto e até a morte iluminando dessa forma a vida da Igreja. 
Maria foi concebida sem o pecado original por graça de Deus. A Igreja deve seguir os passos de Maria ainda que neste mundo haja as deficiências, as limitações, os pecados junto com a graça do Senhor. No entanto é maior a graça que o pecado. Um dia viveremos livres do pecado de modo que também nós seremos por graça do Senhor, imaculados. Assim é Maria mãe de Cristo pelo fato de dar à luz os membros de Cristo, que somos todos nós. Maria é porção da Igreja, membro excelente, membro do corpo total. A cabeça é o Senhor, diz Agostinho. Por sermos membros de Cristo, a Igreja nos acolheu pelo batismo como seus membros de modo que fomos levados à luz da verdade, que é Jesus Cristo. Esta mãe santa, digna de honra, semelhante a Maria, dá a luz e é virgem, porque o dom vem de Deus. 

5. Maria é a advogada de Eva

Os Padres da Igreja tiveram bem presentes a queda do primeiro Adão e a graça do segundo Adão, Jesus Cristo, doutrina bem desenvolvida no Apóstolo Paulo. Da mesma forma, dirão os Padres em relação à primeira e a segunda mulher. Agostinho seguiu os padres anteriores, sobretudo Justino, Tertuliano, Orígenes em relação à Eva e a Maria. Se por meio de uma mulher(Eva) a morte caíra sobre nós, por meio de outra mulher(Maria) a vida ressurgiu em nós. em modo que o diabo fosse vencido em relação à uma e outra natureza, masculina e feminina com a presença do Senhor Jesus, vencedor da morte e do pecado pela cruz e sua ressurreição. 

Conclusão 

Santo Agostinho expressou bem o mistério da Imaculada Conceição da Virgem Maria, Mãe de Deus, sem o pecado por graça do Senhor. Maria leva nossos pedidos ao seu Filho Jesus Cristo. Agostinho estimula às pessoas para que vivam como Maria, mulher meditativa, orante e disposta a servir as pessoas, sobretudo os pobres. Ela viveu a graça de Deus na simplicidade e no amor. Ela nos ensina a superar o mistério do mal e do pecado, em nossas vidas tanto na família, como na comunidade e na sociedade uma busca de conversão contínua ao Senhor Jesus, aos outros e conosco mesmos. Maria ajuda-nos a servir as pessoas na pessoa de Jesus Cristo fazendo sempre a vontade de Deus Uno e Trino. 

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Quem são a minha mãe e os meus irmãos?

Certa vez, Jesus estava com os seus discípulos e a multidão, anunciando o Reino de Deus com gestos e palavras. Então, alguém lhe disse: “Sua mãe e seus irmãos estão ali fora e querem vê-lo”. Jesus respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a colocam em prática”. Esta cena, narrada em Lucas 8,19-21 traz alguns problemas para os católicos, que desde cedo aprendem a admirar a Maria, principalmente porque ela é a mãe de Jesus. Será que Jesus tratou mal à sua mãe? Ele teria esquecido toda a dedicação de Maria, desde a gravidez até o momento em que Jesus, aos 30 anos, saiu de casa para anunciar realizar sua missão?

Talvez um fato de hoje possa nos ajudar a entender a atitude de Jesus: Luis Carlos é voluntário da Pastoral dos enfermos. Uma vez por semana ele vai aos hospitais visitar os doentes, especialmente aqueles que estão nas enfermarias e não recebem atenção dos familiares e dos amigos. Por cima de roupa ele veste um jaleco branco com a marca da pastoral, e usa também um crachá de identificação. Um dia ele se aproximou de uma mulher que estava sozinha, enquanto suas vizinhas de quarto recebiam os parentes. Quando a mulher viu Luis Carlos chegando, balançou a cabeça e disse: “Você não é da minha religião. Não quero saber de conversa! Vá embora”. Então Luis percebeu que ela precisava de atenção e cuidado. Saiu do quarto, retirou o jaleco e o crachá. Depois voltou e disse para a mulher: “Joana, você aceita a visita de um amigo?” Meio sem graça, ela consentiu. E assim, Luis vinha visita-la toda a semana. Até que um dia, ao chegar, soube que Joana havia ganhado alta.
Meses depois, quando estava no ônibus, alguém lhe bate no ombro. Luis se vira e vê Joana de pé, em boa saúde. Ela olha nos seus olhos e diz emocionada: “Muito obrigado! Você foi para mim um irmão. Quando eu senti muita solidão e nenhum parente veio me visitar, você foi mais do que alguém da família!” E os dois se abraçaram, como irmãos.

Jesus gostava muito de sua família. Ele foi bem educado por Maria, e não faria de jeito nenhum uma desfeita para sua mãe. No entanto, quando Jesus começou a sua missão, ele convocou homens e mulheres para fazer parte de uma nova família. Desta vez, não mais ligada por laços de sangue e de parentesco. Nesta nova família o que importava era “ouvir a palavra e coloca-la em prática”. Ou seja, ser discípulo de Jesus, aprender dele e colaborar com ele para difundir a Boa Notícia do Evangelho. Isso podia ter soado mal para os parentes que não entenderam a proposta de Jesus. Mas, para Maria, a realidade foi outra.
Ela não foi somente a mãe biológica, que concebeu, gerou e educou Jesus com tanto carinho e atenção. Quando Jesus cresceu, ficou adulto e se tornou um homem livre, Maria aderiu ao grupo dos seguidores/as de Jesus. Com outras mulheres, ela acompanhava seu filho e os discípulos nas caminhadas pelos povoados da Galileia. Por isso que o evangelista João conta que na hora da cruz, Maria estava ao lado de Jesus, com outras mulheres e o discípulo amado (Jo 19,25). Maria, que acompanhou Jesus até aquele momento, se tornaria então a mãe da comunidade dos seus seguidores. Ela fez parte tanto da família biológica de Jesus, como também da nova família dos discípulos-missionários.
(Afonso Murad - Publicado na Revista de Aparecida)

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Maria e o cuidado da nossa Casa Comum

O Papa Francisco publicou a Encíclica “Laudato si”, sobre o cuidado da nossa Casa Comum. O título se baseia na primeira frase do Cântico das criaturas, de São Francisco de Assis. Papa Francisco nos convida assim a cantar: “louvado sejas, meu Senhor, por todas as tuas criaturas!”. Ele lança um apelo a toda a humanidade, para mudar de atitudes, a nível pessoal e coletivo. Uma verdadeira conversão ecológica! E, ao final deste documento, o papa se refere a Maria com muito carinho. Vamos ler e meditar.

Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida deste mundo ferido com carinho e preocupação materna. Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora ela se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano.
Maria vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam a sua beleza. É a Mulher «vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Ap12,1). Elevada ao céu, Maria é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza.
Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que «guardava» cuidadosamente (cf.Lc 2,51), mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos pedir-lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar de mais sabedoria (LS 241).

O Papa Francisco também recorda a figura de São José, que é considerada na nossa tradição como homem trabalhador e protetor do menino Jesus e de Maria.

Ao lado de Maria, na sagrada família de Nazaré, destaca-se a figura de São José. Com o seu trabalho e presença generosa, cuidou e defendeu Maria e Jesus e livrou-os da violência dos injustos, levando-os para o Egito.
No Evangelho, José aparece como um homem justo, trabalhador, forte. A sua figura manifesta também uma grande ternura, própria não de quem é fraco mas de quem é verdadeiramente forte, atento à realidade para amar e servir humildemente. Por isso, foi declarado protetor da Igreja universal.
Também Ele nos pode ensinar a cuidar, pode motivar-nos a trabalhar com generosidade e ternura para proteger este mundo que Deus nos confiou (LS 242).

Que José e Maria nos inspirem para cuidar da água, do solo, do ar, das plantas, dos animais e dos seres humanos. Enfim, que sejamos protetores da nossa “Casa Comum”. Maria, mãe da ecologia, rogai por nós!

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Maria e a solidariedade. Homenagem à Vida Consagrada

Faz alguns anos, uma comunidade de religiosas foi enviada para a missão no meio dos pobres, numa cidade no interior do Maranhão. Sua congregação havia nascido para estar próxima dos mais fracos e necessitados. Mas, com o tempo, se concentrou em escolas e pensionatos, em que só entravam as meninas de famílias ricas. A comunidade atual é constituída de três freiras. Helena atua como professora na escola pública do bairro. Heloísa acompanha a pastoral da criança. E Cristina se dedica às outras pastorais sociais. Elas vivem de seu trabalho e colocam tudo o que recebem numa “caixa comum”. As Irmãs estão muito felizes nesta “comunidade inserida nos meios populares”. A vida é exigente; e o dinheiro, curto. Dá para pagar as despesas e sobra só um pouquinho.

Outro dia, um rapaz do bairro, viciado em crack, arrombou a porta da casa das Irmãs e roubou tudo o que encontrou, para com isso comprar a droga. Pegou a comida e o dinheiro. De noite, quando chegaram, as freiras perceberam o que tinha acontecido. As mulheres da vizinhança também logo ficaram sabendo. Foi uma noite de tristeza. Helena, a coordenadora da comunidade disse: “Não sei o que vamos fazer. Estamos sem dinheiro e sem comida. Nós escolhemos estar aqui com o povo e, na medida do possível, ser como ele”. Elas comeram umas laranjas e foram dormir, com fome.

No dia seguinte, bem cedinho, Dona Aparecida veio à casa delas. Trouxe café e broa de fubá, que ela mesma tinha feito. Depois, a outra vizinha veio com macarrão. E assim, durante alguns dias, as Irmãs foram ajudadas pela comunidade do bairro, até que recebessem seu salário.  Helena ficou emocionada: “Nós viemos aqui para ajudar os mais necessitados. E aprendemos uma grande lição de partilha”.

Faz muito tempo, muito tempo mesmo, a jovem Maria de Nazaré saiu às pressas de sua casa para estar próxima de sua parenta Isabel. Deve ter feito uma viagem difícil, mesmo que não fosse longe. Partiu com o desejo de ajudar, de compartilhar seu tempo, sua presença. Aparentemente, não tinha muito o que oferecer. O que uma menina de provavelmente 16 anos, no início da sua gravidez, pode ensinar para uma mulher idosa a respeito do assunto? Talvez ajudar a fazer a comida, limpar a casa, conversar na beira do fogão sobre as esperanças comuns. Rir juntas, ver a estrelas... Maria foi lá para ajudar, e aprendeu muito com Isabel. O evangelista Lucas narra que o encontro destas duas mulheres foi uma explosão de alegria, animada pelo Espírito Santo. Maria  voltou para casa, três meses depois, mais fortalecida na sua fé. Tomou consciência do que estava acontecendo com ela. Viveu o início da gravidez ao lado de outra mulher, que já estava no mesmo caminho há seis meses. Assim, preparou-se melhor para o nascimento de Jesus.


Como aconteceu com Maria de Nazaré, assim se passou com Irmã Helena e sua comunidade. As atitudes e os gestos de solidariedade são como uma estrada de duas mãos, de ida e de vinda. A gente vem com o simples desejo de ajudar, de estar próximo. E volta enriquecido/a com o que recebe dos outros. Maria de Nazaré, a “serva do Senhor”, se faz solidária com Isabel. Irmã Helena, consagrada a Jesus como religiosa, se faz solidária com o povo pobre da periferia. Ambas aprendem muito, pois o amor dilata as nossas possibilidades humanas. Que Maria abençoe homens e mulheres dedicados a Deus e aos outros, especialmente neste ano da Vida Consagrada!

domingo, 5 de julho de 2015

Maria, nossa mãe

Desde criança, Lena sonhava em ser mãe. Ninava as bonecas, trocava a roupa delas, colocava-as na cama para dormir. O tempo passou rápido e Maria Helena se tornou adulta. Fez um curso técnico de enfermagem e durante muitos anos trabalhou em hospital. Depois, concluiu o curso superior. Trabalhava com afinco. Descobriu que a realização profissional também era importante na vida. Casou-se e teve somente um filho. Os três formavam uma família encantadora. De vez em quando, algum conflito. Mas as coisas se resolviam. Quando seu filho completou 18 anos, Lena pensou que sua missão de mãe estava se completando. O rapaz frequentava a faculdade, tinha um bom emprego e estava namorando. Sem dizer nada pra ninguém, ela se imaginava como avó, segurando novamente nos braços um bebê, olhando nos seus olhos, encantando-se com suas descobertas. Então, aconteceu uma tragédia: o filho único morreu num acidente de carro. Lena e o marido ficaram desolados! Parecia que Deus lhe havia tirado o dom mais precioso da vida. Por que, para que? Ela perguntava, sem ter resposta.

Lena pediu muito a Deus para aceitar esta situação, tão absurda. No aconchego do lar, nas noites tristes, conversava com o marido: um grande sonho acabou! O que vai ser de mim agora, como mãe? Em seu trabalho como enfermeira, percebeu como muitas adolescentes grávidas vinham para fazer o acompanhamento pré-natal. Certo dia, encontrou uma delas sentada no banco de espera. Aproximou-se, olhou-a nos olhos. Não precisou muita conversa para perceber como a menina de 14 anos estava confusa e desemparada. O namorado não assumiu a paternidade. Os pais queriam expulsá-la de casa. Não tinha emprego nem condições de preparar o enxoval do futuro bebê. De repente, Lena redescobriu sua vocação de mãe: ela iria ajudar a menina a reconstruir sua vida. Na semana seguinte Lena começou a concretizar o novo sonho de mãe. Dedicou um tempo semanal para escutar as mulheres grávidas e ajudá-las. Conversou com algumas amigas, arrumou um dinheirinho com a prefeitura, criou um mutirão para recolher material reutilizado para bebês, como berços e carrinhos. A iniciativa se consolidou com uma Associação de proteção às adolescentes e mulheres grávidas na sua cidade. Atualmente, já aposentada, Lena diz: “hoje sou a mãe de muitas mulheres que precisam. Aprendi a trata-las não como coitadinhas, mas como pessoas que merecem ser valorizadas. A associação é uma comunidade de mulheres que se ajudam. Quem já passou pela experiência, fortalece as outras”.

Maria de Nazaré também sonhava em ser mãe, como era costume no seu tempo. Quando recebeu o anúncio do anjo de Deus, ficou surpresa e feliz! Após um momento de diálogo e de reflexão, aceitou com inteireza o convite de Deus. E assim, o Filho de Deus se fez humano como nós, em Jesus de Nazaré. Maria e José exerceram sua missão de pais e educadores com muito zelo. Conta-se que José faleceu antes que Jesus partisse em missão. E quando o mestre caminhava pelas vilas e cidades, com seus seguidores e seguidoras, Maria ia junto, escutando a palavra, guardando no coração e frutificando.

Numa sexta-feira, em Jerusalém, aconteceu o momento mais triste da vida de Maria. O filho único e tão querido, Jesus, foi condenado à morte injustamente e terminou sua vida de forma horrível, na cruz. Maria deve ter pensado: acabou o meu sonho de mãe! Mas então, ocorreu algo extraordinário. Jesus delegou para ela a missão de mãe da comunidade! Disse para o discípulo amado: “Eis aí a tua mãe”. Maria entendeu. Agora ela não cuidaria somente de um, mas sim da multidão de seguidores de Jesus. Ela, nossa irmã na fé, se tornou a mãe de todos. Até hoje, na comunhão dos santos, com ela podemos contar! Ela está com a gente!  Viva, Maria, nossa mãe!

Ir. Afonso Murad - Publicado na "Revista de Aparecida"

terça-feira, 19 de maio de 2015

Coroação de Maria (3)

Eu moro em Minas Gerais. Aqui, durante todos os fins de semana do mês de maio, acontecem as “Coroações de Nossa Senhora”. Já vi muitas delas. Algumas, com cantos maravilhosos, instrumentos musicais, roupas lindas, anjinhos, flores, altar especial e luzes coloridas. Mas guardei na lembrança uma, em especial. Anos atrás, eu participava de uma comunidade muito pobre na periferia de Belo Horizonte. No começo, não tínhamos nem salão comunitário, nem igreja construída. O culto e a missa aconteciam na maior sala da escola pública do bairro. No mês de maio, na primeira noite da coroação, tive uma surpresa.

Depois da missa, todos nos sentamos, esperando... Um grupo de umas 50 meninas entrou cantando, com a catequista e o violeiro da comunidade: “Maria de Nazaré, Maria me cativou. Fez mais forte a minha fé, e por filha me adotou”. O canto tomou conta da Assembleia, e entoamos juntos a mesma música. Não era um espetáculo para ver, e sim uma celebração para participar. As crianças pequeninas entraram em fila até a frente, onde havia uma imagem de Nossa Senhora Aparecida sobre um pedestal. Nenhuma delas vestia roupa branca, sem levava nas costas as asas de anjos. Estavam todas com o uniforme da escola. Estranhei aquilo. Não estava acostumado. Então, uma delas trouxe uma coroa feita de flores e colocou sobre a cabeça da imagem, subindo pela escadinha. Salva de palmas!!! E rezamos então várias Ave-Marias. E as meninas se retiraram, alegres, cantando novamente. E algumas delas lançavam pétalas de flores (rosas, margaridas, beijos), que haviam colhido nas casas e nos quintais do próprio bairro.
Então, perguntei curioso à catequista: “Por que as crianças não estavam vestidas de anjos?” Ela me disse: “A comunidade aqui é muito pobre. Várias meninas moram na favela e não tem condição de comprar a roupa e os enfeites. Por isso, escolhemos o uniforme da escola. Assim, todas aquelas quiseram, participaram. E procuramos valorizar ao máximo as coisas da comunidade”. Vamos comprar as roupas de festa e as asas, quando tivermos dinheiro. Vai ser de uso coletivo!

Voltei para casa contente e pensativo. Penso que Maria, lá no céu, deve ter ficado muito feliz com esta homenagem que veio das pequeninas. Teria um jeito melhor de louvar a Deus pelas maravilhas Ele que fez em Maria? A coroa de Maria não é aquela do luxo, da ostentação, da vaidade, nem dos privilégios. No livro do Apocalipse se diz que Jesus glorificado dará a coroa da Vida aos que perseverarem na fé. Maria não recebeu uma coroa de ouro, e sim a coroa da Vida. Ela já participa da glória de Deus, junto com seu filho Jesus e outros santos, que trilharam o caminho da fé, da esperança e do amor neste mundo.
Aquela comunidade, com a beleza do canto, a simplicidade das vestes, o jeito comunitário de celebrar, a acolhida aos mais pobres, prestou uma justa homenagem à Mãe de Jesus. Ela mesmo, a Maria de Nazaré, no canto que entoou na casa de Isabel, dizia: “Deus olhou para a humildade de sua servidora. De agora em diante, todas as gerações me chamarão de Bem-aventurada (feliz)”. Maria é uma rainha diferente. Seu trono não tem um lugar fixo nem forma definida. Pode ser um banquinho da cozinha. Ou as pedras de um recanto, que servem para descanso e acolhida. Importa reconhecer que ela participa do Reinado de Cristo.

O reinado de Maria é o reinado de Jesus, nosso mestre e Senhor. Ela, nossa companheira de caminho, faz mais forte a nossa fé e nos adota como filhos e filhas, como bem disse o Padre Zezinho. Um reinado de serviço, de doação, de bondade, de promoção das pessoas e da sociedade, como refletimos na Campanha da Fraternidade deste ano.  Por isso, na tradicional oração mariana se diz: “Salve, Rainha, mãe de misericórdia. Vida, doçura e esperança...”
(Publicado na Revista de Aparecida)

quinta-feira, 19 de março de 2015

Maria veio para servir

Durante a Campanha da Fraternidade deste ano ouvimos muitas vezes aquela frase de Jesus: “Eu vim para servir”. Você já pensou como este apelo do Cristo se realizou na vida de Maria?
Quando Maria era jovem, menina nova e cheia de vida, ela recebeu uma mensagem especial. Deus, através de seu anjo, convidou-a a assumir a missão de mãe e educadora do Cristo. Depois de perguntar, questionar e buscar saber como isso aconteceria, Maria respondeu com toda inteireza: “Eis aqui a servidora do Senhor” (Lc 1,38). Ela não pensou em vantagens, em glórias, em ser famosa, e sim no verdadeiro serviço. A palavra “serva” ou “servidora” tem muitos sentidos. Algumas bíblias traduzem-na mal, usando o termo “escrava”. Na realidade, o povo de Jesus não aceitava a escravidão. Os hebreus guardavam viva na memória, e recordavam cada ano na festa da páscoa, que Deus havia libertado seu povo da servidão do Egito, onde eles tinham sofrido muito, em condições horríveis. Assim, até o preceito do sábado era para também lembrar que eles eram um povo livre, pois o escravo não tem direito ao descanso.  Até os animais deveriam descansar no sábado (Dt 5,6.12-15). Ora, somente quem é livre pode tomar decisões. Somente quem é dono de sua vida, e não está submetido aos outros, pode fazer opções com inteireza. Servir por opção, não por pressão. Assim aconteceu com Maria.

Logo depois que diz “sim”, Maria sai apressadamente para visitar Isabel (Lc 1,39). Era uma região montanhosa, difícil de chegar. Mas, quem está convencido que deve servir, não reclama das dificuldades e arruma um jeito de superar os obstáculos. Como Maria chegou até lá? Quem a acompanhou, pois as mulheres naquele tempo não podiam andar sozinhas? Quanto tempo durou a viagem? A gente não sabe. O que podemos dizer é que Maria e Isabel passaram algum tempo juntas. E então viveram uma intensa experiência de comunidade. A gravidez de Isabel começou três meses antes. Maria veio para servir sua parenta, mas ela também estava grávida. Para as duas, era a primeira vez. Quantas esperanças, quantas dúvidas, e alguns temores... Seguramente, Maria também aprendeu muita coisa com Isabel, que já era uma mulher de idade avançada, com muita sabedoria.
Assim acontece quando a gente se coloca a serviço dos outros. Aprendemos e ensinamos. Doamos e recebemos. Esta é uma das belezas do serviço, quando ele é realizado com liberdade, generosidade e desprendimento. Gratuitamente, sem pedir nem exigir, há um retorno do amor. Pois o serviço traz junto a reciprocidade. Quem recebe gestos de amor, com gratidão quer também fazer algo parecido. Para o outro ou para os outros.
No encontro com Isabel, Maria entoa um belo cântico de louvor a Deus. E agradece ao Senhor que “olhou para sua humilde servidora” (Lc 1,48). Novamente, sai de sua boca o que está no coração. Como Jesus, ela veio para servir a Deus e aos outros!

A partir de Maria, podemos traduzir de muitas formas a nossa resposta a Jesus, como um serviço às pessoas, aos grupos, à transformação da sociedade. Dizemos então: Jesus, eu também vim para servir! Venho para ajudar quem precisa, venho para ensinar e aprender, venho para evangelizar, venho para construir comunidade, venho para denunciar as injustiças, venho para animar os tristes, venho para trazer uma palavra de esperança, venho para ouvir e acolher, venho para louvar pelas maravilhas que o Senhor realiza no meio de nós.

A vida cristã é um constante movimento de ir e vir, como discípulo/a e missionário/a de Jesus e de seu Reino. E Maria está conosco sempre, como servidora, mãe, exemplo e companheira do caminho!
(Publicado na Revista de Aparecida)

sábado, 31 de janeiro de 2015

Devoção na medida certa

Há muitas coisas na vida, que desfrutamos de forma positiva, se são cultivadas na medida certa. O livro “comer, rezar e amar”, depois transformado em filme, conta a história de uma mulher em busca de felicidade, que descobre lentamente a dosagem adequada de diferentes aspectos da sua existência. Com a devoção a Maria também é assim. Muito boa, sem dúvida, se vivida de maneira equilibrada.

Os nossos bispos, reunidos na sua 5ª Conferência Latino-Americana e caribenha, acontecida em 2007 em Aparecida do Norte, discutiram e escreveram sobre a Evangelização na realidade atual. E, claro, falaram também sobre Maria. O “Documento de Aparecida”, que reúne as conclusões deste encontro, começa reconhecendo a presença da mãe de Jesus na Assembleia. Ele reconhece, com gratidão: “Maria , Mãe de Jesus Cristo e de seus discípulos, tem estado muito perto de nós, tem-nos acolhido, tem cuidado de nós e de nossos trabalhos, amparando-nos ( na dobra de seu manto, sob sua maternal proteção”. E os bispos suplicam a Maria que “como mãe, perfeita discípula e pedagoga da evangelização, Ela nos ensine a ser filhos em seu Filho e a fazer o que Ele nos disser”.

Conforme do documento de Aparecida, a devoção a Maria tem muitas características positivas: “Em nossa cultura latino-americana e caribenha conhecemos o papel que a religiosidade popular desempenha, especialmente a devoção mariana, contribuindo para nos tornar mais conscientes de nossa comum condição de filhos de Deus e dignidade perante seus olhos” (DAp 18). A piedade popular, fortemente mariana, deve ser assumida na evangelização, pois ela “penetra a existência pessoal de cada fiel. Nos diferentes momentos da luta cotidiana, muitos recorrem a algum pequeno sinal do amor de Deus”, como o rosário ou uma imagem de Maria. Neste sentido, “a fé encarnada na cultura pode penetrar cada vez mais nos nossos povos, se valorizarmos positivamente o que o Espírito Santo já semeou ali” (DAp 262).

No entanto, a piedade mariana não é um ponto final. E sim um ponto de partida, para que a fé amadureça e se faça mais fecunda.  Dizem os bispos: “é preciso ser sensível à devoção popular, perceber suas dimensões interiores e seus valores inegáveis” e assumir sua riqueza evangélica. Mas devemos também corrigir os desvios e exageros da devoção. “É necessário evangelizá-la ou purificá-la (DAp 262). Mais ainda. Não basta continuar repetindo aquilo que a comunidade recebeu no passado. É preciso dar novos passos. Entre outras coisas, o documento de Aparecida sugere: conhecer a vida de Maria e dos santos, para se inspirar no seu jeito de ser e agir. Além disso, intensificar o contato com a Bíblia, a participação na comunidade e o serviço do amor solidário (cf. DAp 262).


Com é a intensidade de sua devoção a Maria? Se você descuidou de cultivar o amor à Mãe de Jesus, retome-a. E, se por acaso você exagerou, lembre-se que Jesus é o centro de nossa fé. A ele seguimos, com ele caminhamos, no Espírito Santo, neste mundo. A vida não é somente devoção, mas também trabalhar, divertir, construir relações, exercitar a cidadania, cuidar do planeta. E no campo religioso, como relembram nossos bispos, a devoção deve ser completada com a leitura da bíblia, a participação na comunidade e a prática da caridade e a luta por um mundo melhor. A devoção a Maria, na medida certa, nos ajuda a amar e seguir a Jesus, com intensidade e alegria.
(Ir. Afonso Murad - Publicado na Revista de Aparecida)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Dizer "SIM" de forma consciente


Você já deve ter lido e ouvido muitas vezes a narração da Anunciação do anjo Gabriel à Maria, que está em Lucas 1,26-38. As catequistas e outros evangelizadores comentam sobre o “sim” de Maria, e falam que ela respondeu prontamente ao apelo de Deus. Isso é verdade. Mas a jovem de Nazaré não deu seu consentimento a Deus de qualquer jeito, sem pensar. O evangelista, servindo-se do gênero literário de vocação e de missão na bíblia, mostra que houve um diálogo demorado. Quanto tempo durou, e como se deu em detalhes, não se sabe. Deus tomou a iniciativa, veio ao encontro de Maria. Fez uma pro-posta para ela. E Maria, refletiu, questionou e por fim, deu uma res-posta. Acontece também assim quando duas pessoas se enamoram. Começa com o encantamento. Depois, os olhos os olhos, a aproximação, até que um toma a iniciativa de propor o relacionamento amoroso. Na fé, é Deus que sempre toma a iniciativa, nos seduz e nos convida.

Coloque-se no lugar de Maria. Quando menos espera, você recebe uma comunicação, uma proposta de Deus, que não imaginava antes. Qual seria sua primeira reação? Uma pessoa normal sentiria um choque, uma sensação de estremecimento e insegurança, como se de repente o chão tremesse. “Será verdade, ou estou imaginando coisas?” Assim também se passou com Maria. Ela “perturbou-se” ao ouvir a saudação de Gabriel (Lc 1,29). Mas não ficou imobilizada. Logo começou a pensar o significado da saudação: “alegre-se, agraciada, o Senhor está com você!” (Lc 1,28).
Então Deus, através de seu enviado, lhe diz para não ter medo, pois ela encontrou graça diante do Senhor, e será a mãe do messias. Como aconteceu com Maria, algo parecido se passa com cada cristão. Ao mesmo tempo em que ele se assusta diante das exigências da missão confiada, tem uma certeza de que é agraciado, de que Deus ao seu lado, e então não precisa ter medo.

Embora seja uma mulher muito jovem, Maria sabe como acontecem as realidades humanas. Não é boba, nem ingênua. Pureza não quer dizer “ignorância”. Para ter um filho, seria necessário estar engajada num relacionamento conjugal. E ela ainda era noiva de José. Então pergunta: “Como se fará isso, se eu não tenho relações sexuais com ninguém?” (Lc 1,34). Mais do que simples pergunta, revela-se aqui um traço da personalidade de Maria: ser uma pessoa questionadora. Ela não aceita sem pensar. Quer saber em que chão vai pisar, para assumir seu compromisso de forma livre e consciente. Então, Gabriel lhe explicar sobre a concepção virginal, sob ação do Espírito Santo.

Por fim, Maria responde com firmeza: “Eis aqui a servidora do Senhor”. Quando adulto, Jesus se apresentará “como aquele que serve”. Sua mãe já vive esta atitude do mestre. Ela não quer ser rainha, nem se deixa levar pelo orgulho e pela vaidade. Simplesmente, quer servir a Deus. Por isso, completa a sua resposta, dizendo: “Eu quero que se faça em mim segundo a sua vontade” (Lc 1,38). Aqui, novamente, o evangelista Lucas vê no gesto de Maria aquilo que vai orientar toda a vida de Jesus: buscar fazer a vontade do Pai, que algumas vezes não era tão clara, nem fácil. Exigia discernimento, com tempo de silêncio e oração. Especialmente, antes de tomar grandes decisões. Assim, o autor da Carta aos Hebreus relembra que Jesus realizou o que o Salmo 40 prenunciava: “O Senhor não quis sacrifícios de sangue. Ele me abriu os ouvidos e eu disse: Eis que venho para fazer sua vontade” (Heb 10,7).

Quando você ler novamente o texto da Anunciação, lembre-se que o “sim” de Maria não foi automático, feito de qualquer jeito e sem pensar. Ao contrário. Aconteceu em um diálogo com Deus. Maria escuta seu chamado, deixa-se surpreender pelo Senhor, se perturba, vence o medo, questiona e então responde com inteireza. Que Maria, a jovem de Nazaré, nos ensine a dar um sim consciente a Deus. Amém!

(Publicado na Revista de Aparecida)