domingo, 8 de dezembro de 2019

Imaculada Conceição e o Advento


Estamos nos preparando para o Natal, neste tempo especial de Advento. Muita gente se distrai em dezembro, preocupada com os presentes a dar, como usar o 13º salário, as festas de “amigo secreto”, o que comer e beber. Uma famosa fábrica de refrigerantes começou a fazer propaganda do Papai Noel em 1931, em revistas populares dos Estados Unidos. Criou-se então a imagem do velhinho bondoso, vestido de vermelho, trazendo presentes para as crianças. Em 1962 começaram os comerciais na Televisão. Anos mais tarde, essa tendência chegou ao Brasil e contagiou grande parte da população. Então, a gente se esquece de Jesus, o grande presente de Deus para nós, nascido na simplicidade da gruta de Belém. E somos bombardeados por propagandas para comprar, comprar, comprar... Certa vez, alguém comparou o Papai Noel a Herodes, aquele que não veio ver Jesus e queria eliminá-lo.
Precisamos cultivar o espírito do natal, que não é o de consumo, e sim da fraternidade, da alegria que vem de dentro, da noite luminosa de Belém. Somos como os magos e os pastores, que vão em busca de Jesus, para adorá-lo. Ali encontramos também José e Maria, que nos acolhem com o coração aberto.
A festa da Imaculada Conceição acontece no dia 8 de dezembro e é festejada no Brasil no domingo mais próximo. Propositalmente, ela é colocada no tempo do advento. Sabe por que? Essa festa nos diz que Deus preparou Maria, antes de nascer, para a missão que ela teria de ser mãe, educadora e discípula de Jesus, como também a nossa irmã na fé e mãe da comunidade cristã. Essa ideia que Deus nos chama para uma missão, bem antes do nascimento, já está presente na vocação do profeta Isaías (Is 1,5). Você se lembra da música que diz: “antes que eu te formasse dentro do seio de tua mãe. Antes que tu nasceste, te conhecia e te consagrei”?
Maria recebe um dom especial de Deus, que a faz mais inteira, integrada, capaz de responder mais intensamente aos apelos de Deus na sua vida. Isso não retira dela a característica humana, pois ela tem que fazer opções e renovar seu sim no correr da vida, muitas vezes. Passa por crises de crescimento na fé, como no momento da perda do menino no templo, e diante da cruz. Mas ela se mantém sempre no caminho de Deus, sem desvios. Por isso, ao olhar para Maria imaculada, reconhecemos que nela já se realiza o projeto original de Deus para toda a humanidade. Diferente de Maria, somos pecadores. Mas a graça é a vencedora. Assim, com São Paulo, proclamamos na esperança: “Deus nos escolheu em Cristo, antes de criar o mundo, para que sejamos santos e sem defeito, diante dele, no amor. Ele nos predestinou para sermos, seus filhos adotivos, por meio de Jesus Cristo, que sejamos santos, sem mancha (Ef 1,4-5)”

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Maria e o Sínodo para a Amazônia

O Papa Francisco convocou um Sínodo Especial para a Amazônia, que acontece de 06 a 27 de outubro deste ano, em Roma. O Sínodo é uma assembleia de bispos de todo o mundo que, presidida pelo papa, para tratar de assuntos fundamentais para a missão da Igreja. O tema do sínodo é: Amazônia: novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral. Para essa importante reunião estão convocados todos os bispos de dioceses e prelazias da pan-amazônia, países onde a Igreja atua no bioma amazônico: Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, as Guiana Inglesa, Francesa e Holandesa. 
Além deles, fazem parte do sínodo os bispos representantes das Conferências Episcopais de vários países do mundo, além de especialistas e observadores, provenientes da região amazônica. 

O sínodo, que foi preparado em assembleias locais em toda a região amazônica, é uma ocasião para:
CONHECER a riqueza do bioma, os saberes e a diversidade dos Povos da Amazônia, especialmente dos povos Indígenas, suas lutas por uma ecologia integral, seus sonhos e esperanças;
RECONHECER as lutas e resistências dos Povos da Amazônia que enfrentam mais de 500 anos de colonização e de projetos que exploram e destroem a floresta;
ASSUMIR, à luz da fé, um compromisso da Igreja do mundo inteiro, em favor da Amazônia e da ecologia integral.

O Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, sobre o cuidado da Casa Comum, dedicou um belo parágrafo a Maria, intitulado “a Rainha de toda criação”. Suas palavras inspiram também o Sínodo da Amazônia. Diz ele:
Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido. Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora ela se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano. 
Maria vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam a sua beleza. É a Mulher «vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça» (Ap12, 1). Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza. 
Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que guardava cuidadosamente (Lc2, 51), mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos pedir-Lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar de mais sabedoria” (LS 241).

Peçamos a Maria que acompanhe os nossos bispos durante o Sínodo e lhes dê coração aberto para acolher os apelos de Deus na realidade da Amazônia, coragem para anunciar e denunciar, grande amor ao bioma e a povo da região, e ousadia para abrir novos caminhos para a Igreja e a ecologia integral!

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Vida de Maria (do monge Epifanio)


Tratado sobre a Vida e os anos de Maria,
escrito por Epifânio, monge e presbítero.

Autoria provável do século 8

1. Introdução.  Credibilidade das fontes utilizada

Muitos dos antigos mestres trataram a respeito de Maria, a própria e verdadeira Mãe de Deus e sempre Virgem.  Alguns, certamente, com diversas figuras e palavras proféticas, disseram coisas admiráveis a respeito dela, e sobre Aquele que de Maria nasceu, Cristo, nosso verdadeiro Deus.  Os santos apóstolos se empenharam mais em falar acerca do Verbo de Deus, quem em Maria se encarnou, e das coisas realizadas por Ele. Não obstante, ao fazer menção dela, passavam logo a outros assuntos, por disposição do Espírito Santo.  Mas, todos afirmam que ela era da descendência de Davi.
Dentre os Santos Padres, houve quem celebrasse Maria com grandes louvores. Mas nenhum deles escreveu com exatidão a respeito de sua vida, de sua educação e do seu trânsito. Mesmo os que realizaram tal intento, e em parte tocaram o tema, se distanciaram do reto caminho e acabaram por se contradizer a si mesmos. Por exemplo: Jacó, o hebreu; Afrodisiano, o persa. E alguns outros, que somente abordaram o nascimento de Maria, com certa restrição, e guardaram silêncio. João o tessalonicense, que escreveu uma dissertação sobre a Dormição, terminou obscuro. Outro João, que se denomina o “teólogo”, demonstra-se cheio de mentira. André de Jerusalém, que foi bispo de Creta, escreveu brevemente sobre este assunto. Porém, ele fez mais um elogio do que uma narração.
Após termos examinado com atenção muitos escritos, apresentamos aos leitores interessados, em estilo simples, aquilo que se refere a Maria. Sempre que sejam dignas de crédito, sólidas e verdadeiras; recolhendo-as tanto da História de Eusébio, chamado de Pánfilo, assim como de outros escritores e mestres.  E para que ninguém nos acuse de termos suprimido ou aumentado algo, colocamos a citação de cada autor em quem nos apoiamos.
Igualmente, que ninguém nos reprove por aquilo que aceitamos dos apócrifos e dos hereges. Pois os testemunhos dos adversários são mais dignos de crédito, como afirma São Basílio Magno. Assim também procedeu Cirilo, bispo admirável de Alexandria, a respeito da genealogia de José, o esposo de Maria, a Imaculada Mãe de Deus, desde Abraão até Davi. E depois, manifesto a concordância dos evangelistas. Mateus que vai descendo e Lucas que começa retrocedendo, até Natan, que também é filho de Davi, já que José e a Theotokos eram filhos de dois irmãos. A demonstração de tudo isso é o que indicaremos a seguir.

2. Maria e José, primos segundo a lei

Da linhagem de Natan, filho de Davi, veio Levi, que foi pai de Melqui e de Panter. Melqui casou-se e morreu sem deixar descendência. Panter gerou a Barpanter e este a Joaquim, pai da Theotokos. Do outro lado, da família de Salomão, filho de Davi, procede Mathán. Este gerou a Jacob, pai de José e morreu. Então, Melqui, irmão de Panter, tomando por esposa a mãe de Jacob, gerou a Elí. Jacob, portanto, era da linhagem de Salomão e Eli da linhagem de Mathan. Eli se casou e morreu sem deixar filhos. Jacob, o irmão uterino, tomou sua esposa e gerou a José. Este, pois, por natureza, era filho de Jacob, mas, segundo a Lei, era de Eli. Efetivamente estes dois irmãos tiveram a mesma esposa, mas a Lei mandava que, quando alguém morresse sem deixar descendente, o irmão deveria tomá-la para garantir a descendência do irmão morto. Joaquim e Eli eram irmãos por parte de seu pai, Panter; Eli e Jacob eram pelo seu pai Mathán.  Joaquim foi o pai da Theotokos e Eli foi, pela lei, de José. De maneira que José e Maria fossem filhos respectivamente de dois irmãos. A profissão de José era carpinteiro e, pela parte de Jacob, teve como irmão uterino a Cléofas, que também é chamado de Clopas.

3. Concepção e nascimento de Maria

A linhagem materna da Theotokos era assim: O sacerdote betlemita Mathán teve três filhas: Maria, Sobe e Ana. Maria foi mãe de Salomé, a parteira. Sobe o foi da mãe do João Batista, e Ana tomou por esposo a Joaquim, irmão do pai de José. Ana, recém casada, desceu para a Galiléia, no povoado de Nazaré. Ana viveu com Joaquim cinqüenta anos, sem terem descendência. Mas, na época da festa das Candeias* eles subiram a Jerusalém, e quando Joaquim orava no Templo, ouviu uma voz que disse: “Terás descendência, e por ela serás glorificado”. Portanto, Ana concebeu na velhice e deu à luz uma filha e lhe colocaram o nome de Maria, por causa de sua irmã. Todos os seus familiares e amigos se alegraram com ela.

4. Maria é consagrada no templo de Jerusalém

Quando Maria tinha três anos, seus pais a levaram-na a Jerusalém e apresentaram-na ao Senhor, com oferendas. Recebeu-a, com seus dons, o sacerdote Yodae, também chamado Baraquias, que era o pai de Zacarias. Ao vê-la,  todos os sacerdotes regozijaram-se e, rezando, bendizeram a Joaquim e Ana, e à menina Maria.

5. Qualidades da jovem Maria

Pela sua sabedoria e inteligência diferencia-se de todas as jovens da sua idade, como tinha testemunhado dela seu antepassado Salomão. Pois é dela que disse: “Quem achará uma mulher forte?” e o que se segue depois.

6. Perfil de Maria, modelo de virgem consagrada

No templo do Senhor, perto do pórtico, na parte do altar, havia um lugar reservado. Ali só habitavam as virgens. E ao deixar essa convivência, voltavam para as suas casas. Mas Maria permaneceu no Santuário e no Templo, servindo aos sacerdotes. Seu caráter e a sua conduta eram assim: respeitável em tudo, falava pouco, obedecia com prontidão, era cordial e muito modesta com os homens, séria e sossegada, fervorosa na oração, reverente, educada e respeitosa com as pessoas, a tal ponto que todos admiravam sua inteligência e a suas palavras.
Maria era de estatura mediana, mas alguns disseram que era mais alta. Tinha a pele da cor trigo, de cabelos ruivos, olhos claros e um olhar suave, com sobrancelhas escuras, nariz fino e proporcionado. As mãos e os dedos também eram finos, com o rosto retangular, cheia de doçura e de graça divina. Sem nenhum orgulho, oposta à suntuosidade e à moleza. Possuía uma extraordinária humildade. Por isso, Deus voltou os seus olhos para Maria, como ela mesma disse, glorificando o Senhor. Preferia usar vestes sem tinturas, como testemunha o seu sagrado véu.
Maria fiava lã, destinada ao templo do Senhor. (Com tal trabalho) ela se sustentava. Era constante nas orações, na leitura, no jejum, no trabalho manual e em todas as virtudes. De modo que Maria, realmente santa, tornou-se a mestra de muitas mulheres, por seu estado de vida e a variedade de seus trabalhos (manuais). Certo dia, quando tinha doze anos de idade, estava rezando às portas do Santuário. À meia noite, uma luz resplandeceu mais que o brilho do sol e, desde o Propiciatório, uma voz disse: “Tu serás a mãe do meu Filho”. Maria guardou silêncio, não revelando a ninguém  o mistério, até o dia da Ascensão de Cristo aos céus.

7. Primeiro casamento e viuvez de José. Menarca de Maria

O Sumo Sacerdote Abías era pai de Yodae, a quem chamaram de Baraquías, e este o foi de Ageu e de Zacarias, também sacerdotes. Zacarias tomou por esposa à prima irmã de Maria e moravam em Belém. Eles foram os pais de João Batista. Ageu, o irmão de Zacarias, teve uma filha, Salomé, com a qual se casou José, o carpinteiro, filho de Helí e primo de Maria. E tiveram sete filhos: Tiago, Simão, Judas, José, Sobe, Marta e Maria. Salomé, esposa de José, morreu. Ele viveu na viuvez e em continência, com setenta anos aproximadamente. Era pobre de bens e humilde carpinteiro como oficio. Habitava em Nazaré, povoado da Galiléia. E Maria estava em Jerusalém, na casa de Deus. Com quatorze anos, quando se manifesta a fraqueza da natureza das mulheres, os sacerdotes, achando que ela era igual às outras, pois eram ainda desconhecidos os mistérios a seu respeito, reunidos em conselho, fizeram oração por Ela.

8. Maria é entregue a José, como guardião de sua virgindade

Zacarias, príncipe dos sacerdotes, o pai de João Batista, tomou doze galhos, das mãos dos sacerdotes parentes da Virgem, e colocou-as ao redor do altar, dizendo: O Senhor manifestará, com algum sinal, a quem há de pertencer a Virgem. Enquanto eles rezavam, brotou o galho de José o carpinteiro. Então, pela disposição de Deus, deram-lhe Maria como esposa, não para relação matrimonial, e sim para proteção e preservação de sua íntegra virgindade. Tudo isto é provado pelas mesmas palavras da Santa Virgem ao anjo Gabriel.  Pois, como ele, após da saudação, dissera-lhe: “Eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai”, etc., respondeu-lhe a Virgem: “Como acontecerá isso, pois não conheço homem?” Pois, se José tivesse desposado a Maria segundo a Lei do matrimonio, ela não responderia desta maneira. Teria dito: “conceberei, efetivamente, do homem com quem estou casada ou comprometida em casamento”.
Mas, sabendo com segurança que ele a tomou não para a união nupcial, mas sim para custodiá-la e preservá-la, proferiu estas palavras cheias de toda verdade: “Como acontecerá isso, pois não conheço homem?”. Quer dizer: nunca fui entregue em matrimonio a um homem para união conjugal, senão para ser guardada como virgem pura e intacta, pois foi essa a causa dos esponsais.

9. Anúncio a Maria e a Zacarias

Recebendo José a sua prima Maria, da mão do Senhor e em presença dos sacerdotes, levou-a para casa e entregou-lhe duas filhas para que, como se fossem dela, as ensinasse e as educasse. Ela morava com humildade e dignidade na casa de José. Passou lá seis meses. Segundo o costume, permaneceu rezando em jejuns. E pela hora nona do dia apareceu-lhe o arcanjo Gabriel, enviado de Deus, e manifestou-lhe todos os mistérios do Unigênito Filho de Deus, que estão escritos nos escritos dos Evangelhos.
Ninguém da casa soube o que tinha acontecido, nem ela comunicou para ninguém, nem sequer ao próprio José, até que viu seu Filho subir aos céus. Por isso disse o evangelista Mateus: “e não a conheceu até que deu à luz ao seu Filho primogênito”. Isto é, que José não conhecia os mistérios de Deus, nem a escondida profundidade das coisas que nela se realizavam. Era o primeiro dia da semana, do primeiro mês, segundo o ciclo lunar, do mês do abril, pois este é o primeiro mês do ano. Foi no primeiro dia deste mês que foram expulsas as trevas primitivas e disse Deus: “Faça-se a luz; e a luz foi feita”. Passaram-se seis meses da concepção de João Batista.
Era o sétimo mês, na Festa dos Tabernáculos, ou Escenopegia, quando se celebrava as Encenias ou festa da Dedicação e a instalação da Arca. Zacarias entrou só no lugar do Santo dos Santos para oferecer o incenso, segundo a Lei, e apareceu-lhe o anjo Gabriel. Desde esse tempo, pois, contam-se os meses segundo o ciclo lunar. Posteriormente se instituíram as indicações e os meses romanos.

10. Desejo sexual e virgindade no parto

(A palavra de Maria ao anjo): “Como acontecerá isso, pois não conheço homem?”, também tem outro significado, que não discorda da primeira colocação que propomos, isto é: “não desejo homem, não estou sujeita a tal anelo, não conheço a concupiscência da carne”. Ela, efetivamente, não possuía a virgindade e a continência com luta, como as demais mulheres mais modestas e cuidadosas da decência. E sim, tinham-na por natureza, o que é uma coisa extraordinária em relação a todas as mulheres, e alheia à natureza humana. Isto é o que havia dito o profeta Ezequiel: “A porta oriental ficara fechada e ninguém passará por ela, a não ser o Senhor Deus de Israel. Só Ele entrará e sairá por ela. Será porta fechada” (Ez 44,2-3).
Todos os Profetas e Apóstolos testemunham isto mesmo e concordam neste ponto, eles que são luzes, nossos pais e mestres da Igreja Católica e Apostólica. Assim o grande Dionísio Areopagita disse de Cristo: “Fazia as ações humanas de uma maneira superior ao homem. O parto sem dor também atesta a concepção virginal” (P.G. 120,197; At 17,34). Atanásio de Alexandria e Leão de Roma disseram que ela desconheceu a concupiscência de varão e todos os sínodos afirmam o mesmo (P.G. 26,161). Jacob o hebreu, que na época vivia e escreveu ao respeito de Maria, disse: “Como o parto fora singular e extraordinário em tudo, apalpada por uma obstetra, Maria foi se encontrou virgem como antes do parto. E o sacerdote Ruben, por meio de uma parteira, fez o mesmo e se convenceu”. A respeito deste singular milagre, outros disseram: “A natureza experimentou uma coisa extraordinária”. outros, por sua vez, afirmaram: “Foram superados os limites da natureza”.

11. Visita a Isabel e volta à casa de José

A Santa Virgem, logo depois da aparição do anjo, dirigiu-se a Belém para ver Isabel. A Judéia, onde se encontra a população de Belém, é um território mais elevado em relação à Galiléia, onde Nazaré está situada. Por isso São Lucas disse: “Maria correu apressadamente à região montanhosa e entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel” (cf. Lc 1, 39b-40). Depois de entrar e saudar a Isabel comunicou-lhe a aparição do anjo e as suas palavras. Além disso, que era um homem o que ela trazia no ventre. Que Zacarias tinha visto um anjo no Templo e foi por isso que ficou mudo. Portanto, não falou nada porque não podia. As duas guardaram dentro de si o mesmo mistério e não comunicaram a ninguém o que tinham conversado. Após três meses, Maria desceu para a Galiléia, à casa de José. Era ordenada e santa nas palavras, costumes e atividades. E como, com o passar do tempo, se avolumasse seu ventre, José, considerando-a santa, mas ignorando os mistérios ao seu respeito, dominado pelo pudor, quis afastá-la ocultamente de sua casa. Mas o anjo de Deus o impediu, segundo disse o evangelista Mateus.

12. Nascimento de Jesus. Vinda dos magos. Apresentação no templo

Naquele tempo se fez um recenseamento por disposição de Cesar Augusto. E subiu José da Galiléia à Judéia, com toda sua família para registrar-se, segundo o mandato de Cesar. Enviou à frente os seus filhos, mas, tomando consigo as filhas e Maria, subiu com um jumento. Sem entrar em Jerusalém, foram hospedar-se numa fazenda nos arredores de Belém, que era propriedade de Salomé, prima da Theotokos. E naquela noite a Santa Virgem deu à luz ao Emanuel. A parteira Salomé cuidava de tudo. Ela se encontrava em Belém e era, pela linhagem materna, prima de Maria, Mãe de Deus. Havia alí uma gruta, estábulo de animais. Sabendo Isabel da sua presença, levou-lhes tudo o que necessitavam. E o mesmo fizeram outros parentes. E, ouvindo o que fora comunicado aos pastores, ficaram admirados. No dia seguinte, da cidade Persa da Babilônia, chegaram os magos, vindos do oriente quente. Tinham visto no céu uma estrela, ao lado esquerdo de Jerusalém, pois assim está situada a Pérsia, em relação à Judéia. A estrela não era como as outras. Ao contrário, era próxima da terra e nunca havia aparecido antes, como diz João Crisóstomo.
No oitavo dia circuncidaram o menino e lhe colocaram por nome Jesus, que significa Salvador, e logo foram para Nazaré. Registraram-se Tiago e seus irmãos, filhos de José, e desceram para Nazaré. Cumpridos quarenta dias, levaram o menino a Jerusalém e apresentaram-no ao Senhor com oferendas. Mostraram-no ao ancião sacerdote Simeão. Ele os abençoou e ali foi revelado a José que fugisse para o Egito.

13. Matança das crianças. João no deserto

Herodes, naqueles dias, teve uma briga domestica com Salomé, filha do Sumo Sacerdote Hircano, que também era sua esposa, e com os filhos dela, Alexandro e Aristóbulo. Tendo matado sua mulher, dirigiu-se a Roma junto a Cesar e, obtendo permissão, na volta afogou no rio também aos filhos dela, como se mais adiante ficasse esquecido o que os magos disseram (sobre os dois anos). Mas, chegando a ocasião lembrando-se disso, encheu-se de ira, Herodes realizou a matança das crianças. Os soldados assassinaram a Zacarias dentro do Santuário, quando estava oficiando.
Isabel, que estava em Belém, tomou consigo a João e saiu ao deserto. Ocultou-se dentro de uma gruta, durante quarenta dias. Após do infanticídio, com sessenta anos de idade, Herodes se matou com um punhal. João, criado ali, permaneceu no deserto até se manifestar a Israel.

14. Volta do Egito. Os irmãos de Jesus

José permaneceu cinco anos no Egito com os seus filhos e filhas, com a Theotokos e com Cristo. Depois, devido a uma revelação, saiu de lá e veio para Nazaré da Galiléia. Cléofas, irmão de José (pois ambos eram filhos de Jacob) tomou por esposa a Maria, a filha de José, e teve dela o filho Simeão, o qual, depois de Tiago, o irmão do Senhor, foi bispo de Jerusalém. E em Roma, sob o imperador Domiciano, após muitos tormentos, foi crucificado com os seus cento e vinte anos de idade. Tiago, filho de José, segundo alguns, teve mulher durante dois anos. Depois que ela morreu, não teve outra. Judas, seu irmão, teve dois filhos, que se chamavam Sócero e Jacob. Eles prestavam serviço ao imperador Domiciano em Roma e, pela sua prudência e virtude, fizeram cessar a perseguição contra os cristãos. Tiago e Judas, irmãos do Senhor, faziam parte dos doze apóstolos. José e Simeão casaram-se. Sobe convivia sempre com a Theotokos. José havia ficado órfão de mãe quando ainda era bebê. Maria, a filha de Salomé, prima da Theotokos, tomou-o aos seus cuidados.

15. Aparência de Jesus

Na solenidade da Páscoa voltaram a subir de Nazaré a Jerusalém, quando Jesus tinha dez anos. Estando em Jerusalém, foi conhecido por muitos, ficaram admirados pela sua inteligência e sabedoria, de maneira que deixou maravilhados a muitos. Era de aspecto muito bonito, como disse o profeta: “o mais belo dos filhos dos homens”. Media seis pés de altura, era de cabelos loiros, de nariz proporcionado, de olhos claros, de olhar suave, de barbinha fina e clara e de cabelos compridos. Por sua cabeça nunca passou a navalha, nem mão de homem. Somente as de sua mãe, quando era criança. Quando completou trinta anos foi batizado por João no rio Jordão.

16. Missão de João Batista

Quando João encontrava-se no deserto, com trinta e um anos (começando o ano pelo mês de setembro), foi-lhe comunicada a palavra a respeito do batismo. Ele veio para a Judéia, pregando o batismo de penitência e a remissão dos pecados. E também, pelo batismo, o Reino dos céus. Mas não um batismo no Espírito Santo.
Ao observar a multidão sua vida austera e admirável, muitos se uniram a ele e fizeram-se seus discípulos. Dentre eles, André de Betsaida e João de Zebeda. Alguns dos príncipes dos sacerdotes dos judeus, ouvindo o que se falava de João e da sua doutrina, afirmavam: “é o Cristo”. Outros diziam: “não é”. Criando-se entre eles uma grande discussão ao respeito da questão, mandaram uns mensageiros junto de João para interrogá-lo. Ele disse-lhes: “eu não sou o Cristo, mas ele vem depois de mim e está no meio de vós”. Aconteceu que, certo dia, a multidão e os notáveis foram junto de João no Jordão, confessando seus pecados e sendo batizados por ele. Ensinando João ao povo em Betaraca, que é um lugar do outro lado do Jordão, chegou Jesus ao deserto do Jordão e passou ali quarenta dias. E de novo voltou junto a João. Quando João viu que Jesus se dirigia a ele, disse: “Eis aqui o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, pois vi ao Espírito Santo, que descia do céu e permaneceu sobre Ele. E ouvi uma voz que dizia ao Seu respeito: ‘Este é o meu Filho amado’”. As multidões o escutavam e se assombravam. No dia seguinte, João viu novamente a Jesus caminhando e disse d`Ele: “Eis aqui o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.

17. Início da missão de Jesus

Ouvindo isso, seus discípulos André e João, deixando-o, se uniram a Jesus e foram com ele à pousada e naquele dia ficaram com ele. André procurou seu próprio irmão Simão e, ao achá-lo, levou-o a Jesus. E, ao ouvir que João fora traído, no dia seguinte Jesus saiu para a Galiléia com os três discípulos. Encontrando a Felipe, conquistou-o e este a Natanael. Então, chegaram a Cana da Galiléia.
Após três dias, celebram-se umas bodas e eles foram convidados. Jesus converteu água em vinho. O nome do esposo era Simeão, o qual, depois de alguns dias, uniu-se a Jesus. Dalí se dirigiu Jesus a Betsaida, cidade da Galiléia. Entrou na casa de Pedro e, aproximando-se da sogra, que estava doente, Jesus a curou. Tendo voltado a Nazaré, José, o esposo da Theotokos, morreu idoso, aos cento e dez anos, segundo dizem. Os filhos de José, Tiago e Judas, seguiram a Jesus. Todos juntos iam pelos povoados e pelos campos, pregando o Reino e curando todas as doenças e enfermidades. A sogra de Pedro, que tinha sido curada, juntamente com sua filha, a esposa de Pedro, seguiu-os, e convivia com a Theotokos.

18. Seguidores e seguidoras de Jesus

Saindo de lá, chegaram ao lugar de Betsaida, povoado da Galiléia, onde se situa o lago chamado Genesaré e também Fiala, pela semelhança do círculo e pela água límpida e clara. Seus bancos (de areia) medem sete milhas ao redor. O aceite (desta região) é muito particular. Os frutos de outono dos redores do lago e os peixes são muitos saborosos.
Veio Jesus a Zebeda, com sua Mãe e seus discípulos, e se hospedaram em casa de Zebedeu, que tinha sua mulher e dois filhos, Tiago e João. E os tomou como discípulos. Sua mãe, pensando que Ele prometia um reino terreno, pediu-lhe para que os dois filhos se assentassem um à sua direita e o outro à sua esquerda, no seu reino. Saindo de lá, chegaram a Cafarnaum e Jesus curou ao paralítico e a muitos outros. Onde quer que eles hospedassem, os que foram curados e os principais das cidades, livremente ofereciam-lhes abundantes dádivas. Os discípulos ensinavam e batizavam a muitos, enquanto que Jesus não batizava, mas apenas ensinava e curava os doentes a qualquer lugar aonde ia. Zebedeu morreu. E quando Tiago soube disso, aproximou-se do Senhor, e disse-lhe: “Deixe-me ir sepultar meu pai”. Jesus não o permitiu, mas depois enviou os dois irmãos, Tiago e João. Eles foram lá e enterraram o pai. Mas levaram sua mãe a Cristo. E essa conviveu com a Theotokos pelo resto da sua vida. Vendidos os muitos bens que possuíam, chegando em Jerusalém, compraram Sião. Jesus veio para a Judéia com sua mãe e seus numerosos discípulos. Esses, anunciando o Evangelho por todos os lugares, batizando e curando, subiram a Jerusalém. Salomé, a esposa de Cusa, administrador de Herodes de Filipos, a qual tinha sete maus espíritos, tendo se aproximado e suplicado a Cristo, foi libertada dos espíritos e já não se afastou do Senhor, mas o seguia.

19. Maria Madalena e os doze apóstolos

Tendo permanecido ali alguns dias, pois era a festa dos Tabernáculos ou Escenopegia, Cristo iluminou a muitos com sua doutrina, expulsando do Templo os mercadores e curando a muitos de numerosas e variadas enfermidades. Então, voltou à Galiléia e chegou à cidade de Mágdala. Uma mulher chamada Maria lhe deu hospedagem em sua casa. Tendo ouvido suas palavras e visto os milagres que fazia, renunciou a todos os seus bens, e aderindo-se a Cristo, seguiu-o. Ela convivia com a Theotokos e outras mulheres. Era muito prudente e fervorosa no espírito e nas lágrimas, igual a Pedro, e servia-lhes com seus bens. Os discípulos eram André e Pedro, irmãos da cidade de Betsaida, Filipe e Bartolomeu, Tiago e Judas, irmãos do Senhor, José, apelidado Alfeu, Simão de Cana e Mateus o evangelista, Judas de Jerusalém, Tadeu de Edesa da Síria, Judas o traidor da cidade da Scara, Tiago e João de Zebeda.

20. Santa Ceia, cruz e ressurreição

Após a morte de seu pai, João, filho de Zebedeu, vendeu os muitos bens que possuía em Zebeda. Chegando a Jerusalém, comprou a Santa Sião, que é a parte mais alta da cidade. Na época, os príncipes dos sacerdotes mudavam a cada ano. Não eram naturais do lugar, e sim de diversas províncias. Por isso Caifás de Cio, província de Bitinia, tendo sido eleito pontífice daquele ano, morava no lugar adquirido por João o Teólogo. Por isso se disse que ele era conhecido do pontífice. Lá prepararam a Páscoa, isto é, a ceia mística, para Cristo com seus discípulos e discípulas. Quando disse: “ide a fulano”, referia-se a João o Teólogo. Lá realizaram a mística ceia e alí permaneceram após da Ressurreição do Senhor. Estando João junto à cruz, e tendo recebido de Jesus a sua Mãe, levou-a a sua casa, isto é, à Santa Sião. Lá entrou Cristo, tendo as portas fechadas, e esteve no meio deles, e disse: “a paz esteja convosco, etc.

21. Manifestações do ressuscitado. Maria, outras mulheres e os apóstolos

As miróforas eram sete: Maria Madalena; Salomé, a mãe dos filhos de Zebedeu; Maria, a mãe de Tiago o Menor; a mulher de Judas, irmão do Senhor; a mãe de José, a que tinha educado ao irmão do Senhor; Juana, que, segundo alguns era a esposa de Pedro e, segundo outros diezem era a mãe de Clemente; e a irmã da Mãe do Senhor, Maria de Cleófas, mulher do irmão de José, já que Joaquim e Ana não tiveram outra filha. Estas miróforas foram sete vezes, pela noite, ao túmulo do Senhor e não viram quando ele ressuscitou.  A Theotokos, por sua vez, não foi ao túmulo naquela noite, já que estava prostrada pela tristeza. Mas, enquanto o anjo falava com Maria Madalena, Cristo apareceu para ela na casa do Teólogo, isto é, na Santa Sião. Lá se encontravam todos com Ela, todos os apóstolos com as mulheres e com os irmãos do Senhor, jejuando, prostrados no chão, chorando, rezando e cantando hinos constantemente, com grande devoção. Lá Cristo aparecia-lhes freqüentemente. Indo como enviados, a diversos lugares, de novo lá se congregavam.

22. Maria na comunidade primitiva

Contemplando a Mãe de Deus a Ascensão do seu Filho aos céus, intensificou a prática das asceses e as genuflexões. Segundo diz André de Jerusalém, arcebispo de Creta, até hoje se mostram as cavidades de seus joelhos nos mármores da Santa Sião. E sobre a pedra, o lugar onde ela se reclinava e descansava um pouco do sono natural. Todas as pessoas  lhe prestavam grande respeito e veneração. Ela era honrada não somente pelos fiéis, mas também pelos judeus, e nenhum dos notáveis dos judeus ou dos gregos atrevia-se a falar com Ela, nem se aproximar da casa onde morava, Sião ou Gétsemani, que é o mesmo. Atendendo aos enfermos, curava a muitos; libertava os endemoninhados dos maus espíritos imundos. Dava esmolas e cuidava dos pobres e das viúvas. Enquanto vivia, nenhum dos doze apóstolos foi enviado, nem se afastou dela. A não ser no apedrejamento do proto-mártir Estevão, sete dias depois da Ascensão de Cristo. Então, todos se espalharam, exceto os doze. Maria considerava como o primeiro a Tiago, o irmão do Senhor. E não fazia nada sem a sua ajuda. Com a Theotokos moravam algumas mulheres distinguidas, de diversas províncias. Algumas foram sido liberadas de espíritos imundos, e outras, simplesmente abraçaram a fé. Dentre estas, segundo atestam alguns, estava a esposa de Paulo.

23. Alguns presentes na dormição de Maria

Hipólito de Tebas afirma que Maria viveu até os cinqüenta e nove anos. Mas nós descobrimos que ela viveu mais tempo. De fato, o já mencionado André, bispo de Creta, fundando-se na Tradição, diz que ela viveu até avançada velhice. E cinqüenta e nove anos não constitui uma longevidade. Ninguém escreveu a respeito disso, por causa das perturbações, isto é, pela destruição de Jerusalém, que aconteceu vinte e oito anos após a Ascensão de Cristo. Nesta ocasião, os apóstolos, se afastando de Jerusalém pelo mandato de um anjo, se dirigiram a uma cidade chamada Pella. Dionísio Areopagita afirma que esteve presente na Dormição dela, junto com Timóteo, Hieroteu e outros a quem São Paulo instruiu. Esse foi batizado após de seis anos e meio (a contar desde a Ascensão do Senhor) e depois de três anos começou sua pregação. Após nove anos, teve como discípulo a Dionísio. Diz o Bem-Aventurado Paulo que depois de vinte anos subiu a Jerusalém, de acordo com uma revelação. Encontramos nos escólios que quando Paulo foi arrebatado desde Éfeso, isto aconteceu por motivo da Dormição da Mãe de Deus. O que ele disse no escrito aos coríntios: “Cristo apareceu, após da Ressurreição, a mais de quinhentos irmãos juntos”, refere-se à Dormição da Santa Mãe de Deus.

24. Paulo e as almas dos justos também estavam lá

Certo monge, sacerdote virtuoso e circunspecto nas suas obras e nas suas palavras, afirmou o seguinte: “Certa ocasião, enquanto ocupava-me a respeito deste assunto, apareceu-me numa noite certa pessoa me dizendo: O apóstolo Paulo foi participar também, desde Éfeso, à Dormição da Mãe de Deus, através duma nuvem. E subiu até a terceira dimensão dos astros e de lá contemplou os extremos do oceano e do paraíso. E quando se diz que ouviu palavras inefáveis, refere-se aos hinos dos anjos e dos apóstolos, pois os doze apóstolos haviam chegado sobre as nuvens. Engana-se, já que Tiago, João e Mateus estavam ali presentes. Como chegaram, pois, nas nuvens? Talvez os que chegaram de longe? Dioniso, que então esteve presente ali, não disse isto. Nem havia morrido nenhum dos doze, a não ser Tiago, o irmão de João o Teólogo, que foi morto por Herodes, ao qual também se chama de Agrípa, filho do primeiro Herodes e de Mariamme, que também acabou sendo comido pelos vermes. As almas dos outros santos, que já haviam morrido antes, todas estiveram presentes.

25. O trânsito de Maria

O anjo Gabriel veio à Santa Mãe de Deus quinze dias antes e anunciou sua morte. E três dias antes veio o anjo Gabriel e deu-lhe a conhecer seu transito e a vinda do Senhor. Maria, enviando recado, convocou a todos os apóstolos e muitas pessoas vieram junto Dela, de modo que se produziu um movimento* muito grande e numeroso. Revelou-lhes os impressionantes mistérios que guardava em seu coração: a saudação do anjo, sua aparição e a primeira manifestação que tivera, quando orava no Templo. Também fez testamento, com o afirma o apóstolo São Bartolomeu. Ela estava debilitada por causa das práticas ascéticas anteriores. Quando chegou a sua hora, Cristo apareceu a todos. Por causa do resplendor de sua luz, todos se prostraram por terra, por medo, e ficaram como mortos. Ele lhes disse: a paz seja convosco. E todos, pelo gozo, se recobraram. Enquanto, em principio, os anjos cantaram hinos, os homens permaneciam calados. Logo depois, cantaram hinos. Ela, como num suave sono, aberta a boca, entregou o seu espírito ao seu Filho e seu Deus, com a idade de setenta e dois anos. Os anjos, cantando de novo hinos, foram embora. E os santos apóstolos, segundo disse Dioniso Areopagita, que estava presente, cantaram seu próprio hino, mas nem todos de uma mesma vez; pelo qual todos admiraram o hino de Hieroteo. Depois de cantar os hinos, fazendo-lhe as exéquias, depositaram Maria no sepulcro de Getsêmani. Logo depois, observando isso todos os que estavam presentes, o corpo se fez invisível aos seus olhos. E cantando hinos de novo, foram embora cada um para sua casa.

26. Síntese: períodos da vida de Maria

Os seus anos enumeram-se do seguinte modo: Aos sete anos seus pais a ofereceram ao Senhor em Jerusalém. Permaneceu no Templo seis anos e meio; e em casa de José seis meses, e foi-lhe anunciado o gozo de todo o mundo. Aos quinze anos foi Mãe e esteve com o seu Filho durante trinta e três anos, que em conjunto resultam quarenta e oito. Depois da Ascensão do seu Filho, esteve na casa de João o Teólogo, na Santa Sião, vivendo com Ele e com os quem moravam aí por vinte e quatro anos. Em total, são setenta e dois anos. Depois da Dormição da Santa Mãe de Deus, todos os apóstolos se dispersaram e João dirigiu-se a Éfeso. O evangelista São Mateus disse: Até a conquista de Jerusalém, no meu tempo, em absoluto, ninguém foi enviado. Ele escreveu seu Evangelho depois de trinta anos, pela recomendação de Tiago o irmão do Senhor, quem, segundo dizem, viveu vinte e oito anos depois da Ascensão do Senhor. Tiago distribuiu-lhes as regiões e, enviando-lhes, mandou que cada um lhe comunicasse como era o seu ensinamento, a fim de que a sua doutrina estivesse de acordo com a pregação de Cristo, ao qual seja a gloria e o poder, pelos séculos dos séculos. Amém.

Vida de Maria (de Epifanio o monge)


sábado, 7 de setembro de 2019

Nascimento de Maria (8 de setembro)

No Brasil, gostamos de comemorar o aniversário das pessoas da nossa família e dos amigos e amigas. Um simples bolo com as velinhas, muita alegria e a presença de quem amamos, são suficientes para fazer a festa. Tem gente que lembra não somente o dia da morte de pai ou da mãe, mas também a data do seu nascimento. Ah, se ele estivesse vivo hoje, faria 90 anos! Recordar o nascimento dos vivos ou dos mortos é momento de agradecer o dom da vida daquela pessoa e reconhecer seus valores e qualidades.

Conhecemos o dia do nascimento de alguém por causa do seu registro civil. Mas antigamente não era assim. Quando a cristianismo começou a se consolidar, nos primeiros séculos da nossa era, não se sabia exatamente a data do aniversário e da morte de alguém. E havia vários calendários. A Igreja determinou algumas festas litúrgicas dando um novo sentido a algumas datas que já existiam. Por exemplo: o nascimento de Jesus foi fixado em 25 de dezembro, pois era o dia da festa do Deus sol em algumas culturas. Para nós, cristãos, Jesus é a luz de Deus que brilha no mundo!

Outras datas foram estabelecidas a partir de histórias piedosas que circulavam naquele tempo. Mas também aí não havia um calendário fixo. A bíblia começa a contar sobre a mãe de Jesus no capítulo 1 de Lucas. Ali se diz que ela era uma jovem, moradora de Nazaré da Galileia, prometida em casamento a José. Aproximadamente 150 anos depois, surgiu um escrito apócrifo, chamado “Evangelho da infância de Maria”. E logo a seguir, o “Protoevangelho de Tiago”. Esses textos são de autores desconhecidos e tem pouca base histórica. Foram criados para responder a algumas perguntas dos cristãos. Originaram-se de um grupo herege, chamado “gnóstico”. Segundo os gnósticos, a raiz do mal não estava no pecado, e sim na ignorância, no desconhecimento da verdade. Então, o caminho para Deus estava na gnose, ou no conhecimento certo, e não na conversão. Mas seus escritos nos serviram, pois nomearam o pai e a mãe de Maria, como Joaquim e Ana. Apesar dos exageros e dos erros doutrinais, eles contam que desde pequena Maria era uma menina abençoada e iluminada.

Não sabemos exatamente o dia e o ano em que Maria nasceu. Lá pelo século 5 começa no oriente a devoção ao nascimento de Maria. Parece que foi escolhido o dia 08 de setembro porque marcava o início do ano litúrgico em algumas igrejas no oriente. Para nós, hoje, não importa exatamente a data. E sim que, como fazemos com as pessoas que amamos, recordamos com alegria e gratidão que Maria foi bem-vinda a este mundo. Que a missão dela foi bela e inspiradora para homens e mulheres de todos os tempos. Por isso, o dia 08 de setembro é ocasião e agradecer a Deus pela vida e a missão de Maria, que continua viva no meio de nós. Viva Maria, mãe e discípula de Jesus. Viva Maria, nossa mãe e companheira na fé!

Afonso Murad - Publicado na Revista de Aparecida.

domingo, 18 de agosto de 2019

Assunção: Deus assume e glorifica Maria inteiramente


Por mais que acreditemos na ressurreição e na vida eterna, a morte nos dá medo. A menos que passemos por sofrimento demais no corpo ou na mente, a gente deseja estender o tempo de vida o mais possível. Tantas mortes acontecidas de forma violenta, devido a assassinatos, tragédias e ou doenças graves, especialmente em pessoas mais jovens, nos causam indignação. Na Bíblia se diz que uma pessoa é abençoada quando tem uma existência longa (Is 65,20). Mas precisamos morrer, até para dar lugar para outros viverem na Terra. Assim, a morte faz parte da vida. E cremos que nossa existência aqui na Terra é pequena, se comparada com a Vida Eterna que Deus nos promete.

Jesus, nosso mestre e Senhor, veio para “que todos tenham vida e vida plena” (Jo 10,10). Inaugurou o Reino de Deus, acolheu os pobres e pecadores, curou doentes do corpo e da alma, trouxe uma mensagem de paz e de fraternidade. O próprio Jesus foi vítima de morte violenta, provocada pelas autoridades judaicas. Mas Deus fez de sua morte uma fonte de vida, pois “não maior prova de amor do que doar a vida pelos outros” (Jo 15,13). Com a sua ressurreição, o Cristo glorificado abriu um caminho novo para toda a humanidade. Agora, a morte não tem a última palavra.

Na fé, temos a certeza que estaremos para sempre com Cristo, na comunhão dos Santos. Seremos semelhantes ao Cristo ressuscitado (1 Jo 3,2). Paulo nos diz: “quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rom 14,8). Jesus é o primeiro que passou da morte para uma vida nova, glorificada, que não termina nunca (1 Cor 15,20; Apoc 1,5.17). Como é vida eterna? Paulo explica para os cristãos, usando umas comparações (Veja 1Cor 15,35-44). Os corpos ressuscitarão em Cristo de maneira nova, cheios de luz e vigor, transformados. Aqui a gente experimenta somente a semente. Os frutos, veremos depois.

Na festa da Assunção celebramos que Maria, a Mãe de Jesus, foi totalmente assumida e transformada por Deus, ao final de sua existência. Não sabemos com detalhes como isso aconteceu. Nos ícones orientais se representa a “dormição de Maria”, com sua morte e entrega definitiva a Cristo. Nos quadros ocidentais se pinta o túmulo vazio, cheio de flores, e ela sendo elevada aos Céus. O que podemos afirmar é que Maria já experimenta a ressurreição dos mortos com a sua pessoa inteira, de corpo e alma. 

Ela viveu totalmente para Deus, como mãe e discípula de Jesus, exemplo do cristão que ouve, guarda e frutifica a Palavra (Lc 11,27-28), companheira dos discípulos missionários e mãe da comunidade (At 1,14, Jo 19,26-27). Durante sua existência, semeou somente coisas boas. Agora, junto de Jesus e dos santos e santas, colhe os frutos transformados pela Cristo ressuscitado. Seu corpo glorioso atesta que a promessa feita por Cristo já começou a se realizar na humanidade! Essa é mensagem da assunção, que nos enche de esperança. Vale a pena trilhar o caminho da Vida, da cooperação, da fé, esperança e caridade. O que começa bem, terminará bem. Amém!

sábado, 4 de maio de 2019

Maria e Isabel: um encontro no Espírito

“Nós estamos aqui reunidos, como estavam em Jerusalém/ Pois só quando vivermos unidos é que o Espírito Santo nos vem”. Este hino nos recorda que o Espírito Santo fortalece os nossos laços, as nossas relações na comunidade. Quando cultivamos a amizade e a cooperação entre nós, o Espírito Santo se faz presente. Assim aconteceu desde o início, na Trindade, pois o Espírito Santo é o vínculo de amor que une Deus Pai com seu Filho amado. Ele é a manifestação do grande abraço, de total acolhida, entre o Deus criador e seu Filho redentor. O Espírito promove as relações, faz o amor germinar, seja lá no Céu, seja aqui na Terra. Ele renova o amor que já existe nas pessoas e em toda criação. Por isso, evocamos como no Salmo 104: Envia teu Espírito Senhor, e renova a face da Terra. O Espírito Santo ilumina a mente, para a gente escolher o caminho certo. Aquece o coração, para deixarmos florescer sentimentos bons e praticar o bem.

Lucas nos conta que logo depois que Maria disse o “Sim” a Deus, ela partiu com rapidez para encontrar sua parenta Isabel (Lc 1,39-45). Saiu da Galiléia e foi para a Judéia. Um caminho montanhoso e longo, difícil para se fazer naquele tempo, que não havia transporte coletivo. A amor tem pressa. Não se detém, nem fica parado. Vai ao encontro do outro. Imagine a alegria destas duas mulheres grávidas! Quanta esperança, expectativas e também alguns medos, pois a gravidez abre-se para um futuro inesperado. Maria saúda Isabel: abraço forte, beijos, olhos nos olhos, sorriso largo, mãos que acariciam o rosto... “Ah! Quanto tempo que a gente não se vê”.

Havia uma grande sintonia entre essas duas mulheres, apesar de muitas diferenças entre elas. Isabel, mulher idosa, casada com um sacerdote, morava na prestigiada região do sul. Maria, a jovem noiva de José, um simples carpinteiro e agricultor na desvalorizada Galiléia, no Norte. O Espírito de Deus faz com que as nossas diferenças sejam assumidas e se tornem uma riqueza para todos. Maria não precisou falar mais nada. Então, o feto pulou de alegria no útero de Isabel. Isabel ficou cheia do Espírito Santo. A mulher calada começa a falar. Exclama com voz forte! Reconhece a ação de Deus em Maria. E essa responde, com um lindo hino de louvor a Deus.

O Espírito Santo realizou maravilhas neste encontro singelo de Maria e Isabel. Assim também ele age em nós, nos gestos que promovem a união, a cooperação, a solidariedade e a sintonia entre as pessoas!

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Maria e a ressurreição de Jesus


Como Maria viveu a experiência da ressurreição de Jesus? Os evangelhos não falam diretamente sobre isso. Podemos imaginar, e com razão, que Maria experimentou os mesmos sentimentos dos outros seguidores de Jesus. Com uma intensidade maior, pois ela é ao mesmo tempo a mãe do Messias e o exemplo dos discípulos-missionários de Cristo.

Todos aqueles que acompanharam Jesus durante a vida pública ficaram muito tristes com sua morte. Passaram pela noite escura da fé. As esperanças tinham sumido, como água que escorre pelas mãos. Diziam os discípulos de Emaús: “Nós esperávamos que ele fosse o libertador. Mas nossos chefes o entregaram à morte” (Lc 24-20-21). Então, aconteceu algo totalmente novo, que nunca houve antes: Jesus venceu a morte e estava vivo! (Lc 24,5). Não era a reanimação de um cadáver, pois um dia este morreria de maneira definitiva. O ressuscitado é o mesmo Jesus de Nazaré, mas com um corpo glorificado. Por isso, só é reconhecido à luz da fé (Jo 21,1-12).

Certa vez, os discípulos estão reunidos de portas fechadas! Eles temem sofrer o que Jesus passou! Então o Cristo ressuscitado vem ao encontro da comunidade e fica no meio deles, bem pertinho (João 20,19-22). Experiência semelhante vivem as mulheres que seguiam Jesus: Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago (Lc 24,1-10). E Madalena, de forma especial, é a primeira anunciar que Jesus está vivo! (Jo 20,11-18).  Olhe a mudança que acontece com eles.
- Se antes tinham medo, agora se revestem de coragem. Enfrentam as autoridades religiosas e políticas (At 4,8-13). Embora ameaçados, eles se negam a obedecer aos chefes judeus. Diz Pedro: “Não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20).
- Quando Jesus morreu, eles ficaram com o coração perturbado. Era muito difícil viver agora sem o mestre que lhes ensinava um novo jeito de viver. Então, Jesus ressuscitado lhes dá a paz, a serenidade. E sopra sobre eles o Espírito Santo, a presença permanente que anima, fortalece, ilumina, pacifica o coração, e os envia para a missão.
- Por fim, a tristeza dá lugar a uma grande alegria. Um contentamento que não passa! No lugar das lágrimas nos olhos, do choro incontido, agora vem o sorriso nos lábios e o brilho no olhar.

A mãe de Jesus viveu tudo isso. Ela, que concebeu, deu à luz, educou e acompanhou Jesus, sofreu muito com a sua morte violenta. E quando Cristo ressuscitou, Maria teve a certeza que valeu a pena ter se consagrado a Deus. Sua coragem foi fortalecida. Ela passou da tristeza à alegria profunda. E com os doze apóstolos e outras mulheres, Maria recebe o Espírito Santo (At 1,14. 2,1). Que Maria, testemunha da ressurreição, no ensine a viver como novas criaturas, renovadas pela ação transformadora da Graça (2 Cor 5,17). Amém.

sábado, 6 de abril de 2019

Maria e os dons do Espírito Santo

O Espírito Santo concede sete dons aos fiéis: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor a Deus. Esta lista está baseada em Is 11,2: E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. A estas se acrescenta a justiça (Is 11,3-4).

Por que são dons? Deus nos dá gratuitamente, como sementes, e devemos desenvolvê-los. Com a sabedoria distinguimos o que favorece ou prejudica o projeto de Deus. Assim, buscamos não as vantagens individuais, mas o Bem da Vida de toda a criação e dos seres humanos. A Inteligência e a ciência são os dons de entender e interpretar os sinais da presença de Deus nas situações humanas, em meio aos conflitos familiares, comunitários, sociais e políticos. Assim, captamos a relação entre nossa vida e a Palavra de Deus. Compreendemos a realidade para além das aparências. Entendemos as verdades reveladas por Deus. A consequência destes dons é o Conselho. Quem sabe discernir caminhos e opções tem condições de orientar as pessoas que precisam de luz para tomar as decisões acertadas.

Maria de Nazaré recebeu e cultivou esses quatro dons. Depois de pensar, refletir e questionar, aceitou ser a mãe do salvador. Com sabedoria, ciência e inteligência viu os riscos e as dificuldades de sua opção. Em Caná, percebeu a situação e deu o conselho certo para os servidores da festa.
Maria mostrou que tinha o dom da Fortaleza, quando perseverou na hora da cruz, junto com outras mulheres e São João. Ela não fugiu, nem se escondeu. Resistiu  com firmeza!

Os dons da piedade e do temor a Deus também vem juntos. O Espírito Santo nos dá o desejo de amar e de servir a Deus com alegria. Temor não significa o medo infantil de ser castigado, e sim o respeito à grandeza e ao mistério de Deus. Quem teme a Deus, é compreensivo com a pessoas, pois é o primeiro a reconhecer a misericórdia e a bondade do Senhor.

Maria viveu no respeito a Deus. Isso aparece no seu cântico (Lc 1,46-56), no qual exalta a grandeza do Senhor, reconhece que Ele olhou para sua serva com carinho. Proclama que Deus é justo para com os pobres e misericordioso para com todos. Durante sua vida, Maria cultivou a piedade Rezou e atuou. Serviu a Deus com alegria e se consagrou totalmente a Jesus e ao Reino.

Que nós também, inspirados em Maria, acolhamos os dons do Espírito Santo. Amém!

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Festa da Apresentação

Veja a nossa publicação sobre a Apresentação de Jesus no Templo.


Clique abaixo:

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sábado, 26 de janeiro de 2019

Maria e o Espírito Santo (1)



O compositor Zé Vicente inicia o seu “Hino ao Divino” cantando assim: “Presente tu estás desde o princípio, nos dias da criação, Divino Espirito! És sopro criador, que a terra fecundou e a vida no universo despertou!”. De fato! Já no início da Bíblia se diz que “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gen 1,2). Deus cria, conserva e estimula a evolução de todo o Universo pela força do Espírito Santo. Por isso também cantamos, baseados no Salmo 104,30: “Envia teu Espírito, Senhor. E renova a face da Terra”.

O Espírito atua em Maria, no momento em que Jesus é concebido nela. O anjo Gabriel anunciou-lhe: “O Espírito Santo virá sobre você e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra “ (Lc 1,35). É uma “nova criação”, que fecunda Maria e desperta a vida para a humanidade e a Terra!
O Espírito Santo atuou na missão de Jesus. Quando ele começou a sua vida pública, tomou um texto do profeta Isaías que dizia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4,18). Jesus traz para este sopro renovador do Espírito Santo, desta vez como perdão que recria, cura, misericórdia, esperança, mensagem de libertação. Assim canta novamente Zé Vicente: “Quando o espirito de Deus soprou,  mundo inteiro se iluminou. A esperança na terra brotou, e o povo novo deu-se as mãos e caminhou”.

Maria não é somente a mãe de Jesus. Ela também faz parte do “povo novo”, da grande família de discípulos missionários, que escutam sua Palavra, cultivam no coração e a praticam (Lc 8,21). Desde o começo, quando ela está grávida, e encontra Isabel. Sua parenta ficou “cheia do Espírito Santo” (Lc 1,41). Maria também. Tanto que ela canta os louvores de Deus e proclama sua justiça recriadora, em vista de uma nova sociedade. É o Hino que chamamos de Magnificat (Lc 1,46-55).

Por fim, depois da morte e da ressurreição de Jesus, Maria está junto com a comunidade, preparando a vinda do Espírito Santo, que acontece no dia de Pentecostes (At 1,18 e At 2,1). Então podemos dizer que Maria é ungida pelo Espírito Santo, tanto como uma pessoa única, como também um membro da comunidade, que soma com outros homens e mulheres. A anunciação e Pentecostes são dois momentos fortes de uma bela história de vida. Começa no silêncio e na intimidade de Nazaré. Manifesta-se como palavra, anúncio, força, vigor na missão de Jesus e de sua comunidade. Maria é sempre assim: presença viva e atuante, pela força do Espírito Santo!

Publicado na Revista de Aparecida, janeiro de 2019.
Imagem: Maria de Nazaré, no Filme "Jesus de Nazaré", de Franco Zefirelli