sábado, 8 de dezembro de 2018

Qual o sentido do dogma da Imaculada Conceição

Qual o horizonte bíblico do dogma da Imaculada Conceição?
Como ele surgiu?
Qual a relação da Imaculada com "a queda" ou o Pecado Original?
Esse dogma diminuiria a dimensão humana de Maria?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Maria no natal


Dezembro tem cheiro de festa e há sempre motivos para a gente se encontrar. Promovem-se confraternizações no ambiente de trabalho, com troca de pequenos presentes. As pessoas saem para comemorar com os amigos e as amigas. Em muitos lugares, acontece o recesso entre o natal e ano novo, ocasião viver a gratuidade do tempo. Na igreja, celebramos com alegria o 4º domingo do advento e a festa do natal. E para terminar o mês, a passagem do Reveillon, com música, roupa especial e muita esperança para o próximo ano.

Dezembro tem sabor de família. Os parentes se encontram para a ceia de natal, e na hora do almoço há algo mais para apurar nossos sentidos: odor e sabor de comida, perfume nas pessoas, lembranças de infância que retornam. A gente troca presentes. E há aqueles que visitam quem está sozinho. Natal é para se viver junto com os outros.

Maria é figura de destaque no tempo do natal. Ela nos trouxe Jesus, que é o presente de Deus para a humanidade. Em vez de nos dar coisas, Deus se deu a nós. Ofereceu o melhor que tinha, seu filho que veio habitar junto da gente. Quando os reis magos vieram à procura do messias, encontraram “o menino e sua mãe” (Mt 2,11). Maria estava ali na gruta de Belém, junto com José, cuidando do seu bebê. E o que fizeram os reis magos? ajoelharam-se dele, e num gesto de gratidão, trocaram presentes com a família de Nazaré. Pois eles reconheceram que já tinham recebido grande presente, Jesus. Por isso, caminharam tanto tempo, viajando dias e noites.

Quando o Filho de Deus se faz presente em Jesus de Nazaré, a festa começa e um espírito de família toma conta de todos. O céu desce à terra. Assim aconteceu com os anjos e os pastores. Os primeiros anunciaram com alegria que algo novo estava acontecendo: o salvador nasceu! (Lc 2,10-11). Glorificaram a Deus e convidaram os pastores para fazer parte de festa! E eles aceitaram. Saíram correndo até Belém (Lc 2,15-16). Eles repetiram o gesto de Maria, que saiu apressadamente para visitar Isabel (Lc 1,39). Sabe por que? O amor tem pressa e quer se expandir, contagiar, florescer.
A família de Nazaré, desde o começo, não vive fechada em si mesma. Ao seu redor se reúnem os pobres pastores dos campos e os estrangeiros de diferentes povos, línguas e nações. Sem contar ainda os minerais, as plantas e os animais: ouro, incenso, mirra, ovelhas, burrinho e boi, como representou São Francisco no presépio. É uma grande família, uma comunidade.

Quando você visitar o presépio, deixe-se envolver pelo clima de festa, de família e de comunidade. Maria está ali, juntinho de Jesus e pertinho de nós. Com seu leite materno nutre o bebê. Com o calor de seu aconchego nos alimenta no seu amor de mãe. Como nos diz o Papa Francisco: “Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura”.

domingo, 7 de outubro de 2018

São Luís e a consagração a Jesus nas mãos de Maria

Você já deve ter ouvido falar de um livrinho chamado por alguns de “Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora”, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Este santo viveu na França e faleceu com 43 anos, em 1716. Sua obra foi escrita há aproximadamente 300 anos atrás, em 1712. Não se sabe bem porque, o manuscrito de São Luis ficou escondido e foi descoberto em 1842. Então, foi publicado e influenciou a vida de muitas pessoas.

São Luis foi um homem extraordinário. Filho de uma família rica, renunciou aos seus privilégios e se consagrou a Deus como padre. Era um grande missionário. Percorria cidades pregando o evangelho. Tinha um gênio muito forte e polêmico. Por isso, foi incompreendido em sua época. Sofreu perseguições, a ponto de ser proibido de celebrar a missa em algumas dioceses.

Uma característica forte de São Luís era o seu amor aos pobres. Desde o tempo do seminário já ajudava os colegas que não tinham recursos para pagar sua formação. Ele fundou congregações religiosas de homens e de mulheres, dedicadas a evangelizar, atender doentes e necessitados. Para ele, o evangelho e a promoção social andavam juntas.

São Luis alimentava uma espiritualidade centrada em Jesus Cristo, como mostra o seu livro “O amor da sabedoria eterna”. E era grande devoto de Maria. Escreveu por isso uma outra obra, para combater tanto aqueles que negavam a importância desta devoção, como também os que veneravam Maria e esqueciam de Jesus. Assim, na linguagem de sua época, ele conseguiu um equilíbrio sadio: dedicar a vida a Jesus, pelas mãos de Maria.

Infelizmente, hoje em dia há pessoas e grupos que não conhecem a vida e a obra total de São Luis e tomam somente alguns trechos de seu livrinho, espalhando confusão na Igreja. Dizem que temos que usar correntes, que somos escravos de Maria, que a consagração a Maria é mais forte do que a Jesus. Por isso, precisamos entender bem o pensamento de São Luis. Há muitas coisas preciosas em seus textos. Mas também há afirmações que já foram superadas e aperfeiçoadas, no correr da história da Igreja. O tempo não parou em 1712.  

Vamos mostrar então, nas próximas postagens, como São Luis Grignion de Montfort organizou este livrinho tão bonito, e a atualidade de sua mensagem.

domingo, 2 de setembro de 2018

Consagração a Jesus por Maria


A primeira oração de consagração a Jesus, pelas mãos de Maria, parece ser a de São João Damasceno (+749). Ele mostra que tudo se dirige a Cristo: “segundo se ensina na Bíblia, a honra que se tributa aos companheiros de serviço é uma demonstração do respeito e amor para Aquele que é o Senhor de todos”.
Veja esta prece tão bela, em tradução atualizada.
Hoje nós nos aproximamos de ti, Maria. Na verdade, tu és Senhora, Virgem e Mãe de Deus. A ti vinculamos nossas almas, na esperança, como a uma âncora sólida e segura. A ti consagramos inteiramente nossa inteligência, nosso coração, nosso corpo e todo nosso ser. Segundo nossa capacidade, te aclamamos com Salmos, hinos e cânticos espirituais.
Nós nos dedicaremos em honrar-te, pois és a mãe de nosso Senhor. Buscaremos a inspiração para glorificar-te, pois tu nos proporcionaste a vida. E assim manifestaremos os sentimentos de respeito e piedade que devemos a Nosso Senhor. Pois em Jesus colocamos todo nosso empenho.
Lembrar-se de ti, ó Maria, proporciona uma alegria, que ninguém pode tirar. E se recebem muitos dons.
Como sinal de gratidão, ó Maria, te ofereço estas palavras, que compus movido por um ardente amor para ti, reconhecendo minha fragilidade.
Recebe com benevolência essa nossa devoção, mesmo sabendo que meu desejo vai além de minhas forças.
Cuida de nós, bondosa senhora e mãe do bom Deus. Proteja e dirija tudo o que realizamos. Apazigua e integra nossas paixões e desejos. Conduz-nos ao porto tranquilo da divina vontade. E à eterna bem-aventurança, em que gozaremos da luminosa presença, da suavidade e da doçura do Verbo em ti encarnado. A ele, junto com o Pai, se tribute a glória, a honra, o poder e a grandeza, em união com Espírito Santo e vivificante. Agora e sempre, Amém.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Consagração e Maria


Atualmente, várias pessoas fazem a “Consagração a Nossa Senhora”, utilizando o método de São Luís Maria Grignon de Montfort. Para uns, é uma descoberta. Para outros, um problema. Principalmente devido ao uso das correntes e de se falar em “escravos de Maria”. Atendendo à solicitação de leitores, escreveremos uns artigos sobre o assunto. Para começar: o que significa “consagração” na bíblia? Qual é sua finalidade? Quais os significados desta palavra na vida da Igreja?

O Povo da Bíblia tinha o costume de consagrar a Deus o primeiro filho da família (o primogênito), o primeiro cordeiro do rebanho e os primeiros frutos da colheita (Ex 13,2; Ex 34,26). Era uma maneira bonita de expressar a gratidão a Deus e renovar a Aliança com Ele. Eis o sentido básico da consagração: agradecer, louvar, pedir a bênção e renovar o compromisso de ser fiel ao Senhor e seguir os seus caminhos. Também se consagrava o Templo e o dia de Sábado. Assim, tanto os judeus como os primeiros cristão se reconheciam como uma nação santa, pertencente a Deus, e chamada a proclamar as suas maravilhas (Ex 19,6; 1Pe 2,9). Jeremias sentiu isso, quando conheceu sua vocação: “antes que te formaste no seio de tua mãe, eu te conhecia e te consagrei para seres meu profeta” (Je 1,5).

No batismo, cada um é consagrado ao Pai, pelo Filho no Espírito. Mais tarde, confirma sua fé no sacramento da crisma. Há pessoas que se sentem chamadas a seguir Jesus mais de perto, por uma vida dedicada a ele, numa família religiosa com um carisma próprio. Você deve conhecer alguns: freiras, Irmãos e padres de congregações religiosas. Eles se consagram publicamente a Deus, pelos votos de pobreza, castidade e obediência. Nos últimos anos, “Novas comunidades” também estão compostas por consagrados(as), inclusive casais. O fato de se consagrarem de uma forma especial não os fazem melhores do que os outros. Eles devem trilhar um constante caminho de conversão e de renovar sua adesão a Jesus.

Cada cristão ou cristã em princípio está consagrado ao Deus Trino. E precisa atualizar seu compromisso de vida, para se manter no caminho certo. Dentre eles, alguns optam por uma vida radical de seguimento a Jesus, numa comunidade com espiritualidade e carisma próprios. A consagração consiste num caminho de vida, no qual alguém oferece a Jesus suas mãos, sua boca, seu coração. Ou seja, o que tem de mais precioso. Palavras e gestos, desejos e práticas. 

Para todos nós, Maria é o exemplo de discípulo-missionário que se dedica inteiramente a Deus, “de corpo e alma”. Então, para que se consagrar a Maria? Este será o tema da próxima postagem.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Os múltiplos sentidos da Visitação


O relato bíblico da visita de Maria a Isabel, que culmina com o canto do Magnificat (Lc 2,39-56), tem fascinado gerações e suscitado diversas interpretações. O que nos revela este encontro de duas mulheres grávidas, de diferentes gerações, unidas pela mesma esperança? Apresentaremos aqui algumas “chaves de leitura”, que se completam, como uma narração de diversos olhares, ou uma música polifônica, a muitas vozes.

Maria missionária
Logo após dizer seu “sim”, a jovem de Nazaré parte apressadamente para a região montanhosa onde vive sua parenta Isabel. O gesto fala por si. Diz de um deslocamento geográfico e existencial, que é deixar sua casa em Nazaré e ir ao encontro de outra pessoa. Afinal, naquele tempo, uma gravidez em idade avançada comportava riscos e exigia cuidados especiais. E lá vai Maria, a serva do Senhor (Lc 1,38) servir à Isabel, com o coração transbordando de alegria (Lc 1,28). Evangeliza pelo simples gesto de ser solidária.
No mundo marista, este texto, acompanhado de uma gravura, ganhou relevância no último Capítulo Geral. “Com Maria, rumo à Nova Terra” resume um apelo forte aos Irmãos e leigos(as). Ele se traduz por várias atitudes pessoais e gestos coletivos, como adotar um estilo de vida mais simples, cultivar relações de qualidade, simplificar as estruturas de animação e governo e, sobretudo, correr ao encontro das crianças e jovens mais necessitados. Assim, Maria é para nós não somente a “Boa Mãe” que nos acolhe carinhosamente nos braços, mas também a educadora que nos desafia a sair da comodidade e abrir novos caminhos. Especialmente neste tempo de “novo começo”, no qual se celebram os 200 anos do Instituto.

A reciprocidade da fé
Naquele tempo, mulheres grávidas, parturientes e com recém-nascidos eram ajudadas por outras mulheres. Em geral, pessoas maduras e com experiência, que já tinham dado à luz filhos e viviam nas redondezas. Porque Isabel precisaria de uma adolescente que, além de vir de outra região, não sabia nada a respeito de gravidez e de parto? Além disso, segundo Lucas, Maria teria deixado Isabel logo após o parto (Lc 1,56), quando uma mãe idosa poderia precisar muito dela.
Segundo L. Sebastiani (Maria e Isabel. Ícone da solidariedade), Maria foi à procura de Isabel movida pelo desejo de aprofundar, mediante o diálogo, o conhecimento da revelação que tinha recebido. Ou seja: para confirmar e ser confirmada na sua opção. A viagem à Judeia é um símbolo do caminho da fé, que precisa ser testemunhada e compartilhada. Ao mesmo tempo, Maria veio para servir e para aprender. Assim, dizer sim a Deus comporta promover encontros humanizantes e nutrir-se com eles.  Suscitar relações. A Palavra de Deus de Deus, comunicada por Gabriel, ouvida com autenticidade em Maria, é profundamente criativa e dialogante.
Esta segunda perspectiva da visitação, que é o da reciprocidade, nos coloca com mais lucidez e humildade no meio do Povo de Deus. Saímos do pequeno mundo das nossas certezas, dos lugares conquistados, e arriscamos a estabelecer relações novas, nas quais aprendemos e ensinamos. Não é este o primeiro sentido da “parceria” de Irmãos e leigos?

O encontro intercultural e intergeracional
 O biblista A. Casalegno mostra que o encontro de Isabel com Maria é tecido no evangelho de Lucas como uma antecipação do relacionamento de João Batista com Jesus. O primeiro representa o Povo de Israel, que anseia pela vinda do Messias. Batista prepara os caminhos do Senhor (Lc 1,76). Traz as conquistas do passado, a memória de uma longa história construída por muitas gerações. Isabel e João Batista sinalizam o lado positivo da tradição, que não é o tradicionalismo vazio e agarrado no passado. Já Maria e Jesus significam o novo tempo que irrompe, a realização da esperança. O futuro aberto com múltiplas possibilidades.
Um dos grandes desafios da educação e da evangelização nos tempos atuais consiste em promover o encontro de João Batista com Jesus, de Isabel com Maria, revertendo o tempo cronológico em tempo de Graça (Kairós). Como? resgatar o passado, aprendendo da história. E aceitar o ocaso de determinadas formas de existir que foram excelentes, mas se esgotaram. Ao mesmo tempo, acolher a novidade do Reino de Deus que irrompe em Cristo, no meio da ambiguidade das realidades humanas. Isabel e Maria sinalizam também o encontro da diversidade cultural e geracional, com seus desafios e enormes possibilidades.

Louvor e consciência planetária
O encontro de Maria com Isabel culmina com um Hino de Louvor, denominado “Magnificat”. Esta primeira palavra da versão latina significa: engrandecer ou cantar as maravilhas de Deus. Baseado no Cântico de Ana, mãe de Samuel (1 Sm 2,2-10), o magnificat começa com uma explosão de louvor e alegria: “Minha alma glorifica o Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador” (Lc 1,46-47). Expressa algumas características de Maria, como a inteireza, a humildade e a gratidão a Deus. Neste sentido, a visitação nos ensina que os processos pastorais, educativos e sociais dos maristas devem estar marcados por esses traços. Tais processos não se bastam a si mesmos. Reconhecemos as conquistas, mas rompemos os círculos egoístas, orgulhosos e autossuficientes. Como Maria, dizemos: Sim, o Senhor faz em nós maravilhas! Mas não retemos estes méritos para nós. Só ele é Santo (Lc 1,49). A bondade de Deus vai muito além dos nossos muros e da nossa religião, estendendo-se para um mundo sem fronteiras, para todos aqueles que o respeitam e o amam (Lc 1,50).
Por fim, o Cântico de Maria proclama, de forma profética, que a adesão ao projeto de Deus implica algo mais do que encontros interpessoais. No dizer do Papa Francisco, o amor é também civil e político, manifestando-se em todas as ações para construir um mundo melhor. O amor à sociedade e o compromisso pelo bem comum são uma forma eminente de caridade (Laudato Si, 231). Juntamente com os pequenos gestos diários, o amor social impele-nos a grandes estratégias que detenham eficazmente a degradação ambiental e incentivem uma cultura do cuidado, permeando toda a sociedade. A vocação para intervir juntamente com os outros nas dinâmicas sociais, faz parte da espiritualidade, é exercício da caridade, que amadurece e santifica o cristão (Idem). As ações comunitárias (e institucionais), quando exprimem um amor que se doa, transformam-se em experiências espirituais intensas.
Assim, o encontro de duas mulheres grávidas no interior da Palestina, numa terra sem nome, expressa hoje um grito pela consciência planetária. O cuidado recíproco de Maria e Isabel, numa pequena casa, se amplia para cuidar do Planeta, nossa Casa Comum!

Que a visita de Maria a Isabel nos abra caminhos novos de interpretação e vivência da fé, tais como a interpelação à missão, reciprocidade nas relações, encontros nas diferenças, louvor e compromisso no cuidado da Casa Comum. Colocamo-nos assim, com encantamento e esperança, no caminho do seguimento de Jesus.

Ir. Afonso Murad

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Mês de Maio

Em muitos lugares do nosso país, o mês de maio é dedicado a Maria. Quem não se lembra da coroação de Nossa Senhora, com flores, cantos e a presença encantadora das meninas? Esta tradição foi trazida da Europa. Lá, o mês de maio tem um sabor especial. No inverno rigoroso, as árvores perdem as folhas. Vem a neve. Mas neste mês ensolarado e com dias longos, a natureza refloresce. Folhas verdes nas árvores, muitas cores e cheiros de flores, pássaros e as primeiras colheitas. Tudo renasce. É bem diferente do nosso país, onde nesta época começa o frio do inverno ou há muita chuva.

Lá na Europa, faz muito tempo, antes do cristianismo chegar lá, no mês de maio faziam-se festejos em honra da deusa da vegetação, com cantos, danças e o cortejo de jovens que levavam ramos floridos. Tanta beleza se ligava também às declarações românticas entre os namorados. E festas com música, dança e recitação de poesia. Mesmo depois da cristianização, alguns destes ritos pagãos permaneciam no meio do povo. Então, com o crescimento da devoção mariana, em vários lugares estas festas deram lugar a uma homenagem especial à Maria. Em vez do louvar a deusa-mãe da natureza, se promoveu a veneração à Nossa Mãe Maria.

Tem-se notícia que aproximadamente pelo ano 1250, o rei Afonso X (na atual Espanha) associou o mês de maio à figura de Maria. Nos cânticos daquela época, louva-se a Deus pela abundância da natureza e pede-se a Maria que ela conceda a todos bênçãos materiais e espirituais. Trezentos anos mais tarde, São Filipe Neri ensina os jovens a homenagear a Mãe de Jesus, ornando sua imagem com flores, cantando louvores e também realizando gestos de conversão a Deus. E assim a devoção foi crescendo e se espalhando, de acordo com as características de cada região. Dedicar um mês a Maria se tornou uma tradição. Além de ladainhas e cantos, se firmou a prática da coroação de Maria, utilizando uma coroa de rosas. E no fim do mês, a oferta de um coração de prata, como expressão de no amor para com ela.

No Brasil, o mês de maio está associado ao dia das mães, no segundo domingo. Este feriado civil é recente e se tornou oficial em 1932. Então, se presta homenagem às nossas mães e também a Maria, a mãe de Jesus. Em muitos lugares se reza o terço com mais intensidade. As meninas coroam Maria a cada domingo, após a missa. Esta bela festa é uma oportunidade de nos deixar tocar pelo encanto e a beleza das crianças, a serem cuidadas e educadas. Reconhecemos com alegria que Maria é mãe amorosa e a rainha que permanece como servidora, conduzindo tudo e todos a Jesus.

Uma sugestão para você e sua comunidade: durante o mês de Maio, leiam sobre Maria na Bíblia, especialmente nos relatos de Lucas e João. Descubram as qualidades humanas deste mulher de Nazaré, que inspiram nossa vida de discípulos missionários de Cristo. Não se contentem em rezar o terço e fazer coroação. Precisamos conhecer mais sobre a mãe de Jesus, a partir da Bíblia. Assim, nossa devoção permanecerá equilibrada e estará ancorada na Palavra de Deus.

Recordemos as palavras do Papa Francisco: “Maria é a missionária que se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno. Como uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus” (Alegria do Evangelho, 286).

domingo, 8 de abril de 2018

Maria e o Ressuscitado

Como Maria viveu a experiência da ressurreição de Jesus? Os evangelhos não falam diretamente sobre isso. Podemos imaginar, e com razão, que Maria experimentou os mesmos sentimentos dos outros seguidores de Jesus. Com uma intensidade maior, pois ela é ao mesmo tempo a mãe do Messias e o exemplo dos discípulos-missionários de Cristo.

Todos aqueles que acompanharam Jesus durante a vida pública ficaram muito tristes com sua morte. Passaram pela noite escura da fé. As esperanças tinham sumido, como água que escorre pelas mãos. Diziam os discípulos de Emaús: “Nós esperávamos que ele fosse o libertador. Mas nossos chefes o entregaram à morte” (Lc 24-20-21). Então, aconteceu algo totalmente novo, que nunca houve antes: Jesus venceu a morte e estava vivo! (Lc 24,5). Não era a reanimação de um cadáver, pois um dia este morreria de maneira definitiva. O ressuscitado é o mesmo Jesus de Nazaré, mas com um corpo glorificado. Por isso, só é reconhecido à luz da fé (Jo 21,1-12).

Certa vez, os discípulos estão reunidos de portas fechadas! Eles temem sofrer o que Jesus passou! Então o Cristo ressuscitado vem ao encontro da comunidade e fica no meio deles, bem pertinho (João 20,19-22). Experiência semelhante vivem as mulheres que seguiam Jesus: Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago (Lc 24,1-10). E Madalena, de forma especial, é a primeira anunciar que Jesus está vivo! (Jo 20,11-18).
Olhe a mudança que acontece com eles.
- Se antes tinham medo, agora se revestem de coragem. Enfrentam as autoridades religiosas e políticas (At 4,8-13). Embora ameaçados, eles se negam a obedecer aos chefes judeus. Diz Pedro: “Não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20).
- Quando Jesus morreu, eles ficaram com o coração perturbado. Era muito difícil viver agora sem o mestre que lhes ensinava um novo jeito de viver. Então, Jesus ressuscitado lhes dá a paz, a serenidade. E sopra sobre eles o Espírito Santo, a presença permanente que anima, fortalece, ilumina, pacifica o coração, e os envia para a missão.
- Por fim, a tristeza dá lugar a uma grande alegria. Um contentamento que não passa! No lugar das lágrimas nos olhos, do choro incontido, agora vem o sorriso nos lábios e o brilho no olhar.

A mãe de Jesus viveu tudo isso. Ela, que concebeu, deu à luz, educou e acompanhou Jesus, sofreu muito com a sua morte violenta. E quando Cristo ressuscitou, Maria teve a certeza que valeu a pena ter se consagrado a Deus. Sua coragem foi fortalecida. Ela passou da tristeza à alegria profunda. E com os doze apóstolos e outras mulheres, Maria recebe o Espírito Santo (At 1,14. 2,1). Que Maria, testemunha da ressurreição, no ensine a viver como novas criaturas, renovadas pela ação transformadora da Graça (2 Cor 5,17). Amém.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Maria perseverante na fé

Dom Helder Câmara, bispo do Recife, poeta e místico, dizia que a maior graça para um cristão consiste em terminar bem aquilo que começamou. No Evangelho, Jesus nos adverte que não basta receber a semente da Palavra de Deus. É preciso cultivá-la, até que dê frutos. E isso não é fácil. Na conhecida parábola do semeador e dos tipos de terreno, Jesus adverte que há pessoas superficiais, nas quais as sementes da boa nova nem chegam a penetrar. Outras, por sua vez, acolhem a mensagem do Reino de Deus com alegria, mas as preocupações deste mundo e a dispersão sufocam-na, como os espinheiros. Por fim, os que cultivam a palavra, acolhem-na no coração e nela perseveram, produzem muitos frutos (Lc 11).

Maria, nossa irmã e mãe na fé, é o exemplo de perseverança na causa de Jesus. A gente se emociona quando imagina o seu “sim” generoso e decidido, quando ela ainda era uma menina. Com muito mais razão, ficamos felizes ao perceber como ela se manteve no caminho de Deus, enfrentando dificuldades e seguindo firme na sua opção. Duas cenas nos mostram a Maria perseverante na fé. A primeira, tão conhecida na devoção popular, consiste na sua presença silenciosa, triste, chorosa, desafiadora, diante da cruz de Jesus. Lá estão João, o discípulo amado; Madalena, a discípula amada, outras mulheres e a mãe de Jesus. Além da dor da morte, eles suportaram a vergonha de estar ao lado de alguém condenado como criminoso, na morte de Cruz. Maria persevera no sofrimento, diante do aparente fracasso. É grande prova de fé. O silêncio de Deus.

A segunda cena é bem diferente. A comunidade cristã está radiante, pois Cristo ressuscitou. Ele comunica paz e alegria. Mostra que valeu a pena perseverar com Ele. E chega a hora de partir de volta para o Pai e enviar o Espírito Santo. E ali está novamente Maria, constante na oração com os discípulos e outras mulheres (At 1,14). Ah, este é o lado alegre da perseverança. É terminar bem aquilo que ela começou de forma tão bela. Maria participa agora como mãe da comunidade cristã. Já colhe os frutos de um longo caminho de cultivo da fé.

Que Maria, mãe da perseverança, nos ajude a cultivar a Palavra de Deus, a resistir nos momentos de crise, a saborear e partilhar os bons frutos daqueles que permanecem em Cristo. Amém!