quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Maria, nossa mãe e irmã na fé

Há uma grande devoção a Maria nos povos latino-americanos e caribenhos, nesse continente que abrange desde o México até o sul da Argentina, incluindo as ilhas e países da América Central. Essa devoção mariana é fruto de um longo processo de inculturação da fé. Durante séculos a piedade Mariana se desenvolveu com diferentes expressões cultuais, como novenas, romarias, coroações, danças, músicas e consagrações. Nelas se acentua a dimensão divina de Maria, com muitos títulos, como “Guadalupe” (México), “Copacabana” (Bolívia), “Lujan” (Argentina) e “Aparecida” (Brasil). No entanto, a generosidade dos missionários europeus e o desejo sincero de evangelizar se misturaram com uma certa dominação cultural, que não levou em conta a originalidade e a dignidade dos povos indígenas e afro-descendentes.

Maria é venerada como Mãe de Deus e nossa mãe. Nos países de linha espanhola, é chamada de “A Virgem” e no Brasil, de “Nossa Senhora”. No entanto, pouco se conhece sobre Maria de Nazaré, seu caminho de fé no seguimento de Jesus. Ou seja, se reza a Maria, mas se fala pouco sobre como ela viveu o Evangelho anunciado por seu filho. Às vezes se projeta sobre a mãe de Jesus as características da mulher na sociedade machista e colonial: a mãe que fica em casa cuidando dos filhos,  a mulher obediente e submissa, calada e recatada. A passividade e a “vida escondida”. Ora, isso não corresponde mais ao perfil de grande parte das mulheres, que hoje estudam, trabalham, participam da vida pública, são ativas e desejam ser respeitas em sua dignidade.

A Igreja percebeu isso. Lentamente, ela recobrou o necessário equilíbrio entre uma devoção sadia à Mãe de Jesus e a descoberta de suas qualidades humanas e espirituais, apresentadas nos Evangelhos de Lucas e João. Maria se torna uma referência de vida não somente para as mulheres, mas sim para todos os cristãos. Assim se realiza o que propõe Paulo VI no documento sobre o Culto a Maria, de 1975:
Antes de mais nada, a Virgem Maria foi sempre proposta pela Igreja à imitação dos fiéis, não exatamente pelo tipo de vida que ela levou ou, menos ainda, por causa do ambiente sócio-cultural em que se desenrolou a sua existência, hoje superado quase por toda a parte. 
 Mas sim, porque, nas condições concretas da sua vida, ela aderiu total e responsavelmente à vontade de Deus (cf. Lc 1,38); porque soube acolher a sua palavra e pô-la em prática; porque a sua ação foi animada pela caridade e pelo espírito de serviço; e porque, em suma, ela foi a primeira e a mais perfeita discípula de Cristo, o que, naturalmente, tem um valor exemplar universal e permanente (Culto a Maria, 35).

O próprio Papa Paulo VI dizia que Maria não é somente nossa mãe, mas também nossa irmã na fé. Ela faz parte do grupo de seus discípulos e discípulas. Ensina e aprende com seu Filho Jesus. Então, ele nos convida a conhecer mais Maria de Nazaré, com as características que são apresentadas nos Evangelhos de Lucas e João.
Assim, nossa devoção a Maria se fortalece com as bases da Bíblia e se torna mais madura e dirigida a Jesus Cristo.