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domingo, 4 de dezembro de 2011

Mariologia: história e símbolo

Em minha reflexão mariológica compreendi que, dado o momento de maturidade intelectual em que nos encontramos, não se deve dar lugar a meras suposições e elucubrações mentais. Maria não necessita de nossas mentiras.  É necessário deixar de lado as imaginações (que muitas vezes funcionaram na mariologia), para nos situarmos o mais possível dentro do plano histórico. Hoje em dia a historiografia chegou a tal ponto de rigor e seriedade científica que seria desonesto não tê-la em conta na hora de falar sobre Maria.
(No entanto), Maria não é somente personagem histórico, que ficou no passado. Ela emerge como personagem arquetípico, contemporânea a todas as gerações.
Maria foi acolhida na Igreja que, nas diversas comunidades, guardou sua memória. Pouco a pouco começou a incluí-la em seu culto e liturgia. Depois, refletiu teologicamente sobre ela, tanto à luz de Jesus, confessado como Filho de Deus e redentor do mundo, como da Igreja, representada sob a imagem da Mulher, a Mãe, a Esposa, a Virgem, a Imaculada e a Assunta. Uma série muito complexa de interações entre piedade popular, progresso dogmático-teológico e magistério eclesiástico se cristalizou em uma mariologia dogmática. Ela expressa com evidência até onde chegou a compreensão eclesial e crente do mistério de Maria, e como se torna difícil de ser explicada teologicamente.
O objetivo da mariologia é oferecer uma síntese que situe Maria, a Mãe de Jesus, nosso Senhor, no lugar teológico e eclesiológico que lhe corresponde. Uma síntese capaz de favorecer, no estudante de teologia, a obtenção de uma visão apaixonada, inteligente e cordial do mistério de Maria; lúcida para descobrir e compreender a energia espiritual transformadora que Maria desencadeia na história da humanidade.
(Condensado de: José C.R. García Paredes, Mariología. Madrid: Biblioteca de autores cristianos – BAC, 2001, introdução, p.XVI – XVII)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Mariologia: conceito

A mariologia (ou marialogia) é a disciplina teológica que estuda o lugar de Maria no projeto salvífico de Deus e sua relação com a comunidade eclesial. Está presente sobretudo na Igreja católica.
Enquanto saber teológico, a marialogia é uma reflexão sistemática, crítica e sapiencial que parte da fé e à fé retorna. É sistemática porque articula e organiza as informações. Sendo crítica, emite um parecer sobre a forma como o cristãos católicos reverenciam Maria, em relação com o conjunto da fé cristã. Visa purificar aquilo que é exagerado ou anacrônico. Por fim, exercita a sabedoria, ao equilibrar a contribuição da tradição com as questões atuais.
A melhor marialogia é aquela que nos ajuda a seguir a Jesus com mais empenho e a compreender melhor aquilo que cremos.
A reflexão teológica sobre Maria se faz como uma escada de três degraus.
(1) No nível básico está o estudo sobre Maria de Nazaré na Bíblia. Os dados bíblicos sobre a mãe de Jesus são imprescindíveis, para não se construir uma marialogia sobre o vazio. Afinal, toda reflexão teológica baseia-se na Sagrada Escritura.
(2) No segundo nível se situam os dogmas marianos, que condensam grande parte da reflexão eclesial sobre ela, sem esgotá-la. Há quatro dogmas católicos sobre Maria: Maternidade divina, virgindade, imaculada conceição e assunção.
(3) O terceiro nível corresponde o estudo sobre o culto à Maria, compreendendo a devoção popular e a liturgia. No âmbito da pastoral, o culto, especialmente nas suas manifestações devocionais, é o aspecto mais visível e pode parecer o único importante.
Os três degraus se relacionam mutuamente, mas há uma prioridade da Sagrada Escritura sobre o dogma e a devoção. Caso contrário, já leremos os textos bíblicos sem nos deixar tocar por eles, e somente confirmaremos o que está proclamado nos dogmas.
A elaboração da marialogia atual exige, em primeiro lugar, uma boa base bíblica. Isso significa conhecer os textos sobre Maria, relacionando-os com o autor bíblico e sua teologia. Em segundo lugar, necessita percorrer a história da reflexão de fé da Igreja, para compreender como surgiram os dogmas marianos, e situá-los em seu contexto.
Além disso, para pensar sobre o sentido de Maria, o mariálogo deve relacioná-lo com outros campos da reflexão teológica que falam de Jesus, da Igreja, do mistério do ser humano à luz da fé e de sua salvação (cristologia, eclesiologia, a antropologia teológica e soteriologia). Ou seja, ele(a) passeia pelas disciplinas teológicas e com elas vai tecendo a mariologia.
O grande problema de livros, artigos, sites e blogs de marialogia reside num horizonte teológico estreito, que parece ver somente Maria, com exclusividade e parcialidade. Ora, se você vai escrever sobre Maria no evangelho de Lucas, deve conhecer bem a teologia do terceiro evangelista. Se alguém vai refletir sobre o dogma da Assunção, deve ir a fundo na disciplina teológica da escatologia, que trata sobre o último e definitivo em todas as coisas, inclusive a morte e a ressurreição. Não basta que seja uma reflexão recheada de citações dos Padres da Igreja, dos Concílios e dos Papas. Ela precisa ser consistente e abrangente.
Por fim, a reflexão atual sobre Maria está sintonizada com peregrinação existencial e espiritual dos homens e mulheres de hoje. Isso requer do teólogo uma aguçada sensibilidade histórica e dialogal. Ele(a) está atento não somente aos livros publicados, mas também aos fatos significativos e às suas interpretações. Assim, atualiza e reinterpreta os dados bíblicos-teológicos sobre Maria à luz dos sinais dos tempos e de novas práticas eclesiais.
Leia mais em: Afonso Murad. Maria, toda de Deus e tão humana, introdução
Figura: Ir. Anderson, MSC.