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quarta-feira, 8 de março de 2017
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Religiosidade popular e Devoção Mariana
Por vezes, utilizam-se as expressões “religiosidade popular” e “devoção popular” como sinônimas. No entanto, elas traduzem diferentes realidades. “Religiosidade popular” compreende uma visão unificadora sobre Deus, o mundo e o ser humano, que está presente nos setores populares e nas culturas pré-modernas, de forma assistemática, não reflexa, mas muito ativa. Alguns autores consideram como “religiosidade popular” as formas de relação com o Sagrado que caracterizam os membros de determinada religião, de maneira diferente da sua versão oficial. Trata-se de um conceito com chave predominantemente sociológica e cultural. Independentemente da visão adotada, as práticas devocionais fazem parte da religiosidade popular, como manifestações visíveis da relação com Deus nos segmentos sociais mais pobres e que tiveram pouco acesso à cultura letrada.
Quando o teólogo(a) ou o pesquisador(a) das Ciências da Religião estuda a religiosidade popular, pode abordá-la sob diferentes ângulos: da prática devocional, dos discursos religiosos e de seus diferentes agentes, das influências sócio-históricas e culturais nas experiências do Sagrado. Portanto, a religiosidade popular é muito mais abrangente do que a devoção popular. Isso é importante para o mariólogo, pois há o risco de se confundirem as duas realidades, que estão relacionadas, mas são distintas.
Recentemente, no horizonte católico, a abordagem sobre a religiosidade popular tem assumido certa conotação triunfalista e ingênua. Considera-se a religiosidade popular como um tesouro puro e intacto, que deve ser conservado e difundido o máximo possível, com a bênção e o selo oficial da autoridade. Em contrapartida, critica-se em bloco a teologia moderna, que apontou limites, anacronismos e desvios da religiosidade tradicional. A teologia é culpabilizada como a responsável pela perda da “fé inocente do povo”. E não se percebe que esta “religiosidade idealizada” em muitos lugares já não existe mais como no passado. Não por causa da teologia, mas da cultura urbana, consumista, individualista. Várias práticas devocionais são desenterradas do passado, mas se criam sentidos diferentes para ela. Esta religiosidade urbana (e suburbana) moderna corre o risco de se tornar individualista, intolerante para quem pense diferente e com pouco impacto ético na existência. Como afirmava Marcial Maçaneiro, é mais terapia do que profecia.
Tanto ontem como hoje, a religiosidade popular tem valores e limites. O Documento de Aparecida utiliza outro termo, quase sinônimo: “piedade popular”. E afirma que a piedade popular é um ponto de partida para conseguir que a fé do povo amadureça e se faça mais fecunda. É preciso ser sensível a ela, saber perceber suas dimensões interiores e seus valores inegáveis. É necessário evangelizá-la ou purificá-la, assumindo sua riqueza evangélica (DAp 262). Da mesma forma, A mariologia não pode simplesmente justificar e reforçar qualquer prática piedosa referente à mãe de Jesus, nem também cair no discurso crítico avassalador e desrespeitoso.
Muitos teólogos, pastoralistas e cléricos classificam as práticas religiosas marianas com o nome genérico de “devoção popular”. Tal procedimento não está errado, mas é impreciso, do ponto de vista tanto eclesial quanto cultural.
É comum reunir distintas práticas cultuais (terço, novenas, ladainhas, procissões) com o título de “devoção popular”, para diferencia-las das manifestações públicas e oficiais de culto na Igreja Católica. Neste caso, pensa-se que enquanto a liturgia seria área de atuação do clero, a devoção competiria aos leigos(as), ao fiéis simples. Por vezes, há até certa visão ingênua, como se a devoção fosse uma manifestação que brota da pureza do povo piedoso, e por isso tem que ser mantida intacta. Isso não corresponde à verdade dos fatos. De fato, existem devoções nascidas de leigos e propagadas por movimentos leigos, mas a qualidade delas abrange um leque enorme: da eclesiologia verticalista medieval à visão de comunhão do Vaticano II, de crendices inaceitáveis a expressões teológicas admiráveis. Há ainda devoções criadas por Institutos religiosos e seus fundadores, por presbíteros e, mais raramente, por bispos.
Em alguns momentos da História, o clero se apoderou de devoções de origem laical, porque percebeu que isso fortaleceria o poder eclesiástico ou serviria para reforçar a “identidade católica”, em confronto com os protestantes e a modernidade. Em cada tempo histórico, diferentes agentes eclesiais tomam a vanguarda na promoção de devoções. Pode haver cooperação ou competição entre eles. Vejamos um exemplo conhecido. A devoção a Nossa Senhora Aparecida nasceu em contexto laical, e se desenvolveu lentamente nos primeiros anos. Ganhou expressão e abrangência quando os padres redentoristas assumiram a paróquia da cidade, promoveram as peregrinações e difundiram a devoção pela Rádio Aparecida. Até então, era uma entre as tantas “Nossas Senhoras” no Brasil. A Mãe Aparecida ganhou crescente reconhecimento quando os bispos decidiram transformá-la em “padroeira do Brasil”, no início do século passado. Ao mesmo tempo, pessoas e movimentos leigos continuam disseminando esta piedade. Portanto, a devoção mariana não é somente “popular”, no sentido eclesial, de que provem do laicato. Como toda realidade religiosa, é ambígua e pode ser apropriada por diferentes personagens, a serviço de muitos interesses. Alguns, santos e admiráveis. Outros, espúrios e questionáveis.
O adjetivo “popular”, aplicado à devoção, tem também sentido cultural e sociológico. Acredita-se que tais devoções sejam “populares” porque nascem e são vividas principalmente nos setores sociais empobrecidos, no campo e nos bairros da periferia das cidades. No entanto, o adjetivo é impreciso. A religiosidade de cunho devocional é promovida, vivida e difundida simultaneamente por pessoas e grupos de diferentes segmentos sociais. Há grupos de elites ricas e poderosas que promovem a oração do rosário, como também há comunidades de gente pobre, e de setores médios. Hoje, a devoção mariana está espalhada em todos os segmentos sociais. Em sentido cultural e sociológico, não é mais popular. Foi, em outros tempos.
Um trabalho a ser empreendido pelos teólogos e cientistas da religião consiste em identificar os elementos comuns e a originalidade de cada segmento eclesial (e social), quando assume, reelabora e dissemina determinada prática de piedade mariana.
Pelas razões aludidas acima, parece mais plausível utilizar somente a palavra “devoção” sem o adjetivo “popular”, quando se trata das práticas cultuais católicas que se situam no campo da piedade, fora do âmbito litúrgico. E sem dúvida, a piedade mariana é a mais expressiva.
Afonso Murad. A ser publicado em novo livro de Marialogia.
Quando o teólogo(a) ou o pesquisador(a) das Ciências da Religião estuda a religiosidade popular, pode abordá-la sob diferentes ângulos: da prática devocional, dos discursos religiosos e de seus diferentes agentes, das influências sócio-históricas e culturais nas experiências do Sagrado. Portanto, a religiosidade popular é muito mais abrangente do que a devoção popular. Isso é importante para o mariólogo, pois há o risco de se confundirem as duas realidades, que estão relacionadas, mas são distintas.
Recentemente, no horizonte católico, a abordagem sobre a religiosidade popular tem assumido certa conotação triunfalista e ingênua. Considera-se a religiosidade popular como um tesouro puro e intacto, que deve ser conservado e difundido o máximo possível, com a bênção e o selo oficial da autoridade. Em contrapartida, critica-se em bloco a teologia moderna, que apontou limites, anacronismos e desvios da religiosidade tradicional. A teologia é culpabilizada como a responsável pela perda da “fé inocente do povo”. E não se percebe que esta “religiosidade idealizada” em muitos lugares já não existe mais como no passado. Não por causa da teologia, mas da cultura urbana, consumista, individualista. Várias práticas devocionais são desenterradas do passado, mas se criam sentidos diferentes para ela. Esta religiosidade urbana (e suburbana) moderna corre o risco de se tornar individualista, intolerante para quem pense diferente e com pouco impacto ético na existência. Como afirmava Marcial Maçaneiro, é mais terapia do que profecia.
Tanto ontem como hoje, a religiosidade popular tem valores e limites. O Documento de Aparecida utiliza outro termo, quase sinônimo: “piedade popular”. E afirma que a piedade popular é um ponto de partida para conseguir que a fé do povo amadureça e se faça mais fecunda. É preciso ser sensível a ela, saber perceber suas dimensões interiores e seus valores inegáveis. É necessário evangelizá-la ou purificá-la, assumindo sua riqueza evangélica (DAp 262). Da mesma forma, A mariologia não pode simplesmente justificar e reforçar qualquer prática piedosa referente à mãe de Jesus, nem também cair no discurso crítico avassalador e desrespeitoso.
Muitos teólogos, pastoralistas e cléricos classificam as práticas religiosas marianas com o nome genérico de “devoção popular”. Tal procedimento não está errado, mas é impreciso, do ponto de vista tanto eclesial quanto cultural.
É comum reunir distintas práticas cultuais (terço, novenas, ladainhas, procissões) com o título de “devoção popular”, para diferencia-las das manifestações públicas e oficiais de culto na Igreja Católica. Neste caso, pensa-se que enquanto a liturgia seria área de atuação do clero, a devoção competiria aos leigos(as), ao fiéis simples. Por vezes, há até certa visão ingênua, como se a devoção fosse uma manifestação que brota da pureza do povo piedoso, e por isso tem que ser mantida intacta. Isso não corresponde à verdade dos fatos. De fato, existem devoções nascidas de leigos e propagadas por movimentos leigos, mas a qualidade delas abrange um leque enorme: da eclesiologia verticalista medieval à visão de comunhão do Vaticano II, de crendices inaceitáveis a expressões teológicas admiráveis. Há ainda devoções criadas por Institutos religiosos e seus fundadores, por presbíteros e, mais raramente, por bispos.
Em alguns momentos da História, o clero se apoderou de devoções de origem laical, porque percebeu que isso fortaleceria o poder eclesiástico ou serviria para reforçar a “identidade católica”, em confronto com os protestantes e a modernidade. Em cada tempo histórico, diferentes agentes eclesiais tomam a vanguarda na promoção de devoções. Pode haver cooperação ou competição entre eles. Vejamos um exemplo conhecido. A devoção a Nossa Senhora Aparecida nasceu em contexto laical, e se desenvolveu lentamente nos primeiros anos. Ganhou expressão e abrangência quando os padres redentoristas assumiram a paróquia da cidade, promoveram as peregrinações e difundiram a devoção pela Rádio Aparecida. Até então, era uma entre as tantas “Nossas Senhoras” no Brasil. A Mãe Aparecida ganhou crescente reconhecimento quando os bispos decidiram transformá-la em “padroeira do Brasil”, no início do século passado. Ao mesmo tempo, pessoas e movimentos leigos continuam disseminando esta piedade. Portanto, a devoção mariana não é somente “popular”, no sentido eclesial, de que provem do laicato. Como toda realidade religiosa, é ambígua e pode ser apropriada por diferentes personagens, a serviço de muitos interesses. Alguns, santos e admiráveis. Outros, espúrios e questionáveis.
O adjetivo “popular”, aplicado à devoção, tem também sentido cultural e sociológico. Acredita-se que tais devoções sejam “populares” porque nascem e são vividas principalmente nos setores sociais empobrecidos, no campo e nos bairros da periferia das cidades. No entanto, o adjetivo é impreciso. A religiosidade de cunho devocional é promovida, vivida e difundida simultaneamente por pessoas e grupos de diferentes segmentos sociais. Há grupos de elites ricas e poderosas que promovem a oração do rosário, como também há comunidades de gente pobre, e de setores médios. Hoje, a devoção mariana está espalhada em todos os segmentos sociais. Em sentido cultural e sociológico, não é mais popular. Foi, em outros tempos.
Um trabalho a ser empreendido pelos teólogos e cientistas da religião consiste em identificar os elementos comuns e a originalidade de cada segmento eclesial (e social), quando assume, reelabora e dissemina determinada prática de piedade mariana.
Pelas razões aludidas acima, parece mais plausível utilizar somente a palavra “devoção” sem o adjetivo “popular”, quando se trata das práticas cultuais católicas que se situam no campo da piedade, fora do âmbito litúrgico. E sem dúvida, a piedade mariana é a mais expressiva.
Afonso Murad. A ser publicado em novo livro de Marialogia.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
O que Maria não pode

Maria vem depois do Cristo. É isso que a faz tão especial. Ela o segue.
Comecemos com uma palavra de irmão que leva a pensar. Se você gosta de Maria e fala dela com ternura, então pergunte-se: sua linguagem traz excesso de louvor a Maria? Maria pode ser louvada acima do Filho? A mãe pode ser mais lembrada do que o Filho?
Examine as expressões abaixo registradas. Onde está o erro ou a imprecisão delas?
- Ó Maria, teu nascimento nos trouxe a salvação.
- O terceiro milênio será de Maria.
- Todas as graças do céu nos vêm através de Maria.
- Tudo por Jesus, nada sem Maria.
- Se Jesus não atende, peça à mãe dele que você consegue!
- O terço é uma oração infalível. Maria sempre atende!
- O terço salvará o mundo.
- Ó Maria, concede-nos esta graça!
- Maria é mãe da Trindade.
- Maria está naquela hóstia.
- Jesus é o Filho da Rainha.
Agora responda a estas perguntas:
- Quem nos trouxe a salvação: Jesus ou Maria?
- O tempo, as coisas, os povos, a quem pertencem?
- Deus teria sempre que nos dar suas graças por Maria?
- Que conceito temos de Jesus? Ele se negaria a nos atender?
- Por que ele não atenderia e Maria sim?
- O que disse o Papa em 2002 sobre o rosário?
- O titular do Reino de Deus é Maria ou é Jesus?
- Qual o poder da reza do terço?
- Garantir a salvação pela reza do rosário não é exagerar a força de uma devoção que a Igreja acha muito salutar, mas não considera obrigatória?
- Quem pode nos conceder uma graça?
Um católico bem versado no catecismo sabe da importância que a Igreja dá a Maria como primeira cristã, exemplo de oração e de fidelidade ao Filho. Mas, quando, para exaltá-la, passamos por cima da doutrina da Igreja, mais prejudicamos do que ajudamos a fé católica.
Maria não é igual a Jesus. Ele é o Filho de Deus, e ela não é. Então, por que alguns se ofendem quando um pregador sugere que se fale mais de Jesus nos encontros, inclusive nos encontros para estudar Maria? Por que dizem que a sugestão de se redimensionar o seu louvor em alguns grupos é querer diminuí-la? A verdade a diminuiria?
Tudo aquilo que se refere a ela deve ser dito com clareza. Maria sabe o lugar dela. Nós é que precisamos reler o que a Igreja tem dito oficialmente sobre ela. Em Maria, o verbo “poder” vem depois do verbo “pedir”. Em Cristo, ele vem antes.
Desenho: Irmão Anderson, MSC.
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