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sábado, 4 de maio de 2019

Maria e Isabel: um encontro no Espírito

“Nós estamos aqui reunidos, como estavam em Jerusalém/ Pois só quando vivermos unidos é que o Espírito Santo nos vem”. Este hino nos recorda que o Espírito Santo fortalece os nossos laços, as nossas relações na comunidade. Quando cultivamos a amizade e a cooperação entre nós, o Espírito Santo se faz presente. Assim aconteceu desde o início, na Trindade, pois o Espírito Santo é o vínculo de amor que une Deus Pai com seu Filho amado. Ele é a manifestação do grande abraço, de total acolhida, entre o Deus criador e seu Filho redentor. O Espírito promove as relações, faz o amor germinar, seja lá no Céu, seja aqui na Terra. Ele renova o amor que já existe nas pessoas e em toda criação. Por isso, evocamos como no Salmo 104: Envia teu Espírito Senhor, e renova a face da Terra. O Espírito Santo ilumina a mente, para a gente escolher o caminho certo. Aquece o coração, para deixarmos florescer sentimentos bons e praticar o bem.

Lucas nos conta que logo depois que Maria disse o “Sim” a Deus, ela partiu com rapidez para encontrar sua parenta Isabel (Lc 1,39-45). Saiu da Galiléia e foi para a Judéia. Um caminho montanhoso e longo, difícil para se fazer naquele tempo, que não havia transporte coletivo. A amor tem pressa. Não se detém, nem fica parado. Vai ao encontro do outro. Imagine a alegria destas duas mulheres grávidas! Quanta esperança, expectativas e também alguns medos, pois a gravidez abre-se para um futuro inesperado. Maria saúda Isabel: abraço forte, beijos, olhos nos olhos, sorriso largo, mãos que acariciam o rosto... “Ah! Quanto tempo que a gente não se vê”.

Havia uma grande sintonia entre essas duas mulheres, apesar de muitas diferenças entre elas. Isabel, mulher idosa, casada com um sacerdote, morava na prestigiada região do sul. Maria, a jovem noiva de José, um simples carpinteiro e agricultor na desvalorizada Galiléia, no Norte. O Espírito de Deus faz com que as nossas diferenças sejam assumidas e se tornem uma riqueza para todos. Maria não precisou falar mais nada. Então, o feto pulou de alegria no útero de Isabel. Isabel ficou cheia do Espírito Santo. A mulher calada começa a falar. Exclama com voz forte! Reconhece a ação de Deus em Maria. E essa responde, com um lindo hino de louvor a Deus.

O Espírito Santo realizou maravilhas neste encontro singelo de Maria e Isabel. Assim também ele age em nós, nos gestos que promovem a união, a cooperação, a solidariedade e a sintonia entre as pessoas!

sábado, 26 de janeiro de 2019

Maria e o Espírito Santo (1)



O compositor Zé Vicente inicia o seu “Hino ao Divino” cantando assim: “Presente tu estás desde o princípio, nos dias da criação, Divino Espirito! És sopro criador, que a terra fecundou e a vida no universo despertou!”. De fato! Já no início da Bíblia se diz que “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gen 1,2). Deus cria, conserva e estimula a evolução de todo o Universo pela força do Espírito Santo. Por isso também cantamos, baseados no Salmo 104,30: “Envia teu Espírito, Senhor. E renova a face da Terra”.

O Espírito atua em Maria, no momento em que Jesus é concebido nela. O anjo Gabriel anunciou-lhe: “O Espírito Santo virá sobre você e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra “ (Lc 1,35). É uma “nova criação”, que fecunda Maria e desperta a vida para a humanidade e a Terra!
O Espírito Santo atuou na missão de Jesus. Quando ele começou a sua vida pública, tomou um texto do profeta Isaías que dizia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4,18). Jesus traz para este sopro renovador do Espírito Santo, desta vez como perdão que recria, cura, misericórdia, esperança, mensagem de libertação. Assim canta novamente Zé Vicente: “Quando o espirito de Deus soprou,  mundo inteiro se iluminou. A esperança na terra brotou, e o povo novo deu-se as mãos e caminhou”.

Maria não é somente a mãe de Jesus. Ela também faz parte do “povo novo”, da grande família de discípulos missionários, que escutam sua Palavra, cultivam no coração e a praticam (Lc 8,21). Desde o começo, quando ela está grávida, e encontra Isabel. Sua parenta ficou “cheia do Espírito Santo” (Lc 1,41). Maria também. Tanto que ela canta os louvores de Deus e proclama sua justiça recriadora, em vista de uma nova sociedade. É o Hino que chamamos de Magnificat (Lc 1,46-55).

Por fim, depois da morte e da ressurreição de Jesus, Maria está junto com a comunidade, preparando a vinda do Espírito Santo, que acontece no dia de Pentecostes (At 1,18 e At 2,1). Então podemos dizer que Maria é ungida pelo Espírito Santo, tanto como uma pessoa única, como também um membro da comunidade, que soma com outros homens e mulheres. A anunciação e Pentecostes são dois momentos fortes de uma bela história de vida. Começa no silêncio e na intimidade de Nazaré. Manifesta-se como palavra, anúncio, força, vigor na missão de Jesus e de sua comunidade. Maria é sempre assim: presença viva e atuante, pela força do Espírito Santo!

Publicado na Revista de Aparecida, janeiro de 2019.
Imagem: Maria de Nazaré, no Filme "Jesus de Nazaré", de Franco Zefirelli

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Maria e o Espírito Santo

Maria é especialmente contemplada pelo Espírito Santo. Torna-se mãe do Salvador devido à ação criadora dele. “O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus” (Lc 1,35).
Há uma relação clara da ação do Espírito na Anunciação com dois momentos-chave na missão de Jesus. No batismo: o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele, E do céu veio uma voz: “Tu és o meu filho amado; em ti está o meu agrado” (Lc 3,21s). E na transfiguração: Estava ainda falando, quando desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” (Lc 9,34s).
Na transfiguração uma nuvem desce sobre os discípulos e lhes cobre com sua sombra (Lc 9,34). Isso significa: envolver, proteger, revestir com a glória divina. Este fato nos lembra a nuvem que cobre a “Tenda do Encontro”,  ao acompanhar o Povo de Deus na sua peregrinação no deserto, rumo à terra prometida (Ex 40,35.37). Mais tarde, a tradição cristã relê este versículo e considera Maria como a nova tenda do encontro, na qual Deus se aproxima da humanidade por meio da encarnação de seu Filho.
O Espírito age em Maria não somente na encarnação do Filho de Deus, mas também lhe dando a energia para acolher o mistério divino, fazer-se serva e peregrinar como discípula do Senhor e mãe da comunidade.
O Espírito atua em Jesus, dá-lhe a força e poder de pregar e libertar (Lc 4,14.18). No tempo da Igreja, o Espírito é o poder de Deus,  concedido pelo ressuscitado aos que creem (At 1,8; 6,8; 10,38). Atualiza a presença de Jesus no mundo. Pelo Espírito, os seus seguidores operam maravilhas como Jesus: curar, perdoar, dar vida aos mortos, mover paralisados, expulsar as forças do mal, enfrentar os poderosos sem medo (At 3,6-10; 4,8-10). Na força do Espírito Santo, os cristãos enfrentam o sofrimento, a perseguição e a morte (At 12,1-5). A comunidade vive desafios novos, como a entrada dos pagãos no grupo dos seguidores de Jesus. É necessário arriscar e discernir a vontade de Deus à luz do Espírito, como acontece no Concílio de Jerusalém (At 15).
Maria participa da ação criadora do Espírito, individualmente, no seu próprio corpo. E toma parte da ação coletiva do Espírito em Pentecostes. Personagem central na encarnação, participa discretamente no mistério da difusão do Espírito a todos os povos.
Redescobrimos hoje a força do Espírito Santo na vida dos cristãos. Maria aparece como a figura do ser humano que se deixa moldar pelo Espírito. Nela o Espírito habita, faz morada, toca a corporeidade, a subjetividade, os desejos e as ações.
João Paulo II mostra essa ligação da ação do Espírito Santo em Maria, na anunciação e em pentecostes: “a caminhada de fé de Maria, que vemos a orar no Cenáculo, é mais longa do que a dos outros que aí se encontravam reunidos: Maria "precede-os", vai adiante deles. O momento do Pentecostes em Jerusalém foi preparado pelo momento da Anunciação em Nazaré. No Cenáculo, o itinerário de Maria encontra-se com a caminhada da fé da Igreja” (RM 26).
E Francisco nos diz que o Espírito Santo e Maria estão juntinhos, na nossa missão evangelizadora: Juntamente com o Espírito Santo, sempre está Maria no meio do povo. Ela reunia os discípulos para o invocarem (At 1, 14), e assim tornou possível a explosão missionária que se deu no Pentecostes. Ela é a Mãe da Igreja evangelizadora e, sem Ela, não podemos compreender o espírito da nova evangelização (EG 284).
Maria, templo do Espírito, é também profetiza da justiça e da misericórdia de Deus na história. Ela simboliza a humanidade transformada pelo Espírito. Este mesmo Espírito anima os que se empenham pela cidadania planetária, na qual se rompe a lógica da exclusão e se colocam juntos os humanos, a água, o solo, o ar, as plantas, os animais, e os ecossistemas. O Espírito, que dá a vida, renova por dentro a homens e mulheres, e os chama para cuidar da vida em toda a sua extensão, especialmente onde ela está mais ameaçada. Entre os mais pobres e excluídos. Em defesa da Terra e dos seus biomas.
O Espírito Santo faz com pessoas de diferentes línguas e culturas se entendam.  Ele nos impulsiona a cultivar a unidade, no meio das diferenças. Estar no Espírito significa superar os preconceitos, a intolerância, em favor do diálogo, do respeito e da colaboração recíproca. A começar da nossa comunidade, e passando pelas diferentes igrejas que formam a Igreja de Jesus. Por isso, a semana que antecipa pentecostes é especialmente dedicada a cultivar o ecumenismo. Na companhia de Maria, invocamos, como no Salmo 104: “Envia teu Espírito Senhor, e renova a face da Terra”.
Oremos:
Bendita és tu, Maria, templo do Espírito,
morada do Filho de Deus encarnado,
discípula e mãe ungida pelo Senhor Jesus. Amém


(Afonso Murad)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Maria e o Espírito Santo

Maria é mais do que terra vazia à qual vem o Espírito de Deus para criar. É mais do que um templo ou tabernáculo onde a nuvem de Deus se torna visível. Maria é uma pessoa, e o seu encontro com Deus deve ser tematizado a partir de sua realidade pessoal: a presença do Espírito em Maria implica uma série de traços de diálogo interpessoal e liberdade, de chamado e resposta, de amor e obediência. Isso nos leva a um campo inesperadamente novo de presença de Deus e de sentido do Espírito, que pode assim se concretizar:
- O Espírito aparece diante de Maria como o poder de Deus que se atualiza em forma de diálogo: é o campo de palavra e de resposta de Deus, encontro onde o poder do Altíssimo e a liberdade amorosa e confiante do ser humano se encontram.
- A partir desse momento, a realidade do Espírito de Deus, como poder de criação e presença salvadora do povo de Israel, não pode separar-se da atitude e da pessoa de Maria. Ela não é como um objeto ou uma espécie de terra sobre a qual o Espírito sobrevém de fora. Com sua aceitação e sua resposta, por ser amada e por sua obediência transparente, Maria se converte em expressão do Espírito.

Há uma relação mútua entre o Espírito Santo e Maria. Ele, como força de santidade fecundante de Deus, torna Maria Mãe de seu Filho. Assim, Maria se torna também aquela que revela e atualiza um traço radical do mistério do Espírito. E há também algo na direção inversa. Maria oferece ao Espírito de Deus um campo de realização e fecundidade. Somente por sua colaboração e transparência, o Espírito começa a ser, em plenitude, o campo de mistério e vida em que Cristo surge
(Condensado de: Xabier Pikaza, Maria e o Espírito Santo. Notas para um mariologia pneumatológica. São Paulo: Loyola, 1987, p. 41-42).

domingo, 23 de maio de 2010

Oração: Maria e o Espírito Santo

Pai materno, Fonte da Vida, nós te louvamos,
pois em ti somos, nos movemos e existimos.
Teu espírito criador, presente desde início na evolução do cosmos
baila sobre as águas,
sustenta, renova e leva à consumação toda a criação.

Jesus, nosso mestre e Senhor,
ungido pelo Espírito desde o começo de sua missão,
cheio do Espírito na tentação, no deserto, no meio do povo, na missão,
obrigado pois nos concedes o Paráclito,
o Espírito que nos consoma, nos confirma e nos abre para compreender a verdade peregrina,
que só se consumará quando Deus for tudo em todos.

Trindade Santa, nós te louvamos, pois vieste fazer morada em nosso meio.
E agora nos concedes o dom de sermos templos vivos do Espírito!
Nós te louvamos pela tua serva, Maria, mãe de Jesus
Agraciada por Deus de forma especial
Marcada pela ação fecundo do Espírito, que vem sobre ela como “força do altíssimo”,
que a reveste com sua sombra protetora e geradora de Vida.
Ela, como membro e mãe da comunidade,
junto com outros discípulos-missionários
prepara a vinda do Espírito em Pentecostes.

Com ela, proclamamos alegremente:
“O Senhor fez em nós maravilhas, Santo é seu nome”.
Como ela, vivemos a presença do Espírito santificador,
que não nos tira do mundo, mas sim nos livra da visão mundana.
A seu exemplo, somos místicos, homens e mulheres de Deus
e profetas: cidadãos lúcidos, críticos e esperançosos.
Pois cremos que o Senhor renova a face da Terra,
em múltiplos rostos e possibilidades. Amém!

Ir. Afonso Murad

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Maria e o Espírito Santo

Lucas organiza sua obra, que compreende o evangelho e os Atos dos Apóstolos, em três tempos. O primeiro (Lc 1,5 – 3,20), narrado de forma mais curta, é o do antigo Israel, que prepara a vinda do messias. O segundo tempo, que corresponde à grande parte do evangelho (Lc 3,21 - 24,49), apresenta Jesus de Nazaré, que inaugura o Reino de Deus e anuncia o Pai misericordioso, faz o caminho até Jerusalém, onde é morto e ressuscita. No terceiro tempo, nos Atos dos Apóstolos, situa-se a comunidade Igreja, que expande a salvação de Cristo até os confins da Terra, animada pela força do Espírito do Senhor ressuscitado.
Maria é a única pessoa presente nos três ciclos. Ao lado de Zacarias, Isabel e João Batista, Simeão e Ana, abre caminho para o Salvador, enquanto mãe do Messias. No tempo de Jesus, faz parte do grupo de seus seguidores, como exemplo de discípulo, que escuta, medita e põe em prática a palavra de Jesus. Por fim, enquanto membro da comunidade cristã, inaugura o tempo da Igreja, em Pentecostes. Aí se encontra a última referência a Maria, na obra de Lucas.
O Espírito Santo age em cada ciclo e faz o elo dos três tempos desta “história de salvação”. Na etapa da preparação, o Espírito é o poder de Deus que conduz as pessoas a Jesus. Pela ação do Espírito, personagens dos relatos de infância prenunciam a ação futura do Messias. Isabel, ao receber Maria grávida, fica repleta do Espírito (Lc 1,41) e profetiza sobre Maria. Simeão, que representa o povo de Israel ancião, tem o Espírito sobre ele e vai ao templo impelido pelo mesmo Espírito (Lc 2,25.27). João Batista anuncia que Jesus batizará no Espírito e no fogo da conversão (Lc 3,16). Neste contexto, Maria é especialmente contemplada pelo Espírito Santo. Torna-se mãe do Salvador por sua ação criadora. Há uma relação clara da ação do Espírito na Anunciação com dois momentos-chave na missão de Jesus: o batismo (Lc 3,21) e a transfiguração (Lc 9,34), nas quais o Pai revela sua identidade de Filho.
“O Espírito virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra, e por isso aquele que vai nascer será santo e chamado Filho de Deus” (Lc 1,35).
“Então o céu se abriu; o Espírito Santo desceu sobre ele (...) e uma voz veio do céu: Tu és meu filho, eu hoje te gerei” (Lc 3,21s).
“Sobreveio uma nuvem que os recobria (...) E uma voz fez-se ouvir da nuvem: Este é o meu Filho, aquele que eu escolhi, ouvi-o” (Lc 9,34s).
Nos três relatos, há uma palavra explícita de Deus sobre Jesus, como seu Filho. Há uma imagem comum na anunciação e na transfiguração, na qual uma nuvem desce sobre os discípulos e os cobre com sua sombra (Lc 9,34). Isso significa: envolver, proteger, revestir com a glória divina. Pode-se ver uma analogia com a figura da nuvem que cobre a “Tenda do encontro”, que acompanhava o Povo de Deus na sua peregrinação no deserto, rumo à terra prometida (Ex 40,35.37). Mais tarde, a tradição cristã releu este versículo, considerando Maria como a nova tenda do encontro, na qual, pela força do Espírito, Deus se encontra com a humanidade, por meio da encarnação de seu Filho.
O Espírito age em Maria não somente no processo de encarnação do Filho de Deus, mas também na sua fé, dando-lhe a força para acolher o mistério divino, fazer-se serva e peregrinar como discípula do Senhor.
O Espírito atua em Jesus. Leva-o ao deserto para ser tentado (Lc 4,1), dá-lhe a força e poder de agir e pregar (Lc 4,14.18). No tempo da Igreja, o Espírito é o poder de Deus que o ressuscitado concede aos que crêem (At 1,8; 6,8; 10,38). Atualiza a presença de Jesus no mundo. Pelo Espírito, os seus seguidores operam maravilhas como Jesus: curar, perdoar, dar vida aos mortos, mover paralisados, expulsar as forças do mal, enfrentar os poderosos sem medo (At 3,6-10; 4,8-10). A comunidade vive desafios radicalmente novos, como a entrada dos pagãos no grupo dos seguidores de Jesus. É necessário arriscar e discernir a vontade de Deus, iluminada pelo Espírito, como acontece no Concílio de Jerusalém (At 15). Na força do espírito, os cristãos enfrentam o sofrimento, a perseguição e a morte (At 12,1-5).
Maria participa da ação criadora do Espírito, individualmente, no seu próprio corpo. E toma parte da ação coletiva do Espírito, em Pentecostes. É membro eminente no mistério da encarnação, é membro discreto no mistério da expansão do Espírito a todos os povos.
Em muitos lugares do mundo, redescobre-se hoje a força atual do Espírito Santo na vida dos cristãos. Neste contexto Maria aparece como a figura realizada do ser humano, que se deixa moldar pelo Espírito. Nela o Espírito habita, faz morada, tocando sua corporeidade, sua subjetividade, seus desejos, sua ação. Esta percepção tão bela não deve dar azo a visões individualistas e espiritualistas. Pois, Maria, templo do Espírito, é profetiza da justiça e da misericórdia de Deus na história. Ela simboliza tanto a humanidade espiritualizada, quanto os que se empenham na luta pela cidadania planetária, na qual se rompe a lógica da exclusão, e se incluem os seres humanos nas diferentes etnias, gêneros, classes sociais, povos e nações, e todos os seres criados, do reino mineral, vegetal e animal. O Espírito, que dá a vida, nos anima a lutar pela defesa, pelo cuidado e pela recriação da vida, especialmente onde ela está mais ameaçada.

Fonte: A.Murad. Maria, toda de Deus e tão humana. Paulinas