domingo, 31 de maio de 2020

Visita de Maria a Isabel (em tempos de coronavírus)


Logo após receber o anúncio do anjo, Maria saiu apressadamente em direção da casa de Zacarias e Isabel. Deve ter feito um longo caminho, a pé ou no lombo de um burrinho. Viajou junto com outras pessoas que iam para o mesmo destino, pois as mulheres, numa sociedade patriarcal não podem andar sozinhas. Se Isabel morava no povoado de Aim Karim, o percurso seria de mais ou menos 32 horas. Nesses vários dias de caminho, Maria deve ter pensado e rezado muito. E quando chegou lá e entrou na casa de Isabel, a emoção foi muito grande. As duas se saudaram com beijos e abraços, olharam olhos nos olhos, e neste encontro circulou uma grande alegria. Ambas ficaram cheias do Espírito Santo. Isabel sentiu o filho se mexer dentro dela. Proclamou que Maria era a “bendita entre as mulheres” (Lc 1,41-45). Já Maria respondeu, entoando um cântico de louvor, de profetismo social e de recordação da fidelidade de Deus para seu povo (Lc 1,46-56). E as duas ficaram juntas alguns meses.

Imagine se Maria quisesse visitar Isabel hoje. Devido à ameaça do coronavírus, ela não poderia sair de casa e andar pelos caminhos da palestina, junto com muita gente. Maria pensaria em Isabel, que sendo idosa, estava no grupo de risco. Então, ela acharia um jeito de se fazer presente. Talvez teceria uma roupinha para o bebê e estaria em sintonia da oração. Deixaria para ir ao seu encontro quando tudo se acalmasse. Se fosse após o nascimento de Jesus, o encontro das duas mães com seus filhos seria uma festa!

Nos últimos meses aconteceu algo inesperado. Por causa do bem coletivo, da saúde de todos, foi preciso reduzir a mobilidade e ficamos em casa. Quem está animado pelo mesmo espírito de serviço de Maria, descobriu maneiras de exercitar a solidariedade e a entreajuda. Deu sinais de amor, mesmo à distância, para quem padece de solidão. Colocou seus talentos a serviço. São tantos exemplos bonitos. Vivemos a visitação sem fazer visita! Para cada ocasião, encontramos maneiras de mostrar que estamos todos em conexão. E colaboramos uns com os outros. Maria, mãe da solidariedade, rogai por nós.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Prece a Maria na Pandemia


Maria da Pandemia,
Rogai pelos que estão entubados nos hospitais,
Buscando um pouco de ar para sobreviver,
Agonizando e morrendo na solidão.

Rogai por seus familiares e amigos,
Nessa hora de angústia,
Quando a dor é maior.
E a esperança menor.

Rogai pelos médicos, enfermeiras,
Profissionais da limpeza, religiosos,
Todos os que cuidam dos contaminados.

Livrai-nos da indiferença e dos indiferentes,
Dos adoradores da morte,
Dos que celebram as desgraças alheias,
Dos que deveriam ser os primeiros em responsabilidade
E se colocam de forma fria e sórdida diante desses tormentos.

Rogai para que Deus ilumine os cientistas,
Que seja encontrado rapidamente um caminho
Para neutralizar a ação do vírus.

Quando tudo passar,
Que o ar permaneça limpo,
Que as águas permaneçam puras,
Que as florestas permaneçam em pé,
Que nossas ruas tenham o silêncio da paz,
Que nosso céu permaneça azul
Que todas as formas de vida continuem celebrando sua liberdade
Que a humanidade aprenda que a Terra não é lugar só da humanidade.
Que todos vivemos em uma Casa Comum
Amém!

Roberto Malvezzi (Gogó)

domingo, 3 de maio de 2020

O Cântico de Maria (Magnificat)

Como é bom cantar! Santo Agostinho dizia que os cânticos religiosos são uma oração em dobro. No tempo de Jesus, as pessoas entoavam de cor vários hinos e Salmos, que hoje encontramos na Bíblia. Nos grandes momentos de festa, o canto era acompanhado de danças. Se você abrir o livro dos Salmos, encontrará várias expressões de oração: louvor, ação de graças, pedido de perdão, recordação da atuação de Deus na Criação e na libertação do povo, preces de confiança, clamor  o sofrimento e na perseguição, renovação do compromisso da aliança, ditos de sabedoria, orações dos peregrinos para o templo. O evangelho de Lucas nos oferece também algumas orações e cânticos: do pai de João Batista (Lc 1,67-79), do velho Simeão (Lc 1,29-32), de Jesus (Lc 10,21), e de Maria (Lc 1,46-55).

O cântico de Maria foi chamado pelos católicos de “Magnificat”, por causa da primeira palavra de sua tradução em latim.  Ela significa: engrandecer, exaltar, reconhecer como Deus é magnífico! Imagine a cena: Maria chega na casa de Isabel e Zacarias, cansada da viagem, mas radiante de alegria. Saúda sua parenta: Shalom! A paz esteja com você! As duas mulheres, uma jovem e a outra, idosa, se abraçam carinhosamente, trocam uns beijos no rosto. Isabel proclama que Maria é feliz, por que acreditou na promessa de Deus! (Lc 1,45). A reação de Maria não podia ser outra: começa a louvar a Deus por aquilo que estava acontecendo com as duas. Então, ela lembrou do Canto de Ana, a mãe de Samuel (1 Samuel 2,1-11). Essa mulher era estéril, e por causa disso era humilhada e deixada de lado. Quando Deus lhe deu a graça de um filho, ela cantou os louvores de Deus e afirmou, com valentia, que o poder dos fortes foi quebrado e que os fracos sairão da opressão e serão promovidos.

Mas Maria não repete simplesmente o passado, e espontaneamente ela vai mudando a letra da música. Como Ana, ela exulta de alegria em Deus, salvador! Vai além. Reconhece que o Senhor fez maravilhas nela. Isso não é motivo de orgulho, e sim de gratidão. Ela diz para Deus: olha, como estou muito feliz, pois sinto que Sua misericórdia se estende a todos os que O respeitam (Lc 1,50)! A seguir, Maria canta a Deus com a força e a esperança dos profetas: Os poderosos não ficarão para sempre nos seus tronos! O Senhor fará justiça aos pobres e pequenos. Todos terão direito a uma vida digna, a começar da alimentação (Lc 1,51-53)! Assim, ela já antecipa as bem-aventuranças e as advertências de Jesus (Lc 5,20-24). E, por fim, como Maria se sentia membro do seu povo, ela agradece porque Deus é fiel às suas promessas. Nós fazemos parte dessa história! Deus nos socorre e nos acompanha!  Desde a hora que Abraão sentiu o apelo do Senhor, deixou tudo e partiu com sua mulher em direção à nova terra (Lc 1,54-55).

Eu imagino que enquanto cantava, Maria chamou Isabel para dançar, numa ciranda que vem até nós, hoje! Nessas duas mulheres grávidas até hoje a humanidade se reconhece como capaz de gerar vida, cuidar dela, resistir, estabelecer laços de ternura e recriar a esperança. Vamos cantar os louvores de Deus, com Maria! Vamos proclamar a justiça e a misericórdia de Deus. Amém!