Quando proclamamos “Maria, mãe de Deus”, estamos dizendo, conforme o dogma, que ela é a mãe do Filho de Deus encarnado. Maria não se tornou uma deusa, nem entrou na Trindade. Mas, como Deus-Comunidade se comunica conosco através de Jesus e do seu Espírito, a maternidade de Maria diz respeito a cada pessoa divina na Trindade.
Em relação a Deus-Pai, Maria é uma filha predileta. Ela foi agraciada com ternura pelo Criador, que a moldou com especial carinho. Ao mesmo tempo, Maria concretiza, de forma humana, a eterna geração que o Pai realiza com o Filho, no seio da Trindade. Como toda mãe ou pai, ela é figura do amor criador de Deus-Pai.
Em relação a Deus-Filho, Maria é mãe, educadora e discípula. O seu relacionamento com Jesus supera os laços de família. Maria é mãe, mas sua missão vai mais além. Esteve junto de Jesus durante sua vida terrena e, agora, glorificada, continua junto do Filho ressuscitado, na comunhão dos Santos. Quando se diz, em alguns cantos, que Maria é “mãe do criador”, não se fala aí de Deus-Pai, mas do Filho de Deus, que participa também da criação (Jo 1,2s). Maria é mãe de Deus-Filho, feito homem em Jesus Cristo. Não é mãe nem de Deus-Pai, nem do Espírito Santo.
Maria é uma pessoa plena do Espírito do Senhor. Como perfeita discípula de Jesus, acolheu o Espírito Santo e fez-se transparente a ele. Tornou-se um templo vivo de Deus e se transformou, por Graça, na mãe do Messias. A docilidade ao Espírito Santo explica a maternidade biológica de Maria e o seu coração tão aberto a Deus. Alguns místicos chamam Maria de “esposa do Espírito”. Esse título deve ser entendido em sentido metafórico, para expressar a intimidade mística de Maria com o Espírito.
A Igreja é mãe como MariaQuando nascemos, somos acolhidos na comunidade cristã, que nos recebe como mãe. A Igreja-mãe gera novos filhos pela fé, pelo batismo e pelo testemunho de lutar pelo Bem. A comunidade nos nutre por meio da oração, da eucaristia e da vida fraterna. Nos pequenos grupos, sentimos o colo e o aconchego de mãe. Somos ajudados, ouvidos, valorizados e educados. No seio da comunidade temos oportunidade de crescer como seres humanos e filhos de Deus.
A “opção preferencial pelos pobres” é uma das formas mais claras de a Igreja mostrar que é mãe. Ela se volta para os filhos mais necessitados, que estão privados de direitos elementares e realiza um serviço eficaz para superar as causas da pobreza.
A “opção preferencial pelos pobres” é uma das formas mais claras de a Igreja mostrar que é mãe. Ela se volta para os filhos mais necessitados, que estão privados de direitos elementares e realiza um serviço eficaz para superar as causas da pobreza.
Desenvolver a dimensão materna em cada ser humano
Santo Ambrósio, no século quarto, dizia que cada cristão é mãe como Maria, pois gera Cristo no seu coração. Hoje, numa sociedade tão marcada pela violência, pelo egoísmo, pela dureza nas relações humanas, pela destruição do meio ambiente, precisamos desenvolver atitudes maternas, uns para com os outros, e para com todos os seres. Quanto mais cultivarmos a ternura, a intuição, o cuidado, a acolhida, o zelo pela vida ameaçada, mais estaremos realizando nossa dimensão materna. Isso vale para homens e mulheres. E Maria, nossa mãe, nos ajudará nesta tarefa.
O dogma da maternidade divina no diálogo ecumênico
A maternidade divina de Maria é o dogma que encontra mais consenso entre as Igrejas cristãs, pois tem base bíblica e foi formulado no Concílio de Éfeso, no ano 431. Para a Igreja ortodoxa, “Theotókos não é um título opcional de devoção, mas a pedra de toque da verdadeira fé na encarnação. Negá-lo é colocar em questão a unidade da pessoa de Cristo como Deus encarnado” (K. Ware). A pessoa e a vocação de Maria só podem ser compreendidos no contexto cristológico. E porque se reverencia a Cristo como O Senhor, no mistério da criação, redenção e recapitulação, considera-se Maria a mãe de Cristo Nosso Deus, como também a mãe universal, de toda a humanidade, doadora de vida para toda a criação.
Bem mais complexa é a posição dos protestantes. Lutero aceitava atribuir a Maria o título de “Theotokos” (literalmente: “parturiente de Deus”. E a “fórmula da concórdia” da Igreja luterana, em 1557, diz: “nós cremos, ensinamos e confessamos que Maria é justamente chamada Mãe de Deus e que o é verdadeiramente”. Posição semelhante assume Zwinglio: “Maria é justamente chamada, ao meu ver, genitora de Deus, Theotókos”. Já Calvino prefere falar de “Mãe de Nosso Senhor” (Cristotókos). Hoje, os teólogos reformados que aceitam o título Theotókos insistem que a maternidade divina de Maria deve ser que ser compreendida exclusivamente em relação a Jesus; não como privilégio humano, mas sim fruto da Graça de Deus. E que não se considere Maria como uma deusa.
A maternidade divina de Maria é o dogma que encontra mais consenso entre as Igrejas cristãs, pois tem base bíblica e foi formulado no Concílio de Éfeso, no ano 431. Para a Igreja ortodoxa, “Theotókos não é um título opcional de devoção, mas a pedra de toque da verdadeira fé na encarnação. Negá-lo é colocar em questão a unidade da pessoa de Cristo como Deus encarnado” (K. Ware). A pessoa e a vocação de Maria só podem ser compreendidos no contexto cristológico. E porque se reverencia a Cristo como O Senhor, no mistério da criação, redenção e recapitulação, considera-se Maria a mãe de Cristo Nosso Deus, como também a mãe universal, de toda a humanidade, doadora de vida para toda a criação.
Bem mais complexa é a posição dos protestantes. Lutero aceitava atribuir a Maria o título de “Theotokos” (literalmente: “parturiente de Deus”. E a “fórmula da concórdia” da Igreja luterana, em 1557, diz: “nós cremos, ensinamos e confessamos que Maria é justamente chamada Mãe de Deus e que o é verdadeiramente”. Posição semelhante assume Zwinglio: “Maria é justamente chamada, ao meu ver, genitora de Deus, Theotókos”. Já Calvino prefere falar de “Mãe de Nosso Senhor” (Cristotókos). Hoje, os teólogos reformados que aceitam o título Theotókos insistem que a maternidade divina de Maria deve ser que ser compreendida exclusivamente em relação a Jesus; não como privilégio humano, mas sim fruto da Graça de Deus. E que não se considere Maria como uma deusa.
Uma palavra iluminadora
A maternidade de Maria tem sua raiz na graça de Deus, que a contempla e a cumula de amor divino. Maria responde com inteireza ao convite divino, na fé e através da fé, tornando-se mãe e discípula de Jesus. Enquanto membro da comunidade-Igreja, ela exercita uma missão materna que é puro serviço e nada retém para si. Ela é nossa “mãe e companheira na fé”, no horizonte cristão. Sua maternidade a coloca, antes de tudo, na comunidade de seus irmãos e irmãs, que, ontem como hoje, enveredam pelo fascinante caminho do seguimento de Jesus.
Afonso Murad
Afonso Murad