quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Maria e a política

                                                                                                   Texto do Padre Zezinho, SCJ


Não consta que Maria fosse uma jovem triste nem que cantava ou dançava. Provavelmente, se comportou como as jovens judias de seu tempo. Aliás, sabe-se tão pouco sobre ela que corremos dois riscos: idealiza-la perfeita demais, incapaz de rir ou brincar; ou como a jovem dedicada somente à oração. É verdade que, por seu chamado especial, foi diferente das demais mulheres. Afinal, não é sempre que se concebe um filho em suas condições. Mas foi igual às outras no aspecto mais comum da feminilidade e no seu modo bonito de ser mulher. Até aposto que ria, cantava e dançava. O Evangelho traz alguma coisa a respeito.

Lucas diz (cap. 1, 39-56) que ela acompanhou os últimos três meses de gravidez da já idosa Isabel e a intimidade do parentesco as fez cúmplices do mistério que as envolvia. Quem não crê achará inverossímil Isabel e Zacarias terem um filho especial e Maria ter um filho de Deus. Mas é como diz Isabel: “Feliz aquela que acreditou”. Maria foi ajudar Isabel, que, no dia do encontro, demonstrou saber do importante segredo da sua parenta. Maria não se conteve: agora poderia repartir sua alegria de poder ser mãe tão especial, já que os outros a achariam louca e pretensiosa. E ali mesmo, segundo Lucas, ela improvisou um canto, a partir do cântico de Ana, mãe de Samuel (1 Sm. 2, 1-10), e de outros que conhecia. Quem meditava as coisas de Deus e as guardava no coração (cf. Lc. 2, 19) era muito bem capaz de improvisar uma oração, como a rezada por Maria diante de Isabel. Maria cantou um pouco do livro do Deuteronômio, de Samuel, de Isaías e dos Salmos 111, 107, 103, 98 e 89.

O canto de Maria tem força teológica. Fala de um Deus misericordioso que pensa em todos os homens e mulheres, chama a todos, mas dá tarefas e missões especiais a alguns, sem, com isso, amar de maneira limitada; de um Deus justo que defende os pequenos e oprimidos, tira o poder da mão dos injustos e, um dia, dá chance aos pobres e pequenos, enquanto mostra, a quem tem tudo, a experiência de não ter. Teria sido também um canto político, improvisado por uma jovenzinha desinformada? Ou cheio de fé, ensaiado por alguém inspirado nas lutas e no sofrimento de seu povo? Se Maria cantou, então mostrou conhecer muito bem os erros e acertos de Israel, as profecias e as constantes presenças de Deus na história de seu povo. Trata-se, pois, de excelente oportunidade de refletirmos.

É difícil imaginar Maria inserida em política partidária ou indiferente à sorte de seu povo e incapaz de compreender o peso de sua missão. Seu canto tinha alta teologia e política, mas também amor e misericórdia. Só não vê quem não quer. A quem idealiza apenas como a mãe de um grande político judeu, o canto é um prato cheio; mas, para os que a imaginam como uma jovem mãezinha assustada, é mais difícil negar que ela tenha cantado. Maria amou a seu Deus, seu tempo e seu povo. E, nesse contexto, não é provável que ela tenha contado a Lucas o ocorrido naquele encontro: que cantou a experiência de ser mãe de alguém que anunciaria um novo tempo e uma ordem para o mundo. É mais um motivo para admirarmos essa mulher.

Um comentário:

Anônimo disse...

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