A visita de Maria a Isabel (Elizabeth, no texto original de Lucas) é uma narração forte, intensa, permeada de emoção e atitudes decididas. Não sabemos com as coisas aconteceram, pois não se trata de uma reportagem histórica e sim de uma narração histórico-simbólica. Por isso, vamos descobrir o sentido atual da visitação.
Tudo começa com Maria, que se levanta e vai apressadamente ao encontro de sua parenta Elizabeth. Atitude de desprendimento, de decisão: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer! (G.Vandré)”. A simples saudação já provoca mudanças. O feto pula de alegria no ventre de Elizabeth. Ela é tomada pela presença do Espírito Santo, que já está presente em Maria, a discípula-missionária. Brotam daí belas expressões de reconhecimento. A primeira é uma proclamação da comunidade de Lucas a respeito de Maria: “Feliz de você que a acreditou!”, “Bendita é você entre as mulheres e bendito é o fruto de seu ventre”. Maria responde com um cântico de louvor a Deus, recordando a ação do Senhor na sua vida e na história de seu povo.
Qual o motivo que teria levado Maria a visitar Elizabeth? Comumente, reconhecemos no gesto de Maria o modelo de atitude dos cristãos que, em espírito missionário, partem em direção aos outros para lhes anunciar a Boa Nova de Jesus. Ou então, o serviço simples, despojado de pretensões, de estar ao lado de quem necessita. Ou seja, anúncio e serviço. O texto de Lucas dá margem para entender assim o sentido da visitação. Os biblistas, ao lerem o texto em chave cristológica, apontam que o encontro de Maria com Elizabeth sinaliza a diferença entre João Batista e Jesus, para mostrar o lugar especial que o segundo tem, em relação ao primeiro. Elizabeth (e João) simbolizam a comunidade judaica que se abre à novidade de Jesus e de sua mensagem. Na visita de Maria a Elizabeth não acontece um encontro qualquer, e sim o simples e profundo encontro de duas histórias que se cruzam: a do Povo de Israel, que espera a vinda do Messias, e o Povo Novo que se inicia com Jesus, seus discípulos e discípulas.
Lilia Sebastiani, no livro “Maria e Isabel – Ícone da solidariedade” (Paulinas, 1998) acrescenta outra razão. Segundo ela, “naquele tempo era normal que as mulheres grávidas, ou parturientes, ou com bêbes recém-nascidos, fossem ajudadas por outras mulheres. Em geral, por mulheres maduras e de grande experiência, que tinham dado à luz muitos filhos e viviam nas redondezas. Não se vê porque Isabel deveria precisar da ajuda de uma mocinha que, além de vir de outra região, não sabia nada a respeito de gravidez e de parto (..) Maria teria deixado Isabel longo após o momento do parto (Lc, 1,56), exatamente quando a mãe idosa mais poderia precisar dela” (p.54).
Qual seria o sentido da viagem de Maria em direção a Isabel, além do serviço solidário? Conforme L. Sebastiani, “Maria foi à procura de Isabel movida pelo desejo de aprofundar, mediante o diálogo, o conhecimento da revelação que tinha recebido. Em outros termos: para confirmar e ser confirmada na fé. Sua viagem à Judéia é um símbolo do caminho da fé que precisa ser testemunhada, compartilhada, que precisa servir; dessa fé que se faz encontro, que é escuta da Palavra de Deus, Palavra que, quando é ouvida com autenticidade, é profundamente criativa e dialogante” (p.55).
Há tantos motivos para a visitação de Maria a Elizabeth! Que eles nos estimulem a promover encontros alegres, significativos, iluminadores, dialogantes, reveladores. Encontros que se iniciam na saudação calorosa, expressem comunhão de sentimentos e partilha, e se voltem para Deus, em louvor e gratidão: “O senhor faz em nós maravilhas, Santo é seu nome”.
terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Perfil de Maria na sociedade plural
Neste vídeo, produzido no seminário de Mariologia em Recife, apresento diferentes visões sobre Maria na sociedade brasileira. Dentre elas, destaco cinco : devocional católica, protestante histórica, protestante de missão, eclético e novas visões católicas. (Afonso Murad)
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Coroar a Maria, hoje
Partilho com vocë este texto de JB Libanio, muito apropriado para este mes de maio.
Os símbolos resistem à história que os gerou. Coroa, coroação remontam à Antiguidade. Vêm do Oriente. Os orientais amam as pompas, os ritos, as solenidades longas e festivas. O Ocidente romano opta pela sobriedade. Mas mesmo assim deixou-se seduzir frequentemente pelas belezas do Oriente.
Conhecemos coroações de reis, imperadores, papas. Paulo VI, ao despojar-se da tiara, doando-a aos pobres, encerrou a longa tradição de coroação de papas. As coroas simbolizam também vitórias desportivas ou literárias, triunfos militares, manifestações do poder e da divindade. Há as simples, como a coroa de louros.
As coroações de reis quase desapareceram. As democracias criaram uma conferição de poder absolutamente secularizada e despojada do esplendor das entronizações antigas. Entre os imperadores, sagrados nos ritos litúrgicos, estão os nossos dois Pedro I e II.
A coroação, no entanto, permanece viva na fantasia, especialmente infantil. Daí a importância da coroação de Nossa Senhora. Ela toca o coração inocente das crianças que se encantam do rito, do canto, da roupa, do conjunto gestual, de participar desse mundo diferente, bonito, de pureza. Tão diferente das misérias que elas vêem e sofrem a seu lado. A coroação arrebata-as para um nimbo suave e agradável. E os adultos, que não perderam a dimensão simbólica da vida, vivenciam com gozo tal momento litúrgico. O visível da inocência terrestre a coroar a Virgem do Céu arranca-os da realidade tão pouco inocente e tão longe do céu. A coroação de Nossa Senhora pertence ao patrimônio espiritual da Igreja. Mantê-la viva resguarda riqueza da alma religiosa brasileira.
A presença da Virgem Maria na vida e cultura do povo, malgrado o solapamento que vem sofrendo por parte de crentes influenciados por ondas de outra cultura e origem, permanece um valor, independentemente de devoções pessoais. Vibra a corda interior que nos torna a vida mais humana, sensível, poética. Eleva-nos de cotidiano desgastante e estressante para a presença do mistério. Maria simboliza, na sua realidade de Mãe de Jesus e de seus seguidores, o necessário lado feminino da fé e da religião.
Sob esse ângulo, a coroação de Maria oferece-nos um gancho para relacioná-la com o dia das mães. Há um jogo de distância e proximidade entre ambos. A coroação encontra em passado longínquo sua origem e por isso nos deixou marcas indeléveis no imaginário. Institui-se o dia das mães, em data recente, ligado a interesses comerciais. No entanto, ambas encontram-se no mais profundo do inconsciente humano. Coroação e mãe traduzem arquétipos, cujo conteúdo de imagem e de símbolo mexe com o inconsciente social, compartilhado por toda a humanidade. E a força desses símbolos aparece nas estórias infantis, nos mitos e nas lendas do povo e toca o interior de cada um de nós. Quem não deixa de sonhar, imaginar e sentir desejos elevados quando lhe soa a palavra mãe, lhe desenha a imagem da coroa ou lhe vem a recordação das coroações da infância? Necessita ter sido estragado simbolicamente para secar-se diante de tal manancial imagético.
A ressonância do termo mãe nem sempre corresponde à realidade concreta da mãe de carne que se tem. Mas o fato de sua alta força simbólica provoca duplo efeito positivo. Estimula as mães a realizarem na vida real aquilo que o mito mãe criou delas. Ter diante de si um horizonte amplo ajuda-as a andar em sua direção. O ser humano carece de ideais para prosseguir a caminhada no meio das dificuldades. Custa ser mãe hoje. Elas precisam dessa mola simbólica que as anime e fortaleça.
A imagem idealizada da mãe contribui para despertar nos filhos energias espirituais de crescimento humano. Esse amor tem dimensão espontânea de gratuidade e serve para mantê-los em atitude semelhante em relação aos irmãos e aos outros.
Coroar Maria hoje significa mais do que simples ato de piedade tradicional. Tem alcance religioso e simbólico que humaniza uma cultura em vias de perder a sensibilidade para realidades superiores e de afundar-se no hedonismo materialista.
Os símbolos resistem à história que os gerou. Coroa, coroação remontam à Antiguidade. Vêm do Oriente. Os orientais amam as pompas, os ritos, as solenidades longas e festivas. O Ocidente romano opta pela sobriedade. Mas mesmo assim deixou-se seduzir frequentemente pelas belezas do Oriente.
Conhecemos coroações de reis, imperadores, papas. Paulo VI, ao despojar-se da tiara, doando-a aos pobres, encerrou a longa tradição de coroação de papas. As coroas simbolizam também vitórias desportivas ou literárias, triunfos militares, manifestações do poder e da divindade. Há as simples, como a coroa de louros.
As coroações de reis quase desapareceram. As democracias criaram uma conferição de poder absolutamente secularizada e despojada do esplendor das entronizações antigas. Entre os imperadores, sagrados nos ritos litúrgicos, estão os nossos dois Pedro I e II.
A coroação, no entanto, permanece viva na fantasia, especialmente infantil. Daí a importância da coroação de Nossa Senhora. Ela toca o coração inocente das crianças que se encantam do rito, do canto, da roupa, do conjunto gestual, de participar desse mundo diferente, bonito, de pureza. Tão diferente das misérias que elas vêem e sofrem a seu lado. A coroação arrebata-as para um nimbo suave e agradável. E os adultos, que não perderam a dimensão simbólica da vida, vivenciam com gozo tal momento litúrgico. O visível da inocência terrestre a coroar a Virgem do Céu arranca-os da realidade tão pouco inocente e tão longe do céu. A coroação de Nossa Senhora pertence ao patrimônio espiritual da Igreja. Mantê-la viva resguarda riqueza da alma religiosa brasileira.
A presença da Virgem Maria na vida e cultura do povo, malgrado o solapamento que vem sofrendo por parte de crentes influenciados por ondas de outra cultura e origem, permanece um valor, independentemente de devoções pessoais. Vibra a corda interior que nos torna a vida mais humana, sensível, poética. Eleva-nos de cotidiano desgastante e estressante para a presença do mistério. Maria simboliza, na sua realidade de Mãe de Jesus e de seus seguidores, o necessário lado feminino da fé e da religião.
Sob esse ângulo, a coroação de Maria oferece-nos um gancho para relacioná-la com o dia das mães. Há um jogo de distância e proximidade entre ambos. A coroação encontra em passado longínquo sua origem e por isso nos deixou marcas indeléveis no imaginário. Institui-se o dia das mães, em data recente, ligado a interesses comerciais. No entanto, ambas encontram-se no mais profundo do inconsciente humano. Coroação e mãe traduzem arquétipos, cujo conteúdo de imagem e de símbolo mexe com o inconsciente social, compartilhado por toda a humanidade. E a força desses símbolos aparece nas estórias infantis, nos mitos e nas lendas do povo e toca o interior de cada um de nós. Quem não deixa de sonhar, imaginar e sentir desejos elevados quando lhe soa a palavra mãe, lhe desenha a imagem da coroa ou lhe vem a recordação das coroações da infância? Necessita ter sido estragado simbolicamente para secar-se diante de tal manancial imagético.
A ressonância do termo mãe nem sempre corresponde à realidade concreta da mãe de carne que se tem. Mas o fato de sua alta força simbólica provoca duplo efeito positivo. Estimula as mães a realizarem na vida real aquilo que o mito mãe criou delas. Ter diante de si um horizonte amplo ajuda-as a andar em sua direção. O ser humano carece de ideais para prosseguir a caminhada no meio das dificuldades. Custa ser mãe hoje. Elas precisam dessa mola simbólica que as anime e fortaleça.
A imagem idealizada da mãe contribui para despertar nos filhos energias espirituais de crescimento humano. Esse amor tem dimensão espontânea de gratuidade e serve para mantê-los em atitude semelhante em relação aos irmãos e aos outros.
Coroar Maria hoje significa mais do que simples ato de piedade tradicional. Tem alcance religioso e simbólico que humaniza uma cultura em vias de perder a sensibilidade para realidades superiores e de afundar-se no hedonismo materialista.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Videos sobre Mariologia
Elaboramos 10 videos sobre Maria, como elemento motivacional de formação básica de mariologia, a partir da imagem da viagem de trem. Veja a lista dos temas e clique para acessar.
1. Trem da mariologia:
http://www.youtube.com/watch?v=p44DTQoXvc0
2. Introdução Maria na bíblia:
http://www.youtube.com/watch?v=k2uUdKlOjKw&feature=related
3. Maria em Marcos e Mateus:
http://www.youtube.com/watch?v=Xw0vOWEKFU8&feature=related
4. Maria em Lucas (I): Perfeita discipula
http://www.youtube.com/watch?v=yzzcBb-AzNg&feature=related
5. Maria em Lucas (II): o Magnificat e o Espírito Santo
http://www.youtube.com/watch?v=_4bw3N1LDf4&feature=related
6. Maria em João. Bodas de caná:
http://www.youtube.com/watch?v=RO5raUxpPUw&feature=related
7. Maria ao pé da cruz e no Apocalipse
http://www.youtube.com/watch?v=cmFusaa8NjI&feature=related
8. Painel Síntese de Maria na Bíblia:
http://www.youtube.com/watch?v=-D2PDL_RZB4&feature=related
9. Dogma Maria mãe de Deus:
http://www.youtube.com/watch?v=FU4E_mJgh18&feature=related
10. Dogma Imaculada
http://www.youtube.com/watch?v=XPIFVdjGfxQ
1. Trem da mariologia:
http://www.youtube.com/watch?v=p44DTQoXvc0
2. Introdução Maria na bíblia:
http://www.youtube.com/watch?v=k2uUdKlOjKw&feature=related
3. Maria em Marcos e Mateus:
http://www.youtube.com/watch?v=Xw0vOWEKFU8&feature=related
4. Maria em Lucas (I): Perfeita discipula
http://www.youtube.com/watch?v=yzzcBb-AzNg&feature=related
5. Maria em Lucas (II): o Magnificat e o Espírito Santo
http://www.youtube.com/watch?v=_4bw3N1LDf4&feature=related
6. Maria em João. Bodas de caná:
http://www.youtube.com/watch?v=RO5raUxpPUw&feature=related
7. Maria ao pé da cruz e no Apocalipse
http://www.youtube.com/watch?v=cmFusaa8NjI&feature=related
8. Painel Síntese de Maria na Bíblia:
http://www.youtube.com/watch?v=-D2PDL_RZB4&feature=related
9. Dogma Maria mãe de Deus:
http://www.youtube.com/watch?v=FU4E_mJgh18&feature=related
10. Dogma Imaculada
http://www.youtube.com/watch?v=XPIFVdjGfxQ
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