terça-feira, 21 de junho de 2011

Maria e o Espírito Santo

Maria é mais do que terra vazia à qual vem o Espírito de Deus para criar. É mais do que um templo ou tabernáculo onde a nuvem de Deus se torna visível. Maria é uma pessoa, e o seu encontro com Deus deve ser tematizado a partir de sua realidade pessoal: a presença do Espírito em Maria implica uma série de traços de diálogo interpessoal e liberdade, de chamado e resposta, de amor e obediência. Isso nos leva a um campo inesperadamente novo de presença de Deus e de sentido do Espírito, que pode assim se concretizar:
- O Espírito aparece diante de Maria como o poder de Deus que se atualiza em forma de diálogo: é o campo de palavra e de resposta de Deus, encontro onde o poder do Altíssimo e a liberdade amorosa e confiante do ser humano se encontram.
- A partir desse momento, a realidade do Espírito de Deus, como poder de criação e presença salvadora do povo de Israel, não pode separar-se da atitude e da pessoa de Maria. Ela não é como um objeto ou uma espécie de terra sobre a qual o Espírito sobrevém de fora. Com sua aceitação e sua resposta, por ser amada e por sua obediência transparente, Maria se converte em expressão do Espírito.

Há uma relação mútua entre o Espírito Santo e Maria. Ele, como força de santidade fecundante de Deus, torna Maria Mãe de seu Filho. Assim, Maria se torna também aquela que revela e atualiza um traço radical do mistério do Espírito. E há também algo na direção inversa. Maria oferece ao Espírito de Deus um campo de realização e fecundidade. Somente por sua colaboração e transparência, o Espírito começa a ser, em plenitude, o campo de mistério e vida em que Cristo surge
(Condensado de: Xabier Pikaza, Maria e o Espírito Santo. Notas para um mariologia pneumatológica. São Paulo: Loyola, 1987, p. 41-42).

3 comentários:

Erik de Cravalho, CM disse...

Louvemos a Deus pela sua infinita misericórdia e por seu amor incondicional e insistente a todos os seres!
É com esta expressão de agradecimento e reconhecimento à Deus que inicio o meu comentário sobre este texto tão profundo e tão importante para o processo de maturação da nossa fé. Este texto contribui muito para o reconhecimento da necessidade de abertura à Graça de Deus para que ela gere bons frutos em nós. Portanto, por mais que a Graça seja constante e se manifeste a todas as pessoas, é necessário que abramos o nosso coração, concedamos este “campo de realização e fecundidade” à Deus, como fez Maria, para que a Graça aconteça. Entremos na escola da Fé e que Maria seja a nossa pedagoga, para nos ensinar o melhor caminho a seguir rumo ao Pai.

Wagner Ap. Ferreira, scj. (Ista V Per. Teol.) disse...

Muitas vezes a imagem que se tem de Maria é de uma pequena menina, fraca e assustada diante do projeto salvífico de Deus. Quase se tira a sua liberdade diante do projeto de Deus, há uma tendência de divinização de sua pessoa, esquecendo de sua humanidade.
Maria, a jovem que disse sim a Deus, ao seu projeto, é Mulher, é humana, mas não é frágil, é forte. Essa sua força vem de sua fé, da sua confiança em Deus. Essa Fé, essa força que a permite aceitar o desafio de ser Mãe do Filho, lhe dá a abertura e a fertilidade para ser fecundada pelo Espírito Santo. Esse processo de fecundidade não é forçado, mas dialogado, respeita-se o disposição de ambas as partes, de Maria e de Deus, da Trindade. Há uma troca recíproca de Amor entre ambos, Maria é amada pelo Espírito, e ela também o ama, dando uma resposta positiva ao Projeto do Pai. É nessa troca de Amor que se deixa fecundar pelo Espírito, tornado-se Mãe, não só de Jesus, mas de Jesus Cristo, o Verbo feito carne. Humano e divino se fundem em seu ventre, se tornam um só.
Assim também nos somos férteis na fé, ao darmos uma resposta positiva ao Projeto do Pai somos fecundados pelo Espírito, geramos Cristo em nós e nos nossos irmãos. Maria, Mulher e Humana, é exemplo de que é possível ser discípulo fiel em nossa humanidade.

Wander de Oliveira Souza - ISTA disse...

A relação entre Maria e o Espírito Santo apresentada neste texto considera dois “dinamismos” caros ao homem moderno: o exercício da liberdade e a colaboração ativa no mistério salvífico. Isso nos leva a refletir sobre os desafios que a graça divina enquanto iniciativa de Deus em relação ao ser humano pode sugerir: desafio ao discernimento, à vivência responsável da liberdade. O ser humano que acolhe em si a graça o faz não por coação, mas mediante o diálogo entre duas liberdades. Vale ressaltar que a liberdade é uma construção, processual, requer abertura à ação do Espírito. Entre o anúncio do anjo e a resposta de Maria (cf. Lc 1, 26-38) houve um vácuo, um silêncio meditativo, respeitoso que ao longo de sua caminhada foi sendo progressivamente preenchido pela compreensão e adesão ao projeto de Deus.