Em
ambientes católicos é comum encontrar pessoas e grupos que atribuem a Maria os
títulos de “corredentora” e “medianeira”. Baseiam-se no fato de existir uma
longa tradição devocional, que justificaria tais títulos. Realmente, esses
foram aplicados a Maria nos últimos dois séculos, inclusive por alguns Papas,
embora não estejam presentes de forma significativa no primeiro milênio, tanto
no oriente quanto no ocidente. Ou seja, não remontam à longa Tradição da
Igreja, mas somente a uma parte dela. Importa também levar em consideração que
certas afirmações sobre Maria não podem ser absolutizadas e retiradas de seu
contexto. Antes, devem ser compreendidas dentro do horizonte em que foram
formuladas, e reelaboradas com a perspectiva da visão mariológica do Capítulo 8
da Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II.
O
problema aflora atualmente quando movimentos marianistas se põem a defender a
criação de novos dogmas marianos, a partir da prática devocional,
desrespeitando e desvalorizando o Concílio Vaticano II, como se ele fosse algo
secundário.
Vejamos
os principais argumentos apresentados a favor de um novo dogma mariano, o da
corredenção, e os argumentos contrários. Para tal síntese, usar-se-á
principalmente o livro “María corredentora? Debate sobre um título mariológico”
de H. Munsterman (Paulus, 2009).
Segundo
seus defensores, o título de Corredentora tem se aplicado à Maria há muito
tempo, aparece com mais clareza e maior frequência no Magistério recente, de
Pio IX a João Paulo II na Encíclica “Redemptoris Mater”, embora não tenha sido
assumido pelo Vaticano II. Maria pode ser chamada com propriedade de
Corredentora em virtude do plano divino de associá-la plenamente à pessoa e à
obra redentora de seu Filho. Maria cooperou com nossa redenção: (1) Crendo nas
palavras do Anjo Gabriel e dando seu “sim” no mistério da encarnação, e (2)
aceitando todos os sofrimentos que experimentou seu filho nas dores da Cruz.
Maria é corredentora porque, abdicando de seus direitos de Mãe, imolou a seu
Filho, oferecendo-o voluntariamente pela salvação da humanidade.
Devido
à associação tão intensa com a obra salvífica de seu filho, pode-se afirmar que
Ela verdadeiramente redimiu a todos e pode ser chamada corredentora do gênero
humano. A corredenção mariana deve ser entendida como uma função subordinada,
especial e extraordinária de Maria na obra salvadora de seu Filho. Mesmo que
Cristo seja o único Mediador, nada impede que haja outros mediadores, com
mediação secundária, subordinada à de Cristo. (Fonte: http://www.escuelacima.com/corredentora.html).
A
pesquisa histórica, no entanto, mostrou que o título “corredentora” não tem
raízes históricas profundas. É praticamente desconhecido na patrística. O
renomado mariólogo René Laurentin, no clássico livro “O título de Corredentora. Estudos históricos. Roma/Paris, Ed. Marianum,
1951 (original em francês), traz informações preciosas sobre o tema. Laurentin
mostra que na idade média alguns autores aplicam o título de “redentora” a
Maria, no sentido de que ela deu à luz ao redentor. Com o desenvolver da
devoção medieval a partir do século XII, a atuação de Maria passa a ser
compreendida também no momento da cruz. Isso gera conflitos, pois redentor na
cruz somente é Jesus. Para diminuir os equívocos, cria-se o termo
“co-redendora”.
Os
dois títulos coexistiram por um bom tempo, praticamente até o século XVIII.
Laurentin sustenta que o título “corredentora” é utilizado durante todos esses
séculos numa pequena minoria de obras e raramente por grandes teólogos. Já no
início do século passado, com o rápido crescimento do marianismo, o termo
ganhou corpo e se encontra disseminado, como em Bover, Roschinni, Kolbe, E.
Stein, Escrivá, Padre Pio... No magistério, a expressão “corredentora” aparece
pela primeira vez num discurso de Pio XI, em 1930. Portanto, não se fundamenta
em fontes consistentes na história da Igreja. É algo relativamente recente, dos
últimos 100 anos.
O
discurso sobre a corredentora se serve de dois grandes argumentos teológicos
pré-conciliares, ligados à teologia da Graça: redenção objetiva e paralelismo
Maria-Eva. Usa-se a distinção entre “redenção objetiva” e “redenção subjetiva”,
proveniente da teologia de M.J. Scheeben. A redenção objetiva refere-se à obra
salvífica de Cristo, consumada na cruz. E a redenção subjetiva diz respeito à
aplicação individual dos efeitos dessa obra a cada cristão e à Igreja. Todos os
fiéis participam da redenção subjetiva, mas somente Maria atua, de “maneira
única e ativa”, na redenção objetiva, por ser a mãe do salvador e sofrer com
ele na cruz.
Este
discurso recupera, num contexto muito diferente do original, o paralelismo
entre Eva e Maria, que aparece em Justino (+165) e Ireneu de Lyon (+202).
Afirma-se que pelo Sim de Maria, no momento da Anunciação, é anulada a queda de
Eva. Neste sentido, Maria coopera na salvação. Ora, basta conhecer um pouco de
teologia bíblica, para constatar a fragilidade do argumento. Maria de Nazaré é
personagem histórico. Eva é figura simbólico-mitológica, pois não existiu como
pessoa. Tal paralelismo foi útil no século II. Hoje, se mostra anacrônico,
impreciso do ponto de vista linguístico, além de trazer consigo um ranço
patriarcal e machista, ao culpabilizar a mulher pela origem do mal no mundo.
Hendro
Munsterman, no livro citado (Maria corredentora, Paulus, 2009, p. 71-89) elenca
argumentos contra o uso do termo corredentora.
Apresentamos aqui uma síntese e reelaboração do pensamento do autor. Quais
seriam os inconvenientes do termo “corredentora”, aplicado a Maria?
-
O título fere a unicidade da redenção
realizada por Cristo. A Bíblia é clara: redentor e salvador, somente Jesus!
(1 Tm 2,5; At 4,12). Do ponto de vista puramente lexical, o termo coredemptrix
é problemático e ambíguo. Mesmo que se diga que o prefixo “co” não significa
estar no mesmo nível de Jesus, a imprecisão permanece.
-
O titulo é ambíguo. Nas nossas
línguas modernas, o prefixo “co” em grande parte das palavras significa ou
subentende uma igualdade entre duas entidades. Por exemplo: coproprietário,
coassociado... Tal imprecisão semântica deixa margem para pensar que Maria não
é salva por Cristo, pois ela ajuda a Cristo no processo de redenção. Quando um
determinado termo ou conceito necessita de muita explicação, é sinal de
inadequação. E não se trata somente da interpretação dada ao prefixo “co”. Os
termos “redenção” e “salvação” representam doutrinas precisas. Já a idéia de
corredenção não goza de consenso de interpretação.
- Ele Torna
obscuro o papel do Espírito Santo. Na realidade, quem atua como
“corredentor” é o Espírito Santo, que realiza nos corações o encontro salvífico
do cristão com o Pai e o Filho. Ao transferir tal atribuição para Maria, se
olvida esta tarefa do Espírito.
- O conteúdo de
“corredentora” reflete um sistema teológico ultrapassado. Segundo W.
Beinert, a dificuldade de refletir sobre este tema reside na teologia
(neo)escolástica, que reduziu a conceitos o que os Padres da Igreja escreveram
em linguagem imaginária e simbólica. Quando Ireneu diz que “Maria é causa de
salvação para o gênero humano”, não está fazendo uma afirmação dogmática. Mas
foi (e ainda é) interpretado assim. Por isso, é melhor recorre ao método da
História da Salvação, preconizado pelo Vaticano II, do que se enredar em
conceitos prévios, que por vezes são ambíguos e inoperantes.
-“Corredentora”
serve à mariologia desequilibradamente maximalista. No século
passado, o título situava Maria como coadjuvante de Jesus, na assim chamada
“redenção objetiva”. Com a virada do Vaticano II, a tendência inicial consistiu
em enfatizar a participação de Maria na “redenção subjetiva”, enquanto modelo
da Igreja. De uma mariologia predominantememente cristotípica (em comparação
com Cristo) passou-se para uma eclesiotípica (em relação com a Igreja). No
entanto, o neoconservadorismo supervaloriza a Igreja, no processo de redenção.
E Maria, também. O título corredentora serve a este propósito.
-
A argumentação fundamenta-se pouco na
bíblia e na patrística e privilegia testemunho de videntes e determinada
interpretação dos papas. Basta ler os escritos dos movimentos marianos que
defendem mais este dogma para perceber que a construção de sua doutrina se
baseia numa leitura prototípica do Antigo Testamento, sem levar em conta a
contribuição da teologia bíblica, faz uma leitura escolástica dos padres da
Igreja (paralelismo Eva e Maria), não levando em conta sua linguagem simbólico-alegórica,
e se serve de textos de papas da era mariana (e João Paulo II). Para completar,
usam o argumento de videntes recentes, como Ida Peerdeman, que em suas
mensagens dizem “Maria solicita a definição de um novo dogma!”
-
O título nega o acordo de católicos e
luteranos sobre a justificação. Em 1999, a Igreja católica e Federação
luterana mundial assinaram a “Declaração comum a respeito da doutrina da
justificação”. Foi um passo importantíssimo para curar feridas no seio do
cristianismo ocidental, apontar os elementos comuns e reconhecer de forma
respeitosa as diferenças entre as duas confissões cristãs sobre esta questão
teológica fundamental. No documento se afirma: “Quando os católicos dizem que a
pessoa humana coopera por seu consentimento no agir justificante de Deus, eles
consideram tal consentimento pessoal como sendo um ato da graça e não o
resultado de uma ação onde a pessoa seria capaz disso” (n.20). Ou seja,
trata-se de uma resposta ativa do ser humano à proposta divina, possibilitada pela
mesma graça. Ora, o termo “corredentora” suscita impecilhos na teologia da
Graça, pois põe na sombra o fato de que a cooperação de Maria na obra da
salvação é manifestação da graça de Deus.
- O título cria
enormes problemas ecumênicos com ortodoxos e protestantes. Para os
ortodoxos, um novo dogma mariano aumentaria o fosso de separação, pois
dificilmente seria formulado por um concílio ecumênico e obscureceria o grande
dogma mariano da Theotókos, aceito por praticamente todas as Igrejas cristãs
históricas. Para os protestantes, tal dogma atentaria contra a única mediação
de Cristo e a unicidade da sua obra redentora.
Espera-se
que os agentes de pastoral, os presbíteros, os teólogos(as), os bispos, as
Conferências Episcopais, a Cúria Romana e o Papa tomem consciência da
inconveniência de atribuir a Maria o título de “corredentora”. Tanto do ponto
de vista pastoral quanto dogmático, é mais sábio utilizar em seu lugar termos
menos ambíguos, mais sintonizados com a perspectiva da História da Salvação, no
horizonte da “comunhão dos Santos”.
Fonte: Afonso Murad, Maria toda de Deus e tão humana. Compêndio de Mariologia. Paulinas, 2012.
9 comentários:
Gostei muito de conhece-lo e da forma como és usado por Deus para repassar um conteudo tão profundo. Percebi o quanto tens uma experiencia pessoal com o Pai, com Jesus, com o Esp Santo e com Maria. Revelas um ser mariano. Bendito seja Deus por vossa vida e vocacao.
CRISTO É O CENTRO DA FÉ CRISTÃ
Atualmente, assistimos aos excessos devocionais em torna da pessoa de Maria, mãe de Jesus (maximalismos). Estes excessos não são ocasionais nem destituídos de alguma intenção. Objetivamente, apela-se à devoção para tentar manter certo número de fiéis no culto católico numa luta incansável e pouco eficiente contra a evasão assustadora destes fiéis da Igreja. Penso ser este o ponto fundamental: há um desespero pela perda númerica de pessoas e Maria foi a escolhida para ajudar a resolver a situação.
Diante do acentuado número de denominações religiosas pouco ecumênicas, com poucas ou nenhuma relação com a Igreja Católica, a possibilidade de se aprovar um dogma de Maria como corredentora, seria não somente um erro teológico, como o autor do artigo acima tão bem explicitou, consequentemente, um entrave para o diálogo ecumênico.
A centralidade de Jesus de Nazaré não pode ser ameaçada por nada nem ninguém. Os ensinamentos da Igreja,a pós o Vaticano II, não permitem tal desvio doutrinal. Portanto, deixar-se arrastar por uma devoção exacerbada que tenta colocar Maria em pé de igualdade com Jesus de Nazaré mostra-se algo descabido que afeta seriamente a genuína fé cristã.
O mundo pós-moderno não precisa de acréscimos em matéria dogmática, pois os dogmas existentes já são suficientes e pouco compreendidos e aceitos pelos próprios católicos. De modo geral, as pessoas não entendem dogmas. Por isso, acrescentá-los seria um desserviço ao crescimento de uma fé adulta e, portanto, sadia.
Começa-se a falar sobre o Ano da Fé a ser inaugurado em outubro próximo pelo Papa Bento XVI. Este ano poderia se tornar uma boa oportunidade para trazer Jesus para o centro da fé cristã e recolocar Maria no seu devido lugar na vida eclesial: exemplo de mulher que se dispõe a colaborar com a construção do Reino no seguimento fiel e perseverante do Cristo Jesus.
Tal recolocação seria uma ressignificação do que vem a ser a autêntica devoção a Maria. Hoje, percebe-se que devoção é sinônimo de culto, nada além disso. As pessoas se esquecem de que a verdadeira devoção tem íntima ligação com a prática das virtudes que Maria vivenciou: humildade, escuta da Palavra, meditação, serviço, disponibilidade, reconhecimento da grandeza e da bondade de Deus.
Muito feliz, portanto, a reflexão do autor do artigo: uma valiosa colaboração para não perdermos o foco fundamental da fé cristã, o seguimento de Cristo em meio às contradições deste mundo.
Tiago de França da Silva
Graduando em Teologia pelo ISTA
Boa noite.
Pretendo abordar, um a um, embora suscintamente, os argumentos usados contra a eventual proclamação do Dogma da Cor-redenção, na ordem mesma em que estão elencados no artigo:
1 - Você ratifica a tese de que o título fere a unicidade da Redenção de Cristo, todavia aponta que o prefixo "co" pode dar a ideia acertada de subordinação... entretanto diz que a palavra pode ser ambígua... ora a proclamação de um Dogma não se cinge à impostação de um título, há uma exposição do teor a ser crido e eventualmente até anátemas de teses oblíquas. Assim, as diferentes acepções da palavra Co-redentora não constitui motivo suficiente para não reconhecer-se o papel ímpar de Maria no Plano de Salvação, fosse assim, a maioria dos dogmas marianos não teriam sido proclamados, o que dizer de Theotokos?! É passível de confusão?! E Imaculada Conceição?! Polêmico também, não acha?! Assunção aos céus?! Noutras palavras, esse argumento é absurdo olhando-se a própria história da mariologia sobre o crivo dogmático.
2 - Idem resposta anterior.
3 - Dizer que o título torna obscuro o reconhecimento da atuação do Espírito Santo é partir da mesma perspectiva protestante de que reconhecer as virtudes especiais de Maria torna obscuro o Sacrifício Redentor de Cristo... é pari-passo, o que os protestantes dizem quanto a Cristo, se diz agora quanto ao Santo Espírito. Ocorre que tudo quanto se reconhece à Nossa Senhora não é motivo para diminuir uma das Pessoas Divinas, ao contrário, tudo quanto ela é, o é porque Deus É em seu ser, ou ainda, é pelos Méritos de Cristo e pela Ação do Espírito Santo em si que se fez Co-redentora. O Espírito Santo, assim como Deus Pai, São Propriamente Redentores junto a Cristo.
4 - Quanto ao sistema teológico ultrapassado... vou me conter aqui, para não dizer o que bem esse autor merece, mas é claro que isso é uma petição de princípio, se diz que a melhor interpretação é a que afasta o dogma, pois afastar o dogma é coisa de sistema teológico mais arrojado... sobre a interpretação de Irineu, não há qualquer argumento de crítica interna do texto que inviabilize a interpretação pró co-redenção, pode-se dizer que outras são cabíveis, ou pode-se ainda fazer crítica externa, mas ao tomar-se o texto em si, contextualmente, a interpretação pró co-redenção é perfeitamente possível e talvez a mais natural. (OBS. cuidado para não querer ser "adiantado" demais, opondo-se a sistemas "ultrapassados", há quem diga, numa aplicação macroanalítica dessa mentalidade progressista que o próprio cristianismo é ultrapassado, e adotando-se o progressismo, não haveria porquê não lhes dar razão... então, abandone o progressismo antes que ele te faça um contraditório ou inconsequente por não abandonar a Cristo... Deus não o permita).
5 - Quanto ao "desequilibradamente maximalista", trata-se de uma aplicação errada do virtus in medio escolástico, ou mesmo uma tendência moderna à mornidão... ora, claro que se Maria merece esse título deve-se reconhecer, deve-se concedê-lo, a justiça manda dar a cada um o que lhe compete... e veja, os protestantes, por exemplo, consideram desequilibrados os outros dogmas já, de forma que esta questão de equilíbrio só pode ser aplicada na filosofia prática, na teologia moral, mas não na dogmática, onde sim, sim, não, não continuam como expressão da máxima metafísica do ser.
6 - Quanto a argumentação se pautar pouco na Escritura e patrística e muito em videntes e Papas... vejo nessa objeção outra perspectiva de cariz protestante, daí me pergunto, assim como os primeiros reformadores que veneravam muito Maria Santíssima, o autor será que não tem um desejo absconditus de ser um protestante histórico e mariano? Não sei, de qualquer forma é óbvio que o católico não estima que toda a Doutrina será extraída da Sagrada Escritura, há também a Sagrada Tradição, de que os textos patrísticos são uma das expressões... quanto a eles é preciso dizer: ainda que se dê um teor simbólico ao paralelo entre Eva e Maria, o que pode estar presente em alguns textos, mas não em todos (alguns traçam um paralelo direto e histórico, não reconhecer isso é aplicar paradigmas de uma "teologia avançada" - sic - aos textos, seria cometer um anacronismo), todavia, independente do caráter simbólico ou não que se dê ao paralelismo, ele concorre ainda assim para a proclamação do Dogma, pois mesmo em sendo assim (o que se concede ad argumentandum)o aspecto simbólico é o analogante, enquanto o histórico é o analogado e dirimente para a questão em apreço.
7 - Se o título nega o acordo católico luterano e se depõe contra o ecumenismo... isso sequer deveria ser colocado em pauta, pois se as outras denominações tem o condão direto ou indireto de fazer com que o Papa proclame algo ou deixe de proclamar isso não é mais ecumenismo, isso seria irenismo, entreguemos logo então o Magistério a eles (ironic mode). E veja que outra ironia, esse ecumenismo é que não tem suporte, nem na Sagrada Escritura, nem na Sagrada Tradição e nem no Magistério da Igreja, é um agregado recente de política pastoral... ele sim não deveria ter influência na Teologia Dogmática (por sua própria natureza pastoral e por tratar-se, ele sim, de algo sem respaldo histórico).
Por fim, como a mais antiga oração à Maria Santíssima que não se restringe a pedir a intercessão, mas pede que Nossa Senhora nos Proteja, que Nossa Senhora nos livre dos perigos, portanto, bem maximalista (Sub tuum praesidium, século II), quero pedir que essa minha resposta se mantenha junto ao texto, com destaque a essas palavras finais:
Santa Mãe de Deus, reze por nós, nos proteja e livre de todos os perigos. Amém.
Diogo dos Santos Ferreira
"Instaurare Omnia In Christo"
Dar um lugar a Maria que não é dela de fato, creio que empobrece muito sua real participação na história da salvação. O termo corredentora resgatado por algumas figuras na Igreja, não encontra respaldo nem nos Padres da Igreja nem na teologia propriamente dito. É acentuado pelas correntes maximalistas que desvia a atuação de Maria como exemplo de Igreja, para coloca-la no mesmo nível de Jesus e assim acentuar sua imagem de “superprivilegiada”. Ora, precisamos da Maria que o Concílio Vaticano II nos aponta: vinculada ao mistério de Cristo e da Igreja. Como é rico vermos em Maria “uma referência para a comunidade dos seguidores de Jesus”!
Se soubermos valorizar a pessoa de Maria em suas virtudes, já teremos dado passos enormes tanto no entendimento da sua participação na história da salvação e no culto prestado a ela, e ainda teremos mais elementos para podermos continuar com o diálogo ecumênico com as Igrejas protestantes históricas e Ortodoxas.
O que a Igreja não pode é se valer de argumentos meramente devocionais, e visões que tem credibilidade bem frágil, pra instituir novos dogmas que mais danificarão o seio da Igreja do que, contribuirão para manutenção da sua unidade. Se caminharmos nas referências Bíblicas continuaremos a descobrir Maria em seus sentidos mais belos: “perfeita discípula de Jesus, peregrina na fé, sinal da opção preferencial pelos pobres, mulher, mãe da comunidade e perseverante na fé e na cruz”; e assim a teremos resguardada com tudo aquilo que ela representa para nós.
Heliomarcos Costa Ferraz - 3º Ano Teologia FAJE
Muitas vezes escutamos que somos salvos pela morte de Cristo. Esta afirmação, mal entendida, infelizmente, deu cabida a que alguns teólogos do século XX iniciaram uma campanha a favor da proclamação de um novo dogma mariano que afirme o papel corredentor de Maria. Vejamos como dita tese é incompatível com nossa fé católica de localizar Maria no único horizonte da mediação única de Jesus Cristo. Com efeito, a Revelação de Deus através das Escrituras nos dizem inúmeras vezes que a única imagem do Deus invisível é Jesus de Nazaré, em quem Deus mesmo quis se revelar. Só por Jesus, graças a sua vida, sua morte e sua ressurreição é que nós atingimos a nossa realização, nossa salvação. E não somente por sua morte.
Os teólogos que postulam a tese de Maria como corredentora baseiam-se no texto de Jo.19, 25-27. Para eles, pelo fato de Maria estar aos pés da cruz já está participando da Redenção de Cristo. Ao utilizar o termo ambíguo de “com-redentora”, afirmam que o prefixo “com” não significa “igual a” (ao) Redentor, mas “a mulher junto ao Redentor”.
Estes dois argumentos lidos de uma maneira genuína aparentemente não gerariam problemas se fossem interpretados, em primer lugar, considerando Maria como colaboradora da Redenção ao dar à luz ao Redentor e, em segundo lugar, se o prefixo “com” não gerasse a ambiguidade que gera. Mas, infelizmente, um grupo com tendência maximalista de Maria pretende dar passos atrás em relação ao Concílio Vaticano II que posiciona Maria compartilhando a mesma humanidade de todos os fiéis e em perspectiva escatológica. Esses teólogos defendem que pelo “fiat” de Maria e por sua compaixão no momento da morte de Jesus, Maria se torna corredentora. Assim ela, ao ser corredentora, tornar-se-ia a única pessoa da humanidade que não foi salva por Jesus Cristo, o qual é contrário a nossa fé.
O título de corredentora é ambíguo demais e dá origem a mal-entendidos. Também essa tese não possui fundamento bíblico. Os católicos, que queremos evitar cair de novo no maximalismo mariano de João Paulo II, não deveríamos usar esse termo, pois acreditamos na única mediação de Jesus Cristo. Afirmar Maria como corredentora implica regredir aos passos dados pelo concílio Vaticano II na sua perspectiva de uma mariologia eclesiológica e não de uma mariologia maximalista, própria do século XIX que impede um diálogo ecumênico.
Boa tarde! O tema da corredenção está envolvido na devoção à Maria que dá grande destaque ao papel da "Jovem de Nazaré" na Economia Salvífica. Sem dúvida alguma, ela foi agraciada em vista da proposta divina, na qual ela acolheu e se dispôs fielmente, como "ouvinte" da Palavra, a fazer de seu seio, a "sementeira" do Verbo. Sua atitude resplandece como sinal do perfeito discípulo que acolhe a Palavra de Deus, a medita em seu coração e a põe em prática.(Cf. Lc 8, 21;11,27). Quando se volta a atenção para a figura de Maria relacionada com a comunidade cristã, se acresce outra característica: a maternidade. Ela é mãe dos seguidores de Cristo, educando-os na fé, no engajamento ao Reino de Deus e na fidelidade às consequências de uma ação em favor da vida(cruz). Quanto mais se segue a Cristo e a seu Evangelho, tanto mais se exalta a figura de Maria, pois a cada cristão que vive sua fé, fiel à proposta do Reino, fazendo de seu coração terreno fértil da palavra e frutificando o Dom de Deus no serviço aos mais necessitados, demonstra que a missão da "Virgem" não foi em vão. Exalta a maternidade de Maria, mãe daqueles que dão continuidade à missão do Filho.
Se centrarmos forças na prática dos ensinamentos do Evangelho certamente evitaremos "desvios" da fé e conflitos desnecessários.
"Dá me um dogma, dá me um dogma!" Esta tem sido uma tônica de alguns grupos católicos que estão a inverter a lógica do discernimento da fé. Os dogmas ditos marianos proclamados não são mera atribuição de títulos a Nossa Senhora por merecimento, mas proclamação explícita daquilo que é essencial à fé, porque é verdade, não consequência dos desejos e da evolução dos tempos.
Não vejo nenhum católico autêntico (ainda que não na prática, mas na ortodoxia), nem um incauto, correr perigo de fé pela falta de proclamação de um dogma destes "novos". Não vejo nenhuma heresia específica sobre o papel de Maria neste tema ou mais amplamente sobre a comunhão dos santos que já não tenha sido anatemizada.
Sua cooperação especial no plano da salvação e comunhão com a Igreja já está muito estabelecida nas escrituras, da Anunciação às bodas de Caná, do Calvário à Ressureição e no Pentecostes, junto de seu Filho amando-o até o fim.
Ainda que um protestante negue que possamos venerá-la, acreditar em sua Virgindade, Assunção, não podem negar sua cooperação.
Um dogma que afirme que Maria é "Medianeira" pode até ser bem distinto de chamá-la de Mediadora na salvação (que seria uma heresia indiscutível) mas vai causar uma baita confusão no sentido de a intercessão de Nossa Senhora ser necessária para comunicar a graça, e vai contra os sacramentos, principalmente contra a Eucaristia (cf Jo 10,18s), pois Ele se dá, e não é dado ou ajudado. E da mesma forma que a Mediação Universal não pode existir um co-mediador, na Redenção não pode haver um co-redentor. Comparemos 1Tm 2,5 com Rm 5,18s. Os termos "um único Homem", "um só Mediador".
De resto, não é mais que opinião piedosa, como explica o site Padre Paulo Ricardo. Faz parte, mas deve ser colocada em seu devido lugar quando ameaça o depósito da fé e unidade dos cristãos verdadeiros, que somos na Igreja Católica.
Abraços. Estava procurando um post como este pois não aguento mais ouvir este "quero dogma", principalmente como ouvi hoje, de um ex-pastor convertido ao catolicismo, mas que a mim parece um católico Sola Scriptura que descobriu por si a verdadeira fé e recebeu autorização para ministrar em púlpitos sem uma catequese católica mais cuidadosa.
Postar um comentário