quinta-feira, 19 de março de 2015

Maria veio para servir

Durante a Campanha da Fraternidade deste ano ouvimos muitas vezes aquela frase de Jesus: “Eu vim para servir”. Você já pensou como este apelo do Cristo se realizou na vida de Maria?
Quando Maria era jovem, menina nova e cheia de vida, ela recebeu uma mensagem especial. Deus, através de seu anjo, convidou-a a assumir a missão de mãe e educadora do Cristo. Depois de perguntar, questionar e buscar saber como isso aconteceria, Maria respondeu com toda inteireza: “Eis aqui a servidora do Senhor” (Lc 1,38). Ela não pensou em vantagens, em glórias, em ser famosa, e sim no verdadeiro serviço. A palavra “serva” ou “servidora” tem muitos sentidos. Algumas bíblias traduzem-na mal, usando o termo “escrava”. Na realidade, o povo de Jesus não aceitava a escravidão. Os hebreus guardavam viva na memória, e recordavam cada ano na festa da páscoa, que Deus havia libertado seu povo da servidão do Egito, onde eles tinham sofrido muito, em condições horríveis. Assim, até o preceito do sábado era para também lembrar que eles eram um povo livre, pois o escravo não tem direito ao descanso.  Até os animais deveriam descansar no sábado (Dt 5,6.12-15). Ora, somente quem é livre pode tomar decisões. Somente quem é dono de sua vida, e não está submetido aos outros, pode fazer opções com inteireza. Servir por opção, não por pressão. Assim aconteceu com Maria.

Logo depois que diz “sim”, Maria sai apressadamente para visitar Isabel (Lc 1,39). Era uma região montanhosa, difícil de chegar. Mas, quem está convencido que deve servir, não reclama das dificuldades e arruma um jeito de superar os obstáculos. Como Maria chegou até lá? Quem a acompanhou, pois as mulheres naquele tempo não podiam andar sozinhas? Quanto tempo durou a viagem? A gente não sabe. O que podemos dizer é que Maria e Isabel passaram algum tempo juntas. E então viveram uma intensa experiência de comunidade. A gravidez de Isabel começou três meses antes. Maria veio para servir sua parenta, mas ela também estava grávida. Para as duas, era a primeira vez. Quantas esperanças, quantas dúvidas, e alguns temores... Seguramente, Maria também aprendeu muita coisa com Isabel, que já era uma mulher de idade avançada, com muita sabedoria.
Assim acontece quando a gente se coloca a serviço dos outros. Aprendemos e ensinamos. Doamos e recebemos. Esta é uma das belezas do serviço, quando ele é realizado com liberdade, generosidade e desprendimento. Gratuitamente, sem pedir nem exigir, há um retorno do amor. Pois o serviço traz junto a reciprocidade. Quem recebe gestos de amor, com gratidão quer também fazer algo parecido. Para o outro ou para os outros.
No encontro com Isabel, Maria entoa um belo cântico de louvor a Deus. E agradece ao Senhor que “olhou para sua humilde servidora” (Lc 1,48). Novamente, sai de sua boca o que está no coração. Como Jesus, ela veio para servir a Deus e aos outros!

A partir de Maria, podemos traduzir de muitas formas a nossa resposta a Jesus, como um serviço às pessoas, aos grupos, à transformação da sociedade. Dizemos então: Jesus, eu também vim para servir! Venho para ajudar quem precisa, venho para ensinar e aprender, venho para evangelizar, venho para construir comunidade, venho para denunciar as injustiças, venho para animar os tristes, venho para trazer uma palavra de esperança, venho para ouvir e acolher, venho para louvar pelas maravilhas que o Senhor realiza no meio de nós.

A vida cristã é um constante movimento de ir e vir, como discípulo/a e missionário/a de Jesus e de seu Reino. E Maria está conosco sempre, como servidora, mãe, exemplo e companheira do caminho!
(Publicado na Revista de Aparecida)

Um comentário:

David Soto disse...

Gosto da figura de Maria como servidora, ainda mais quando ela nos ajuda a compreender o serviço desde Jesus, como um modo de discipulado. Maria não faz qualquer serviço nem procura lotar de atividades de serviço sua vida. Seguramente se ela tivesse estado o tempo tudo procurando atividades de serviço para ser servidora, não tivesse nem notado o convite que Deus lhe fé. É verdade que dificilmente alguém não notaria a presença de um anjo trazendo um convite de Deus, mas também é verdade que muitas vezes algumas situações humanas acontecem bem na frente de nossos narizes e nem notamos que Deus esta nos convocando a serem seus servidores.

Neste sentido Maria nos dos rasgos fundamentais do discipulado. Em primeiro lugar, ela nós apresenta uma disposição ou abertura de coração para perceber na historia de seu povo a ação de Deus e o modo no qual Deus convida-a a servir (cf. Lc 1, 46-55). Em segundo lugar, sua figura servidora nos realça a iniciativa de Deus que acolhida pela liberdade do ser humano entre na historia para transforma-la (Lc 1, 26-38). Mas, porque estes rasgos corresponderiam ao discipulado? Porque Jesus no meio da historia de seu povo foi aquele que acolheu a vontade do Pai, fazendo não qualquer serviço, senão aquele que o Pai mediante o Espírito lhe encomendou: anunciar que o reino de Deus está próximo (cf. Mc 1, 15) especialmente para os empobrecidos e excluídos da historia (cf. Lc 4, 14-21).

Deste modo, Maria nos convida a ter as atitudes de seu filho, é disser, um coração aberto e sensível à historia de nosso povo ou comunidade onde moramos, a fim de reconhecer aquele serviço que Deus nos encomenda, especialmente com aquelas pessoas que são discriminadas ou não consideradas como dignas de ser amadas por sua situação.