Era uma vez um lindo santuário, no alto da montanha. Para lá acorriam muitas pessoas, de diferentes povos, culturas e nações. Multidões de peregrinos, ao longo do tempo, foram pisando o chão da trilha que leva ao santuário. Tiraram o mato e abriram outros trechos. Aos poucos, foi se fazendo uma estrada, pois os peregrinos descobriram que, tão importante quanto a meta a alcançar, é o caminho que conduz a ela. A estrada até o santuário era muito bonita. Embora houvesse espinhos, poeira, lama e buracos, podia-se ver a beleza do sol no meio da serra, respirar o ar puro das plantas, deixar-se penetrar pelo verde intenso das copas das árvores e sentir odores de flores silvestres. Ao lado do caminho, tortuoso e belo, havia também precipícios e abismos.
Durante muito tempo os peregrinos iam ao santuário, pela estrada, a pé ou em lombo de burro. Os séculos se passaram e vieram os carros e ônibus. Devido a muitos acidentes, os encarregados do santuário colocaram acostamento, antiderrapantes, sinais luminosos para a noite, protetores e placas. Certamente, a estrada era perigosa, pois muitos haviam errado o caminho e despencaram no abismo. Mas a estrada permanecia fascinante. Então, alguns acharam que era muito arriscado deixá-la assim. Levantaram muros nas encostas, colocaram quebra-molas e fixaram mais placas para indicar o caminho.
Ficou difícil caminhar por aquela estrada. Ela perdeu a beleza e a praticidade. Novos povos que faziam a romaria não entendiam as antigas placas. Chamaram então técnicos para interpretar as placas, o que tornou o caminho mais difícil de ser percorrido. As autoridades do santuário passaram a se preocupar com os muros de arrimo, as placas, as explicações, as advertências sobre os perigos, e se esqueceram que o mais importante era a peregrinação. Perderam de vista que a estrada levava ao Santuário, lugar de encontro com o Deus que caminha conosco.
Então, alguns homens e mulheres iluminados perceberam o equívoco. Tiraram tudo aquilo que atrapalhava a estrada e deixaram apenas o que ajudava os romeiros. As pessoas voltaram a descobrir a beleza da estrada e a rezar pelo caminho. Mais gente passou a ir ao Santuário, e de lá voltava com o coração alegre e renovado.
Os dogmas são como placas que indicam o caminho de nossa fé. Foram criados para ajudar a comunidade eclesial a se manter no rumo do Santuário vivo, que é Jesus. Funcionam como balizas, sinalizadores, arrimos e proteção. Sua razão de ser consiste em sinalizar o caminho da fé, encarnada na atualidade. Trazem o passado até nós, mas não se detém nele. Os dogmas cristãos, se vistos de forma dinâmica, são uma valiosa colaboração para retomar as trilhas já traçadas, aprender com os acertos e erros e possibilitar uma compreensão atualizada da nossa fé.
Neste blog vamos fazer uma leitura atual dos dogmas católicos sobre Maria, a mãe de Jesus.
Texto: Afonso Murad, Maria toda de Deus e tão humana, Paulinas.
Gravura: Ir. Anderson, msc
6 comentários:
Murad, que comparação simples e bonita sobre o dogma. Continue escrevendo assim.
Irmã Cristina
Essa analogia vem ressaltar qual é o verdadeiro sentido e significado do dogma hoje. Vemos que, a analogia do caminho para o Santuário e o verdadeiro Santuário vivo, são dois aspectos de vital importância para perceber que tudo deve sinalizar o caminho da fé, encarnada na atualidade. Essa analogia frisa que todos nós devemos manter nosso olhar fixo no Santuário vivo, que é Jesus.
Sobre o Dogma da Imaculada
Realmente, como consta no “sétimo capitulo” do livro – Maria, toda de Deus e tão humana, é complicado sustentar hoje um dogma destituído de fundamentação bíblica direta, uma vez que o mundo contemporâneo traz novos desafios à fé cristã, e pede uma resposta à altura das exigências de compreensão, com uma linguagem contextualizada e atual, cujas bases encontrem sua raiz nas Sagradas Escrituras; mas é bom também salientar que, os dogmas surgem para colocar Maria como canal de comunicação, instrumento do Reino, sobre o qual a graça divina se transmite e realiza plenamente através do seu Filho Jesus. Até porque ser Imaculada não é condição essencial nem para a encarnação do Verbo e nem para a sustentação da fé no Cristo. Simplesmente, Maria recebe de Deus uma graça especial (ser a mãe do Verbo, o canal de comunicação da graça) para responder mais plenamente a missão que lhe foi confiada. O ser “Imaculada” não lhe tira o esforço de ser peregrina na fé, perfeita discípula do seu Filho. Caso contrário, se ela fosse assim tão Imaculada, qual seria o seu mérito e como poderia ser para os fieis modelo de fé, com privilégios tão inacessíveis para a condição humana? é preciso saber reinterpretar o dogma da Imaculada numa Teologia Contemporânea, para que ela tenham uma credibilidade mais sólida e fundamentada.
Gostei das colocações apresentadas neste capítulo, PARABENS ...(Laurindo/ISTA)
Realmente o essencial, ou seja, a essencia do cristianismo é Jesus de Nazaré, mas através dos dogmas marianos podemos perceber que Maria é aquela que coroa toda a vida de Jesus, aquela que esteve sempre presente, desde o nascimento até o suplicio na cruz.
Realmente o essencial, ou seja, a essencia do cristianismo é Jesus de Nazaré, mas através dos dogmas marianos podemos perceber que Maria é aquela que coroa toda a vida de Jesus, aquela que esteve sempre presente, desde o nascimento até o suplicio na cruz.
Querido/a internauta! Como é maravilhoso falarmos de Maria, principalmente quando surgem alguns questionamentos em nossa vida de fé que entra em contraste com os dogmas marianos. Para entendermos melhor sobre essa questão, é necessário associar nossas ideias às ideias primitivas que estão em caminhos opostos ao mundo contemporâneo. No universo pós-moderno, os dogmas são associados a algo determinado, pronto e intocável. Nesse sentido, a Igreja fecha qualquer hipótese de diálogo com outras religiões. Mas se resgatarmos as origens, ou seja, os primeiros séculos, perceberemos que os dogmas nasceram no cristianismo para superar os conflitos de interpretação na fé. Dentro dessa linha de pensamento, o dogma mariano deve ser uma forma de interpretação, ou melhor, explicação entre a humanidade e Deus. Nesse contexto aparece a figura de Maria e Jesus que muitas vezes são interpretadas de maneira incompreensível. Portanto, o dogma mariano deve ser suporte para as nossas interpretações (reflexões – sala de aula).
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