O sinal no céu (v. 1-2): Apocalipse 12 começa como um sonho lindo. Um grande sinal aparece no céu: uma mulher com a glória e o poder de Deus, pois está brilhando, vestida de sol. Lida de forma equilibrada com as forças da natureza, e o ciclo da vida, pois tem a lua debaixo dos pés. A mulher já recebeu de Deus a certeza da vitória, pois carrega uma coroa de doze estrelas, sinal de poder real.
Mas nem tudo é bonito no sonho. A mulher está grávida, vai dar à luz. Passa por momentos confusos e difíceis, de muita dor, mas sabe que eles são preparação para um novo tempo. Assim é o povo de Deus nesse mundo. Ele recebe do Senhor a glória e o poder, para gerar o novo na história. Mas experimenta um parto doloroso. Na bíblia, a dor de parto significa a crise que acompanha a passagem para uma situação nova, na qual a vida vai triunfar. Assim aconteceu com os discípulos de Jesus, quando acompanharam sua morte e ressurreição (Jo 16, 21s).
A imagem pode também aludir a Maria, a mãe de Jesus, que deu à luz ao Messias e experimentou o tempo novo do Reino de Deus e da ressurreição de Jesus. Assim, primariamente, a mulher significa a comunidade cristã, o povo messiânico. Mas pode também se estender a Maria, a mãe do messias.
O dragão e a mulher (v. 3-6): O sonho se transforma em pesadelo. Aparece um dragão, um literalmente um “bicho de sete cabeças”, cheio de poder e força. Intimida com os seus dez chifres. Carrega nas cabeças sete diademas, sinal que é respeitado como autoridade aparentemente perfeita e invencível. Quer devorar o filho da mulher, como as forças do mal fizeram com Jesus, durante sua vida, desembocando sua paixão e morte. Mas o Senhor ressuscitado já está junto de Deus. O mal não pode com Ele. Perceba que a narrativa não é linear. O filho, logo depois de nascido, já foi arrebatado para junto de Deus e de seu poder eterno (=trono). Na prática, Jesus, o filho de Deus encarnado, viveu neste mundo um longo tempo, o que não pode ser ignorado.
É preciso ter claro que, no apocalipse, o “céu” não corresponde ao conceito clássico, que o contrapõe ao inferno. A palavra é a mesma, mas o sentido é muito diferente. Trata-se dos “bastidores da história”, onde se joga a luta decisiva do bem e do mal, e não do lugar ou situação pós-morte, reservado aos eleitos de Deus. Você imaginaria que o símbolo da maldade pudesse atacar Maria em pleno céu, como o entendemos tradicionalmente? Não podemos fazer uma interpretação literal de Apoc 12, senão entraremos num beco sem saída.
A mulher foge para o deserto, onde Deus lhe prepara um lugar e a alimenta por um tempo limitado. Quem é a mulher? O povo de Deus, os seguidores de Jesus que, como Maria, fazem a sua vontade de Deus e dão à luz ao Messias. Enquanto estamos nesse mundo, passamos pelas durezas de deserto. Mas não estamos sós, pois Deus nos nutre com sua Palavra e seu Espírito. Na Bíblia, o deserto é lugar da tentação e do encontro com Deus, o espaço de purificação e crescimento, onde a pessoa e o povo têm a oportunidade de provar o Essencial.
A luta continua (v. 7-17): O dragão, o dono do time do Mal, e seus guerreiros combatem contra os anjos de Deus e perdem a luta, nos bastidores (=céu). João tem claro que Deus já venceu a peleja. E os cristãos também, especialmente os que, como Jesus, são capazes até de morrer para serem fiéis ao bem e à verdade. Mas a luta na terra vai ficar ainda mais forte. A mulher é perseguida de novo pelo dragão, que quer destruí-la. Felizmente, Deus vem em seu auxílio. Dá asas de águia à mulher. No deserto, ela é alimentada por Deus. A corrente caudalosa, vomitada pela serpente, é tragada pela terra. O apocalipse sinaliza que também a natureza colabora com aqueles que se empenham pelo Bem.
O final do relato é ainda mais forte: “enfurecido contra a mulher, o dragão foi combater o resto da descendência dela, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus” (v.17). Faz lembrar da promessa de Gênesis 3,15s, de que a humanidade (= descendência da mulher) não vai mais ceder à tentação do mal (= a serpente) e que os dois lutarão. Mesmo ferida, a mulher esmagará a cabeça da serpente, matando-a. Mas, no apocalipse, a vitória sobre a serpente (= o dragão) virá do poder de Deus, através de um enviado (Ap 20,2s).
Muitas vezes nos sentimos como essa mulher no deserto: frágil, desprotegida, cercada pelo poder da maldade, mas envolvida e salva por Deus. O Apocalipse foi escrito para alimentar nossa esperança. Sabemos que, como Maria, recebemos a glória e o poder de Deus. Mas estamos situados num mundo de pecado, cheio de violência e de mal. Aliás, cada um de nós carrega um pouco de mulher e de dragão, de bem e mal, de ternura e de violência. Mas estas dimensões de luz e trevas estão em proporções distintas em cada pessoa. À medida que crescemos na fé, na esperança e no amor solidário, passamos de forma mais clara para o time de Jesus. Deixamos de ser torcedores de arquibancada e entramos no jogo para valer. Maria, nossa companheira, nos assegura, junto com Jesus, que a vitória será de Deus e de seus aliados. E terá um resultado lindo: uma nova criação, um novo céu e uma nova terra. Dela participarão todos os seres, especialmente os humanos.
Resumindo: o texto de Apocalipse 12 primariamente se refere à comunidade dos seguidores de Jesus, a Igreja perseguida, o grupo de homens e mulheres que se empenham pelo Bem, o Povo de Deus peregrino, que continuamente gera o messias, sob a ação da Graça de Deus. Portanto, é um relato de natureza cristológico e eclesiológico. Sua mensagem esperançada é clara: mesmo que o Povo de Deus esteja sofrendo para garantir o Bem e construir o novo na história, e o poder destruidor do Mal pareça mais forte, Deus está conosco, e sua vitória é garantida.Mas, secundariamente, apocalipse 12 pode ser também aplicado a Maria, com a mãe do messias e imagem do Povo de Deus. Especialmente porque a plasticidade das imagens e das analogias do apocalipse nos permitem interpretações múltiplas e complementares.
Fonte: Maria, toda de Deus e tão humana. Ir. Afonso Murad. Paulinas.
Desenho: Ir. Anderson msc
14 comentários:
Eu quero fazer parte desta luta.
Anderson
ISTA:
Na perspectiva de Lucas, Maria foi uma mulher que abriu mão dos privilégios culturais e familiares de sua época. Renunciou todos os privilégios de mãe, perdeu o controle sobre Jesus e não teve mais a presença dele no seio familiar (Lc 8, 19-21). Jesus torna-se o modelo de vida ampla que reuni todos os homens para Deus. Nesse horizonte, Maria compreende a mensagem de Deus no Filho e passa a ser aprendiz e seguidora do próprio Filho, como os demais seguidores dele. Ela desce do pedestal de superioridade ao Filho e pratica vivamente o desejo de um mundo melhor sem orgulho e corrupção apresentado por ele.
O texto "Quem é a mulher de Apocalipse 12?" lança o leitor para uma nova e relevante interpretação que ultrapassa os limites da ingenuidade do senso comum. Estamos acostumados a uma condicionada leitura que basicamente substitui a palavra "mulher" por "Maria". Leitura esta que, a meu ver, dificulta muito o acesso ao verdadeiro sentido do texto de Apocalipse 12, como também à importância de Maria - Mãe e discípula de Jesus - para a maturidade da fé cristã.
Tanto "Maria" quanto "mulher", normalmente são figuras simbólicas, apocalipticas que representam uma comunidade, um povo,uma nação, enfim, a novidade mistérica da mensagem e ação divinas.
Nós queremos partilhar o que nos touco no coração depois de ter as chaves sobres Maria no evangelho de Lucas. Entre as quarto características de Maria em Lucas, o nosso interesse maior foi sobre a primeira que é de Maria como perfeita discípula porque soube ouvir a palavra, meditar esta palavra e em fim,viver esta palavra.
A exemplo de Maria e todos que foramchamados por Deus, a experiência começa sepre com a capacidade de ouvir a voz de Deus que nos chama. Isto se deixa transparecer com muita clareza quando ele chama. Sempre chama pelo,quer dizer conhece a cada um de nós e escolha segundo a sua preferência e sobretudo a missão que ele quer confiar ao escolhido.Através do relato da anunciação do Anjo gabriel à Maria ,o anjo a chamou pelo nome LC1,28: Alegra-te Maria... E Maria depois de ouvir a saudação respondeu para saber o que era a sua missão. No templo pra cumprir as exigencias da Lei de Moisés, Maria ouvia de novopela boca de Simeão o que Deus realizar em Israel através do menino que ela carregou no colo.Sem dúvidaMariana sua obediência se moustrou comodiscípula dócil a palavra de Deus.sEM Comentar,ela ficou meditando o que significaria a profecia de Simeão.Contudo Maria era livre de aceitar ou nao de assumir o projeto salvífico de Deus todavia,pensou muito mais do seu nariz,deixar de lado o seu próprio projeto de vida pra assumir o projeto maior e universal: Eu sou a serva do Senhor,Lc1,38.A sua capacidade de escuta e desponibilidade ao projeto de Deus faz com que ela se torna exemplo pra nós.
Hoje também tantas vozes clamam, a voz de prostitução, de droga, de injustiça, de violência, ganânci...Ouvir a voz de Deus ou seja discernir a voz de Deus é a graça que podemos pedir à Maria hoje para não confundir a voz de Deus que nos chama e tem uma missão para nos confiar. Ojovem Samuel fez a mesma expriencia com Eli ,o sacerdote pra perceber depois de três vezes que era Deus que o chamava.
Depois de fazer um percurso sobre Maria no Evangelho de Lucas, posso dizer que fiquei como Maria agraciado em descobrir a figura de Maria, como aquela que serve, escuta e assumi o discipulado de seu filho Jesus...
Maria é aquela, que questiona e ao mesmo instante rompe com os privilégios de mãe, que em sua cultura era muito forte. Ela nos aponta Jesus, é um farol que ilumina nosso caminho, como mulher, mãe e discipula do mestre. Ela entra na escola do discipulado e continua a nutrir-se da Palavra viva que é Jesus. Tudo isso para dizer que é a mesma desde Nazaré até o Calvário, humana e assumida por Deus.
Nas narrativas de Lucas, nos modelos do Evanglho e em Atos, onde trás a figura de Maria de Nazaré nitidamente em lugar de destaque. Gostei deste contexto que apresenta Maria, inda que não como personagem principal, mas que está presente todo tempo: o anjo se dirige a Maria com uma saudação respeitosa, fala da conceição do Messias do poder do Altíssimo e por causa dessa conceição seu filho “será chamado santo e Filho de Deus”, e ainda, Maria que declara sua disposição para o prometido se cumprisse nela.
Lucas, ao descrever sobre a missão, as grandes figuras de profetas, igualmente apresenta a hesitação na reação de Maria, como circunstâncias naturais, de uma duvida humana a respeito de sua aptidão para a missão de Deus. Missão está difícil nas palavras de Simeão que apresenta a Maria, a espada que traspassara seu coração.
Este texto nos aproxima de Maria ao não entender seu filho que aos doze anos diz estar invocando a primazia da missão divina sobre os laços familiares. Por fim, esta narrativa de Lucas apresenta que nem tudo Maria compreendia, mas que “guardou tudo o que havia acontecido em seu coração” Lc 2,51.
Maria é aquela que nós ajuda a levantar no dia a dia.
Gostei muito desse Texto.
Maria é esta mulher que está sempre a nossa frente não importa nossa dificuldade ela sempre nos ajudando a tomar as decisões certas da vida.
É interessante a interpretação dada à passagem de Apocalipse 12; porque faz uma contextualização dos símbolos e imagens ali usados. Por muito tempo, permaneceu na história fundamentalmente Maria como a verdadeira protagonista. Os estudos mostram que o papel da Mulher, pode ser dado tanto à Maria como também ao povo de Deus, ou seja, a comunidade cristã que atravessava inúmeras perseguições do Império romano. Com efeito, a fé no Ressuscitado fez com que ideal do Salvador permanecesse vivo na história. Entretanto, o importante é que em nossa caminhada pastoral possamos anunciar: a perseverança de Maria e das primeiras comunidades cristãs. E mostrar que, mesmo quando estamos desanimados mediante as propostas negativas que o mundo nos coloca, Deus se faz presente nos fortalecendo.
Maria é, pois, a partir de AP 12, a figura da fé humilde e laboriosa do povo que sofre e crê no crucificado salvador, sem perder a esperança. É, ainda, a figura de uma Igreja perseguida pelo mundo, pelas forças do anti-Reino e pelos poderosas e opressores de toda sorte que, como o dragão descrito no Apocalipse, querem “devorar” os filhos e a descendência, querem devorar o projeto do Reino, tudo que é vida e liberdade para o povo, tudo que é fruto maduro das entranhas fecundas da mulher. É, porem, também, figura da humanidade vitoriosa que tem o próprio Deus entre os de sua raça, nascido de mulher, que tem na ressurreição seu penhor e sua garantia.
O novo povo de Deus, do qual Maria é símbolo e figura, é o “sina” que aparece hoje para nós, no céu e na terra, que à descendência da mulher-Eva (Gn 3, 15) ou seja, a todo ser humano, foi dada a graça e o poder de triunfar da serpente, mediante a descendência da mulher-Maria, de cuja carne o Espírito formou a Encanação de Deus, da Mulher-povo de Deus, de cujo seio brotou a salvação e a comunidade daqueles “que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus”.
maria foi a mae de jesus homem é nao maé de Deus porque Deus é desde a eternidade é Deus nao tem maé si nao sao seria Deus maria tem uma geneologia sabemos quando naceu jesua é a propia eternidade a biblia diz ele si fez carne e na forma de carne teve uma mae mais como Deus é etenno
A presença de Maria na passagem do Apocalipse 12, 1-7, como nos evangelhos, é muito silenciosa e discreta. Podemos contempla Maria como aquela que, melhor do que ninguém, deixou-se plenificar pela Palavra e pela vida do seu Filho. Por isso, como mãe fecunda e discípula fiel, ela é modelo daqueles que querem se conhecer e continuar nos caminhos da história a missão de Jesus.
Somos convidados, à luz da tradição cristã, a acolher Maria como um dom do discipulado de Jesus e a consagrar-lhe toda a nossa vida, nossa identidade cristã, a fim de que “tudo corra bem e redunde para a glória do seu Filho”.
Para nós, essa passagem coloca-nos em sintonia com o mistério da Encarnação, possibilitado pelo SIM livre e generoso da Virgem Maria.
Uma leitura descontextualizada, indiferente à vasta simbologia usada na redação de Ap12, 1-17 poderia incorrer numa série de equívocos. O texto indicado resulta de um contexto de alta opressão imposta pelo Império Romano às comunidades judaico-cristãs. Há um confronto entre forças desproporcionais em que as comunidades cristãs ocupam o lugar do mais frágil. Como manter viva a esperança cristã? Como encorajar as comunidades, ajudando-as a perseverar, a resistirem na construção de uma realidade nova? Penso ser esse dinamismo que o autor estaria retratando através de uma série de paradoxos. A figura da mulher grávida é bastante significativa: a dor que ora parece atestar a fragilidade da mulher é prelúdio de vida nova, garantia da sua prole, causa de grande alegria. Feliz imagem da Igreja, peregrina nos bastidores da história, disposta a aderir ao projeto de Jesus porque nutre a confiança que o Senhor não lhe será desfavorável, ainda que essa adesão possa implicar em dor. Concordo com o autor quando afirma que secundariamente esse texto bíblico pode ser estendido a Maria; não só pelo fato de ser ela a mãe de Jesus, mas especialmente pelos gestos que cultivou ao acolher favorável o apelo de Deus. Ao voltar-se sobre sua maternidade, Maria não se vangloria, mas proclama a grandeza do Senhor, sensível aos pequenos, juiz em favor dos pobres e humilhados.
Muito boa a materia. Maria é a nossa mae, mae da Igreja e muitos nao acreditam nisto. gostaria de te add no meu blog. como faço?
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