quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Oração a Maria, caminheira na fé

Ó Maria,
Voltamos nosso olhar e nosso coração para Ti.
E te contemplamos hoje, cheia de luz e revestida pela Graça vencedora de Deus.
Tu, a primeira ressuscitada, em quem se realizou de forma maravilhosa e antecipada,
a promessa e o sonho de Deus para todo ser humano.
Antes de seres tecida no útero de Sant’Ana, o Senhor te conheceu e te consagrou.
Ao longo de tua vida renovaste o compromisso com Deus,
o “Sim” que em determinado momento brotou de teu coração e de teus lábios.

Tu, peregrina nas estradas empoeiradas, sinuosas e arriscadas da existência humana.
Provaste os riscos dos falsos atalhos e dos des-caminhos,
as tentações de toda sorte, até aquela de acomodar-se na mediocridade.
Nós te vemos em Nazaré, companheira de José, mãe e educadora de Jesus.
Ensinaste o filho de Deus encarnado a ser homem.

Pelas tuas mãos e as de José, Jesus se educou e se fez pessoa.
Aprendeu a falar e a ouvir, desenvolveu atitudes e hábitos,
estruturou valores que marcaram sua vida.
Conheceu seus limites e sentiu as infinitas possibilidades da liberdade.
Tu, jardineira sensível, plantaste na terra fértil de Jesus as sementes do Bem.

Mas tua vida não se encerrou na tarefa de mãe e educadora.
As águas do Jordão marcaram o nascimento público de Jesus,
como o corte dolorido e necessário de um segundo cordão umbilical.
Foste surpreendida (ou talvez não) pelo homem adulto, dono de seu destino,
Pois parece que toda mãe vê no filho a sempre criança que um dia embalou nos braços.

Jesus percorre vilas e aldeias falando do Pai e do Reino.
Chama homens e mulheres para compartilhar com ele sonhos e tarefas.
Aprendizes na arte de viver, suas escolas são povoados, estradas, lagos e montanhas.
Agora, és uma discípula. Teu papel de mãe se modifica, parece eclipsar-se.

O Mestre olha com compaixão para a multidão
sem perspectiva, doente, abandonada.
Com o olhar recriador do Pai, vê mais do que miséria e perdição.
Descobre e suscita oportunidades salvadoras, abre portas e janelas de luz.
Animado pelo sonho do “Reino de Deus”, Jesus põe em marcha um “momento novo”.

E teu coração vibra, contagiado de emoção.
Acompanhas Jesus, que encanta as multidões com as parábolas,
surpreende os poderosos com palavras simples e sábias
e desconcerta os donos de uma religião sem coração.
Vês com alegria como as mãos do menino que tu seguraste
estão livres para curar, abençoar, acolher e libertar.

Jesus come e faz festa com os pecadores, as prostitutas, os “sem esperança”.
Aquela grande mesa de pão e inclusão é para ti extensão de Belém e de Nazaré,
a casa de nova família da humanidade, para além dos laços sanguíneos.
Teus olhos acompanham Jesus, quando muitas vezes ele se retira ao monte,
para falar e ouvir o Pai na intimidade.
Tu rezas por ele e com ele.

As forças do mal tramam contra Jesus,
e na tua intuição já pressentes o que lhe espera:
sofrimento, traição, fracasso, dor de perda, morte.
Ao pé da cruz, a fidelidade de um amor à toda prova.
Ao terceiro dia, a surpreendente experiência da vida que vence a morte.

Não sabemos se Jesus ressuscitado apareceu diante de ti. Talvez não precisasse.
Tua fé já tinha chegado a nível tal, que o sinal não é mais necessário.
Tornou-se confiança radical, entrega e sintonia.
Um dia, tua peregrinação terrestre também terminou.
Ao celebrarmos tua “Assunção”, professamos cheios de alegria,
Que o Senhor assumiu e transformou toda tua pessoa e tua existência,
até a corporeidade;
Ele que “faz novas todas as coisas”.

Olha para nós.
Tu conheces cada um de nós, como conhecias Jesus pelo cheiro e pelo olhar.
Fortalece-nos, pois recebemos tanto e correspondemos pouco à Graça do Senhor.
Dá-nos um espírito humilde e renovado
para sermos discípulos e anunciadores de Jesus.
Que recriemos a simplicidade e o encanto de Belém,
o espírito de família e o aconchego de Nazaré,
a força do Espírito que nos unge no Cenáculo,
a coragem e a presença pública de Jerusalém.
Queremos ser “todo de Deus” e para Ele.
Recebe nossas palavras, nossos gestos, nossas ações e nossos desejos. Amém.

Texto: Ir. Afonso Murad
Imagem: Frei Anderson, msc

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