sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Maria com cuidado

Há 25 anos leciono Comunicação Religiosa. Isso não me faz mais sábio nem mais culto do que outros padres e bispos. Apenas me autoriza a sugerir expressões e linguagem que cheguem com mais clareza ao povo de Deus. Já errei usando termos confusos, mesmo depois de padre e mesmo lecionando Comunicação. Ninguém é tão perfeito que não cometa alguma imperfeição ao falar ou escrever. Por isso digo aos meus alunos que falem de Cristo e de Maria com cuidadosa escolha de palavras. Se tiverem o que dizer, digam com clareza. Sim, a Igreja ensina isso! Não, a Igreja não diz isso! Um deles escrevera que Maria é santíssima porque é mãe da SSma. Trindade e veio debater comigo. Desafiei-o a me mostrar uma só passagem da Bíblia ou dos documentos da Igreja, onde Maria é chamada de Mãe da Santíssima Trindade. Não achou.

Na minha juventude já fui corrigido algumas vezes ao falar de Maria. Era presidente da congregação mariana e minha devoção era tanta que, no meu entusiasmo dizia coisas que a Igreja jamais diria. Diga-se de passagem que também lia alguns textos marianos nada serenos. Davam ao terço tanta garantia que praticamente não sobrava mais nada nem ninguém para Jesus Cristo salvar... A vinda do Concílio Vaticano II foi me abrindo os olhos. A essas alturas já era sacerdote. Lá, descobri a fundamentação dos muitos títulos dados a Maria. Mais tarde em Puebla o discurso ficou ainda mais direto. Os documentos dos papas nesses últimos 40 anos também me ajudaram a pensar em Maria com o máximo de cuidado. Tenho tentado dizer isso aos pregadores quando sou perguntado sobre Maria: “ Não ousemos ir mais longe do que a Igreja foi”.

Quando escrevi a canção Senhora e Rainha, onde acentuo que Maria “ “não é deusa nem mais do que Deus, mas depois de Jesus ninguém foi maior do que ela neste mundo” estava traduzindo o Concilio Vaticano II, que diz isso com toda a clareza. Para nós católicos ela é verdadeira mãe de Deus e é membro super-eminente da Igreja. É modelo de quem quer seguir Jesus. Há tanto o que dizer em favor de Maria que nos faltam palavras também sobre ela, da mesma forma que faltam quando falamos do seu Filho que é maior do que ela, porque Jesus Cristo é Deus e ela não é.

Continuo ouvindo em algumas pregações de rádio e de televisão que Maria é mãe da SSma. Trindade. Tenho dito a quem usa tal expressão que tome cuidado ao dizê-la, porque não é clara. Maria é mãe do Filho de Deus, e por isso a chamamos de Mãe de Deus. Mas a Igreja nunca disse que ela é mãe do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mãe da Trindade ela não é. Podemos chamá-la de Nossa Senhora da SSma Trindade porque ela é filha, é mãe e é esposa, mas não das três pessoas. Não é esposa do Filho, nem é mãe do Espírito Santo, nem do Pai. É filha do Pai, mãe do Filho de Deus encarnado e esposa do Espírito Santo. As palavras são pequenas demais para dizer da relação de Deus conosco. Com Maria, que foi geratriz do Verbo encarnado, faltam-nos os adjetivos. Afirmamos que desde todo o sempre o Pai gera o Filho, mas Maria não é mãe do Filho de Deus desde todo o sempre. Ela não existiu desde toda a eternidade. Quando o Filho de Deus se encarnou, aqui, neste mundo, ela foi a mãe dele; mas não antes. Por isso, as palavras “Mãe da Trindade” podem confundir. É melhor explicá-las. Sem explicação leva muita gente a dizer que Maria é mãe das três pessoas da Trindade. E ela não é .

Quando alguém entra em debate comigo sobre este tema, peço para reler a frase que ele disse. Depois mostro mais de 200 passagens com os títulos dados a Maria. Nunca a Igreja diz que ela é mãe da três pessoas da SSma. Trindade. Nem poderia! No ventre dela quem esteve foi o Filho de Deus encarnado. Mas como Jesus diz que Ele e o Pai são um (Jo 10,30) é claro que Maria, ao carregar seu Filho no ventre, carregou o mistério que ele trazia. Nem assim Igreja diz que ela gerou a Ssma. Trindade. Isso, a Igreja não diz. É por isso que a Igreja pede no número 158 que se evitem os falsos exageros ou as estreitezas. Meu conselho aos amigos e alunos é que tomemos cuidado ao proclamar a grandeza da humilde Maria. Nossas frases precisam ser claras e não devem deixar margem a dúvidas.

Neste mundo ninguém melhor do que ela assumiu o mistério da Ssma.Trindade em sua vida, porque ninguém esteve tão intimamente ligado ao Filho de Deus quanto ela. Mas havia limites e Maria sabia disso! Ela continuou a vida inteira “ serva do Senhor”, mesmo sendo mãe do Filho de Deus. E é isso que faz Maria tão especial e tão digna de nossos elogios. Imagino que ela seja a mais interessada em que não a louvemos acima do que ela foi e é.

Texto: Padre Zezinho, SCJ.

4 comentários:

João Batista da Costa Coelho, Ista disse...

Ao relatar os varios nomes instituida a Mae de jesus , as pessoas ao relatar aos varios nomes instituidos a mãe de Jesus as pessoas confunde e questiona sobre o agir de maria na historia . Dentro desta realidade devemos conscientizar os cristaos seja na pastoral, na familia etc... que o papel de Maria que esta dentro do contexto historico de Jesus, ela em fidelidade com a continuidade da missao de seu Filho.

Hélio Correia Maia disse...

Olhar a pessoa de Maria a partir dos escritos bíblicos, mostra que as vezes corremos os risco de dar a Maria um lugar que na escritura ela não tem. Maria estar na história da salvação a partir de Jesus.

Anônimo disse...

também sou devoto de maria,vejo maria como mãe de jesus e não como mãe de Deus.Se a sim fosse,Deus não seria incriado e sim criado e maria incriada.Devemos dar a maria o mérito que ela merece, e com certeza ela estar acima de qualquer qualificação humana,mais não a cima de Deus de quem é serva, e aí, está a sua grandeza.

Diego souza disse...

também sou devoto de maria,vejo maria como mãe de jesus e não como mãe de Deus.Se a sim fosse,Deus não seria incriado e sim criado e maria incriada.Devemos dar a maria o mérito que ela merece, e com certeza ela estar acima de qualquer qualificação humana,mais não a cima de Deus de quem é serva, e aí, está a sua grandeza.