Seu nome é “Maria das Dores”.
Amigos e parentes a chamam carinhosamente de “Dozinha”. Ela se casou com aquele
que acreditava ser o homem de sua vida. O marido era infiel e dependente de
bebida. Depois de alguns anos, deixou-a sozinha, com três crianças para criar.
“E a vida foi uma luta só”, conta Dozinha. Sem desanimar, ela aprendeu a ser
pai e mãe ao mesmo tempo. E o tempo passou. Os filhos crescerem. Ela tinha uma
especial afeição por Rodrigo, o filho mais novo, que era carinhoso com ela.
Numa trágica sexta-feira,
Rodrigo chegou em casa tarde. Comeu rapidamente, deu-lhe um beijo e disse que
ia sair com os amigos. Seu coração de mãe sentiu um aperto. Veio uma dor forte,
intensa, como nunca tinha acontecido. Dozinha começou a rezar umas Ave-Marias. Escutou então uns estampidos
de tiros. Logo chegou a vizinha e lhe disse: “Seu filho foi baleado”. Dozinha
correu, rezando e chorando. Encontrou o filho ensanguentado. Segurou-o nos
braços, já sem vida.
A morte do filho provocou uma
profunda crise de fé em Dozinha. Primeiro, ela se sentiu anestesiada. Depois,
veio a grande sensação de perda, sem volta. Ela começou a clamar, a brigar com
Deus. Sua longa vida de cristã, com muitas certezas, parecia ter se dissolvido.
Então, lembrou-se da mãe de Jesus. Imaginou a sua dor na hora da cruz, o abandono
que ela viveu. E pensou: “Nossa Senhora me entende”. Assim, Dozinha passou a
rezar para que Maria lhe desse a força para “sair do túmulo” e viver novamente.
“A vida de Maria não acabou na sexta-feira da
paixão. A minha também não vai terminar desse jeito”. Ao olhar para Maria,
Dozinha vê a mulher forte, que não cedeu diante da dor e do sofrimento.
Enfrentou-os com a cabeça erguida. Maria se tornou a mãe que lhe dá colo, a
amiga entre as amigas. “As coisas ainda não estão resolvidas, mas fiz as pazes
com Deus”.
A devoção popular desenvolveu
o título de “Nossa Senhora das Dores”. Ele não pode ser uma forma de justificar
as injustiças. Ou de manter a resignação diante da dor. Ao contrário. Maria se
mostra como a mulher forte, que enfrenta com energia as adversidades, junto com
José e com Jesus. Os evangelhos nos falam destas dificuldades, como a matança
das crianças inocentes, a fuga para o Egito, a vida em terra estrangeira, a
perda do menino no templo. E, para terminar, a dor na hora da cruz.
A partir de Jesus, nos
sentimos solidários com todos os homens e mulheres que padecem. Afirmamos que
Jesus é nossa esperança, o vencedor. Maria testemunha esta vitória de Cristo e
nos acompanha como mãe amorosa. Como faz com Dozinha e tantas outras pessoas.
Mãe das Dores, rogai por nós!
Texto: Afonso Murad - Publicado no Folheto ODomingo
Imagem: Sieger Koder
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