A ação e a palavra de Maria (v.5): É comum no quarto evangelho que haja momentos de impasse e “mal entendido” entre Jesus e seus interlocutores. Enquanto eles estão num nível de compreensão superficial, de “baixo”, Jesus fala das realidades “do alto”, mais profundas e além das aparências. É preciso dar um salto de fé, para passar de um nível ao outro. Às vezes, há discussões longas, com vários mal entendidos Assim acontece, por exemplo, nos diálogos com Nicodemos e com a Samaritana (Jo 3,1-12 e Jo 4,6-27), ou na conversa com a multidão, sobre o pão da vida (Jo 6,26-58). Jesus fala em nascer de novo e Nicodemos entende de forma literal, como se alguém tivesse que voltar ao útero materno. Jesus anuncia a água viva à Samaritana, e ela pensa na água do poço. Jesus fala do pão como “minha carne” e eles se escandalizam.
Ao contrário dos outros interlocutores, Maria rapidamente salta para o nível de fé, sem discutir com Jesus. Entende o que ele quer. Compreende que não se trata somente de resolver um problema de falta de vinho, de atender a uma necessidade concreta. Mas sim, o que este fato vai ajudar as pessoas a conhecerem melhor quem é Jesus e se posicionarem diante dele.
Maria se volta para os serventes: “Façam tudo o que ele lhes disser” (Jo 2,5). Essas palavras têm uma grande força simbólica. Você se recorda da frase de Maria ao final da anunciação, em Lucas: “Eis aqui a servidora do Senhor. Eu desejo que se faça em mim conforme sua palavra” (Lc 1,36). Segundo João, Maria não só realiza a vontade de Deus na sua vida, mas também orienta os outros a fazerem o que Deus lhes pede. Há um deslocamento do foco e uma ampliação de sentido. Da perfeita discípula e seguidora de Jesus, em Lucas, para a pedagoga e guia dos cristãos, em João.
Da água para o vinho (v. 6-10): Jesus faz o primeiro sinal de forma discreta. Nem sequer dá uma benção ou evoca o nome de Deus. Tudo na simplicidade. O bom vinho alegra as pessoas e faz a festa ficar melhor ainda. Mas por que João coloca como primeiro sinal de Jesus a transformação da água em vinho, numa festa de casamento? Porque não uma cura ou expulsão de demônios? O primeiro sinal de Jesus pretende começar a revelar quem ele é para nós. A partir do sinal, entendemos que Jesus é o vinho novo para e existência humana. Ele é capaz de transformar as situações desafiadoras em festa e alegria compartilhadas.
Nas Escrituras Judaicas, o vinho simboliza a felicidade e a abundância que acontecerá para todos, quando o Messias chegar (Ver Os 2,23s e 14,8; Am 9,13s; Is 25,6 e 62,5; Jr 31,12; Zc 9,17). No livro do Cântico dos Cânticos, o vinho lembra o desejo entre o homem e a mulher, o amor que os fascina e os une, uma imagem do grande amor de Deus pelo seu povo (Ct 1,2-4; 2,4; 4,10). Com o sinal do vinho, Jesus está dizendo que ele é o vinho novo, que o dia do Messias está chegando. Começou o tempo da graça, superando as situações de miséria e tristeza.
Cada detalhe do relato tem um sentido simbólico. As seis vasilhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, aludem ao número da imperfeição, da finitude humana (o seis), à frieza e dureza da lei judaica, que será superada com Jesus. O chefe da festa não sabe da origem do vinho, como os chefes judaicos não conhecem que Jesus vem do Pai. Somente os que servem sabem! As talhas são enchidas até a borda, e têm muito vinho, quase 700 litros. Isso significa que Deus nos oferece seus bens em abundância. Quem está com Jesus tem vida sobrando. Jesus é o bom vinho, guardado até o momento do início da manifestação dos sinais. Com ele, começa o tempo novo, que os evangelhos sinóticos chamam de “Reino de Deus”.
O sinal de Caná e a fé (v.11): Qual é o resultado da ação de Jesus, devido à intervenção de Maria? João nos diz que Jesus “manifestou sua glória e seus discípulos creram nele”. Jesus começa a mostrar quem ele é: não somente o carpinteiro de Nazaré, mas uma pessoa que comunica vida e alegria, como Filho de Deus. A glória para Jesus não é o poder e a fama mundanos, mas a capacidade de realizar o bem e tornar Deus conhecido e amado.
Os sinais de Jesus são uma ocasião para os discípulos exercitarem sua fé. Quem crê, vê além do sinal. O sinal não força ninguém a acreditar, só abre a porta do coração para a fé (Jo 2,11.23; 3,3, 4,54). Jesus mesmo não gosta das pessoas que só acreditam quando vêem sinais. Ele até desconfia desse tipo de fé que necessita sempre de sinais (Jo 2,23s). Jesus não gosta das pessoas que buscam milagres só para resolverem seus problemas pessoais (Jo 6,26). À medida que avança a missão de Jesus, os sinais também se mostram polêmicos.O último sinal de Jesus, que é trazer Lázaro de volta a essa vida, causa divisão entre os judeus. Uns acreditam nele, outros não (Jo 12,37), e alguns se posicionam de forma violenta, organizando-se para matá-lo (Jo 11,45-54). Portanto, os sinais são uma oportunidade para a fé, não uma prova miraculosa. Eles interpelam as pessoas. E o primeiro sinal, o de Caná, abre caminho para os discípulos entrarem na aventura da fé.
O sinal que unifica (v.12) : Depois que Jesus faz seu sinal, o discípulos crêem nele e saem juntos, com “sua mãe e seus irmãos”. O sinal de Caná une o grupo dos seguidores de Jesus em torno a ele. A partir do gesto de Caná começa a se formar o gérmen da comunidade cristã, com os discípulos, os familiares e a mãe de Jesus.
Fonte: A.Murad, Maria Toda de Deus e tão humana. Paulinas.
Imagem da Internet
15 comentários:
Murad, Jesus é mesmo o vinho novo da nossa vida. Grande abraço para você. Irmã Patrícia.
“Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3b)
Com essa frase, Maria, com sensibilidade e intervenção discreta, faz ver a necessidade das pessoas. Ela apresenta um problema a Jesus: “Eles não têm mais vinho”. A falta de vinho simboliza a falta de alegria, o fim da festa. E Jesus responde: minha hora ainda não chegou. Mas Maria confia e não fica desamparada. “Façam tudo o que ele vos disser”. Neste sentido, Maria torna-se pedagoga da fé, pois estimula os servos/amigos de Jesus a realizar sua vontade. Deste modo, é objetivo do Evangelho das Bodas de Caná mostrar quem é Jesus e suscitar nos discípulos à fé.
Estrutura da Narrativa do Milagre:
1- Conta-se o fato: eles não têm mais vinho
2- Os presentes espantam-se: Transformação da água em vinho.
3- Proclamação da fé: Fé em Jesus.
4- Adesão: O leitor (os discípulos).
Cada vez, que participo das aulas de Mariologia, meu carinho e admiração pela Mãe cresce cada vez mais. Sempre gostei de falar sobre Maria, agora mais ainda com esses verdadeiros ensinamentos. Maria, Mulher contemplada pelo Espírito Santo interceda por nós em nossa caminhada para que um dia possamos face a face nos encontrar junto do Amor do seu Filho nosso Senhor Jesus Cristo.
O sinal deixado para nós nas Bodas de Caná vem reafirmar o quanto Maria tinha a percepção em estar atenta às necessidades das pessoas, ou até mesmo da festa que aí estava sendo realizada, pois Maria não pediu simplesmente para realizar o sinal e sim para que aquela confraternização de amor e de alegria pudesse ter prosseguimento.
Para que nós possamos, a exemplo de Maria, perceber sempre as necessidades dos nossos irmãos e irmãs, e assim, no seu di-a-dia nunca falte o vinho novo que é Jesus Cristo, desta forma sejam sempre participantes da festa que um dia iremos todos nós ser participantes, que é da Vida Plena em Jesus Cristo.
O ato de encher as talhas até a boca vem nos possibilitar a reflexão que Deus nos dar seus bens em abundância, ou seja, com muita fartura. Este milagre nos transforma como seguidores de Jesus, pois somente vendo para crer.
O triste desta compreensão o triste desta realidade é que temos que ser igual a São Tomé. Só acreditamos a partir de uma realidade visível, palpável. Jesus nos mostra as formas, caminhos e atitudes, mas sem um sinal não é possível seguir. Mas a lição que este Evangelho que nos dar é o sinal da possibilita seguir o grande caminho da fé.
Maria em Caná (Jo 2, 1-12)
O fato ocorre em uma festa de casamento na cidade de Canã. Estando Maria trabalhando com as mulheres no interior da casa, a Mãe de Jesus percebe que o vinho da festa havia terminado. Maria sente o que isso poderia significar para o casal. O coração de Maria está cheio de compaixão. Ela vai até a frente da casa, onde está os homens reunidos, e chama a atenção de Jesus para a situação dos noivos: Não tem mais vinho, responde Jesus, Mulher, que temos nós com isso? Minha hora ainda não chegou.
De início, se pode pensar que Jesus recusou a fazer qualquer coisa imediatamente, negando assim o pedido a Mãe. Mas, Maria não entende assim. Diz aos servos: Façam tudo o que ele vos disser. E, em seguida Jesus re-estabelece a alegria dos noivos e dos convidados.
Gostaria de enfatizar algumas palavras sobre este artigo. A simplicidade de Jesus e a sensibilidade de Maria. Maria foi tão gentil ao perceber a necessidade que a cercava com a ausência do vinho. Com isso pode ser ler uma Maria que também serve mostrando o seu filho uma necessidade. O interessante que utiliza uma água que seria para purificar. Transformando em vinho fez um vinho purificador. Jesus revela a inteligência que traz de Deus. O ato de purificar é bem claro que alguém comenta: “deixou o melhor para o final”. Quem bebesse do vinho teria uma vida limpa. É um belo texto e nos mostra também a questão de ajuda e da insistência por uma transformação. Jesus mostrou um sinal e nós como podemos mostrar algo de prático para transformar a nossa realidade?
Gostaria de enfatizar algumas palavras sobre este artigo. A simplicidade de Jesus e a sensibilidade de Maria. Maria foi tão gentil ao perceber a necessidade que a cercava com a ausência do vinho. Com isso pode ser ler uma Maria que também serve mostrando o seu filho uma necessidade. O interessante que utiliza uma água que seria para purificar. Transformando em vinho fez um vinho purificador. Jesus revela a inteligência que traz de Deus. O ato de purificar é bem claro que alguém comenta: “deixou o melhor para o final”. Quem bebesse do vinho teria uma vida limpa. É um belo texto e nos mostra também a questão de ajuda e da insistência por uma transformação. Jesus mostrou um sinal e nós como podemos mostrar algo de prático para transformar a nossa realidade?
Por que nao:)
Entre outras coisas, gostaria de iniciar esse meu comentário enfatizando que ser simples é uma conquista e ser humilde não é ser “coitadinho” – isso é complexo – humildade é ter consciência do que é e conhecer suas qualidades. Esse pequeno comentário sintetiza o que senti ao ler esse artigo sobre o sinal de Jesus na festa de casamento em Cana da Galileia. Ali transparece a grande humildade de Maria, sua sutileza e sensibilidade para com o próximo. É uma intervenção discreta, mas que tem um grande efeito: ela faz com que Jesus veja a necessidade das pessoas, e com o resultado do sinal, que as pessoas creiam em Jesus!
É muito bonito perceber o papel de Maria nessa narração: ela diz para que façam tudo que Jesus disser. Assume assim, o papel de pedagoga dos “diáconos” e estimula que outros se tornem discípulos de seu filho.
Maria nos ensina uma grande lição nessa passagem: a de exercitar a liderança e o poder contando com a participação das pessoas, levando-as a crerem em Jesus e estimulando, com isso, a união e reunião em torno do mestre!
A percepção da realidade em que a comunidade João relata aos olhos de Maria, "eles não tem vinho", não há Jesus ressuscitado na comunidade, estão todos desanimados, tristes, sem motivos para se alegrarem... Maria indica o caminho da felicidade "façam tudo que ele vos disser"... Tenham os ouvidos abertos para a ouvirem o que Jesus vos fala, Maria é a pedagoga da escuta.
Ir. Renê Ramon Ferreira FMS. ISTA, GESTÃO PASTORAL.
ISTA
neste pasagem, o que nos quer mostrar é até que ponto nossa vida está dentro dos parametros de ser um bom vinho, ou será que já viramos vinagre com nossos modelos de pensamentos.
René Vera
O evangelista João nos apresenta Maria como uma figura feminina da Igreja, que estimula os servos-amigos de Jesus a realizar sua vontade.
Em bodas de Caná (Jo 2, 1-12), Maria discípula de Jesus nos ensina a sermos discípulos dele. Ela como pedagoga da fé nos aponta o caminho que é o da realização da sua vontade.
Que Maria nos ensine a perseverarmos no discipulado de Jesus, sendo para os irmãos vinho novo.
Nas bodas de Caná vemos a importãncia da mulher na vida da comunidade de João. Jesus a chama de mulher, que era mais importante que chamá-la de mãe. A mulher, a mãe de Jesus, é sua conselheira, sua orientadora, aquela que aponta caminhos para o seu Filho. Mas não é só isso ainda, ela nos mostra que é preciso ter resistência, é preciso esperar: "minha hora ainda não chegou". Mas ela espera, tem fé suficietne para vencer os obstáculos da vida. Ela confia: "façam tudo o que ele lhes disser". Além de confiar, anima aos outros a também, confiar. Maria pede a todos nós hoje: confiem no meu Filho e verás o verdadeiro sabor do vinho que bebes...
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