Vinicius de Morais dizia que “a vida é a arte do encontro,
embora haja muitos desencontros pela vida”. Na existência humana é assim: por
mais que se cultive a sintonia, o entendimento, a reciprocidade, há momentos em
que as diferenças aparecem e surgem os conflitos. Também essas ocasiões são
oportunidades de crescimento.
Lucas narra uma cena com Jesus adolescente, aos 12 anos (Lc
2,41-50). Quando alcançava essa idade, o homem era assumido como membro do povo
de Israel. Deixava de ser uma criança. Maria e José estão voltando da peregrinação ao templo de
Jerusalém. Depois de um dia de caminhada, percebem que o menino não está no
meio do grupo, nem entre os parentes e conhecidos. Voltam então ao templo, e três
dias depois encontram Jesus. Ele ouvia, questionava e discutia com os
“doutores”, nome dado aos que interpretavam as Sagradas Escrituras judaicas. A
consciência messiânica irrompe neste adolescente inquieto, com impressionante
vigor. Depois, serão muito anos de silêncio, em Nazaré, até que Jesus inicie
sua missão (Mc 1,15).
Seus pais, ao verem tal cena, se surpreendem e ficam
emocionados. Maria desempenha o papel que cabe a pais e educadores. Isso implica
por limites, advertir, corrigir: “Meu filho, por que você fez isso conosco?
Estávamos angustiados, à sua procura!”(v.48). Jesus responde de forma
surpreendente, dizendo que ele deve estar na casa do Pai. E eles não entendem o
que Jesus lhes diz. Precisavam ainda caminhar na fé, para compreender muitas
coisas que Jesus dirá e fará, quando anunciar o Evangelho.
Então, eles voltam para casa. E, como acontecia naquele
tempo (hoje não é bem assim), Jesus obedecia aos seus pais. E nesta vida
simples, junto com seu povo, Jesus ia crescendo “em sabedoria, em estatura e
graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Quanto à Maria e à José, eles
também evoluíam, aprendendo e ensinando, em uma convivência amorosa e calorosa.
E possivelmente aconteceram outras crises. Simeão havia profetizado: “Uma
espada atravessará sua alma” (Lc 2,15). A dor na hora da cruz foi a mais
evidente, mas outras também aconteceram.
Lucas repete a mesma expressão que usou na cena do
nascimento: “Maria guardava estes fatos, meditando-os no seu coração” (Lc
2,19.51). Isso significa que Maria aprende com os fatos, estabelece a ligação
entre eles, cresce na compreensão. A fé é sempre aposta em Deus, acreditar nas
suas promessas, caminhar na esperança, em meio a luzes e sombras.
Que Maria nos ensine a bem educar as novas gerações, a
aprender com os acontecimentos, a crescer no amor e na fé, nos encontros e
desencontros da vida.
Afonso Murad - Publicado no Folheto O Domingo.
Imagem: Perda no templo - Versão Africana de jesusmafa.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário