sábado, 24 de junho de 2017

Aprender dos Encontros e desencontros

Vinicius de Morais dizia que “a vida é a arte do encontro, embora haja muitos desencontros pela vida”. Na existência humana é assim: por mais que se cultive a sintonia, o entendimento, a reciprocidade, há momentos em que as diferenças aparecem e surgem os conflitos. Também essas ocasiões são oportunidades de crescimento.

Lucas narra uma cena com Jesus adolescente, aos 12 anos (Lc 2,41-50). Quando alcançava essa idade, o homem era assumido como membro do povo de Israel. Deixava de ser uma criança. Maria e José  estão voltando da peregrinação ao templo de Jerusalém. Depois de um dia de caminhada, percebem que o menino não está no meio do grupo, nem entre os parentes e conhecidos. Voltam então ao templo, e três dias depois encontram Jesus. Ele ouvia, questionava e discutia com os “doutores”, nome dado aos que interpretavam as Sagradas Escrituras judaicas. A consciência messiânica irrompe neste adolescente inquieto, com impressionante vigor. Depois, serão muito anos de silêncio, em Nazaré, até que Jesus inicie sua missão (Mc 1,15).

Seus pais, ao verem tal cena, se surpreendem e ficam emocionados. Maria desempenha o papel que cabe a pais e educadores. Isso implica por limites, advertir, corrigir: “Meu filho, por que você fez isso conosco? Estávamos angustiados, à sua procura!”(v.48). Jesus responde de forma surpreendente, dizendo que ele deve estar na casa do Pai. E eles não entendem o que Jesus lhes diz. Precisavam ainda caminhar na fé, para compreender muitas coisas que Jesus dirá e fará, quando anunciar o Evangelho.

Então, eles voltam para casa. E, como acontecia naquele tempo (hoje não é bem assim), Jesus obedecia aos seus pais. E nesta vida simples, junto com seu povo, Jesus ia crescendo “em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Quanto à Maria e à José, eles também evoluíam, aprendendo e ensinando, em uma convivência amorosa e calorosa. E possivelmente aconteceram outras crises. Simeão havia profetizado: “Uma espada atravessará sua alma” (Lc 2,15). A dor na hora da cruz foi a mais evidente, mas outras também aconteceram.
Lucas repete a mesma expressão que usou na cena do nascimento: “Maria guardava estes fatos, meditando-os no seu coração” (Lc 2,19.51). Isso significa que Maria aprende com os fatos, estabelece a ligação entre eles, cresce na compreensão. A fé é sempre aposta em Deus, acreditar nas suas promessas, caminhar na esperança, em meio a luzes e sombras.


Que Maria nos ensine a bem educar as novas gerações, a aprender com os acontecimentos, a crescer no amor e na fé, nos encontros e desencontros da vida.

Afonso Murad - Publicado no Folheto O Domingo.
Imagem: Perda no templo - Versão Africana de jesusmafa.com 

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