Papa Francisco aponta sete características da paternidade de
José de Nazaré, chamado de “São José” pelos cristãos das Igrejas católica e
ortodoxa. Resumo da Carta Apostólica “Com coração de Pai”.
17
de Março
Com coração de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como «o
filho de José». Os dois evangelistas que puseram em relevo a sua figura, Mateus
e Lucas, narram pouco, mas o suficiente para fazer compreender o género de pai
que era e a missão que Deus lhe confiou.
(1) Um amado Pai
A grandeza de São José consiste no fato de ter
sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. Por seu papel na história da salvação,
São José é um pai amado pelo povo cristão. A ele foram dedicadas numerosas
igrejas por todo o mundo; muitos institutos religiosos, confrarias e grupos
eclesiais se inspiram na sua espiritualidade e adotam o seu nome.
A confiança do povo em São
José está contida na expressão «vão a José», que faz referência ao período de
carestia no Egito, quando o povo pedia pão ao Faraó e ele respondia: «Ide ter
com José; fazei o que ele vos disser» (Gn 41, 55). Tratava-se de José, filho de
Jacob, que acabara vendido, vítima da inveja dos seus irmãos (Gn 37, 11-28); e
posteriormente tornou-se vice-rei do Egito (Gn 41, 41-44).
Enquanto descendente de David
(Mt 1, 16.20) e como esposo de Maria de Nazaré, São José constitui a dobradiça
que une o Antigo e o Novo Testamento.
2. Pai na ternura
Dia após dia, José via Jesus
crescer «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc
2, 52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar,
segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu
rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (Os 11, 3-4).
Jesus viu a ternura de Deus
em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos
que O temem» (Sal 103, 13). Com certeza, José terá ouvido ressoar na sinagoga,
durante a oração dos Salmos, que o Deus de Israel é um Deus de ternura, que é
bom para com todos e «a sua ternura repassa todas as suas obras» (Sal 145, 9).
A história da salvação
realiza-se, «na esperança para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18),
através das nossas fraquezas. Muitas vezes pensamos que Deus conta apenas com a
nossa parte boa e vitoriosa, quando, na verdade, a maior parte dos seus
desígnios se cumpre através e apesar da nossa fraqueza. Se esta é a perspectiva
da economia da salvação, devemos aprender a aceitar, com profunda ternura, a
nossa fraqueza.
A ternura é a melhor forma
para tocar o que há de frágil em nós. Muitas vezes o dedo em riste e o juízo
que fazemos a respeito dos outros são sinal da incapacidade de acolher dentro
de nós mesmos a nossa própria fraqueza, a nossa fragilidade. Só a ternura nos salvará
da obra do Acusador (Ap 12, 10). Deus não nos condena, mas acolhe-nos,
abraça-nos, ampara-nos, perdoa-nos. Apresenta-se sempre como o Pai misericordioso
da parábola (Lc 15, 11-32): vem ao nosso encontro, devolve-nos a dignidade,
levanta-nos, ordena uma festa para nós, dando como motivo que «este meu filho
estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado» (Lc 15, 24).
A vontade de Deus, a sua
história e o seu projeto passam também através da angústia de José. Assim ele
nos ensina que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir
inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza.
No meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de deixar a Deus o timão
da nossa barca. Por vezes queremos controlar tudo, mas o olhar d’Ele vê sempre
mais longe.
3. Pai na obediência
De forma parecida a quanto
fez com Maria, manifestando-Lhe o seu plano de salvação, Deus revelou a José os
seus desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os povos
antigos, eram considerados um dos meios pelos quais o Senhor manifesta a sua
vontade.
Por sua vez, o evangelista
Lucas refere que José enfrentou a longa e incómoda viagem de Nazaré a Belém, devido
à lei do imperador César Augusto relativa ao recenseamento, que impunha a cada
um registar-se na própria cidade de origem. E foi precisamente nesta
circunstância que nasceu Jesus (cf. 2, 1-7), sendo inscrito no registo do
Império, como todos os outros meninos.
Em todas as circunstâncias da
sua vida, José soube pronunciar o seu «fiat» (faça-se!), como Maria na Anunciação
e Jesus no Getsémani. Na sua função de pai de família, José ensinou Jesus a ser
obediente aos pais (Lc 2, 51), segundo o mandamento de Deus (Ex 20, 12).
Ao longo da vida oculta em
Nazaré, na escola de José (e de Maria), Jesus aprendeu a fazer a vontade do
Pai. Tal vontade torna-se o seu alimento diário (cf. Jo 4, 34). Mesmo no
momento mais difícil da sua vida, vivido no Getsémani, preferiu que se
cumprisse a vontade do Pai, e não a sua, fazendo-Se «obediente até à morte de
cruz» (Flp 2, 8). Por isso, o autor da Carta aos Hebreus conclui que Jesus
«aprendeu a obediência por aquilo que sofreu» (5, 8).
Então, «José foi chamado por
Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício
da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da
Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da
salvação».
3 comentários:
Muito bom. Obrigado
Que bênção! Gratidão pela partilha deste momento de oração e reflexão!
Rogai por nós São José.
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